tag:blogger.com,1999:blog-47129901725790123362024-03-05T02:24:12.099-08:00Terras de HistóriaTerras de História se propõe a ser um espaço para registro e diálogo de questões que tenham o conhecimento histórico como foco central.Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.comBlogger120125tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-74066197933317836132023-06-09T07:11:00.033-07:002023-06-11T05:21:05.437-07:00<p> </p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: large;">Rumo à praia, mas, no rumo certo?</span><o:p></o:p></b></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><o:p> </o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;">Ângelo Emílio da Silva Pessoa (DH-UFPB)</p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;"><o:p><br /></o:p></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="background-color: black; color: #fcff01; font-family: arial;"><o:p><b>Nota:</b> Esse breve artigo foi motivado por um processo que está em andamento na cidade de João Pessoa, de alargamento das praias. Diversos estudiosos das áreas da Geografia, do Urbanismo, da Geologia, da Biologia, do Direito Ambiental, da Sociologia e outras t</o:p><span style="text-indent: 47.2px;">êm alertado de maneira fundamentada e preocupada em relação </span>às <span style="text-indent: 47.2px;">consequ</span><span style="text-indent: 47.2px;">ências danosas do ponto de vista socioambiental que daí podem advir e há uma mobilização popular no sentido de frear os interesses da grande construção civil e da especulação imobiliária, insensíveis a essas </span><span style="text-indent: 47.2px;">consequ</span><span style="text-indent: 47.2px;">ências e focados apenas no lucro imediatista. Essa é uma pequena contribuição a essa discussão.</span></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="text-indent: 47.2px;"> </span> </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Pode parecer surpreendente, mas o hábito de priorizar
as praias como lugares de moradia salubres e com qualidade de vida não é tão
antigo quanto possa parecer. Num instigante trabalho sobre a praia no
imaginário ocidental, o historiador Alain Corbin aponta que até meados do
século XVIII predominava sobre a beira-mar uma percepção de lugar insalubre,
nocivo, cheio de perigos, de malefícios, de decomposição, de assombrações. No
final desse mesmo século, inicialmente na Europa, mas se expandindo no
ocidente, essa visão sobre a praia começou a se modificar e novas
sensibilidades começaram a emergir nesse sentido, atribuindo aos ares marinhos
uma ideia de saúde, de renovação (CORBIN, 1989).</p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHW2ebW4fGDKxMwhRLcEE9lzWgnWUbtgYzsHNEFMG9zxozy5odmFxO9-_9O6Cr-JhR9puoUVJDUKqWlK3WYHK3lB11Jf0AYa6KOSf3R9kDdQVfE9hQ1zXYNWYe4hYG6RTejbW11Jbw1qxmIDI8HAAjwAsjjsPeFqFgDOu4IPKTkWINxDv5X4oKE39e/s709/1926%20Final%20da%20Praia%20Tambau.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="441" data-original-width="709" height="249" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHW2ebW4fGDKxMwhRLcEE9lzWgnWUbtgYzsHNEFMG9zxozy5odmFxO9-_9O6Cr-JhR9puoUVJDUKqWlK3WYHK3lB11Jf0AYa6KOSf3R9kDdQVfE9hQ1zXYNWYe4hYG6RTejbW11Jbw1qxmIDI8HAAjwAsjjsPeFqFgDOu4IPKTkWINxDv5X4oKE39e/w400-h249/1926%20Final%20da%20Praia%20Tambau.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Praia de Tambaú em torno de 1926. A região ainda era lugar de moradia de pescadores, com umas poucas residências de veranistas. Viver frente ao mar ainda não era hábito de nossa população. Autor desconhecido.</span></div><br /><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> Isso não implica que não houvesse populações
residentes às beiras de praias, rios e lagos, essas populações litorâneas e
ribeirinhas se constituíam durante séculos nos segmentos sociais mais
empobrecidos, vistos das maneiras mais desabonadoras pelos detentores do poder
e pelos segmentos mais abastados. No caso do Brasil, um historiador assim
afirma:</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="margin: 18pt 0cm 18pt 4cm; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Durante toda a existência
desses grupos socialmente distintos, principalmente a partir da formação do
estado nacional no século XIX, o senso comum formulou alguns estereótipos um
tanto quanto evasivos, atribuindo-lhes qualificações depreciativas a respeito
das suas formas de sobrevivência [...]. Ancorados no discurso virtualmente
disciplinador e pautados nas regras existenciais de universos diferentes, criaram
imagens de sujeitos, trabalhadores – homens e mulheres – sem nenhum tipo de
ambição, irremediavelmente condicionados a um estilo de vida “desregrado”,
refratário à labuta diária, que priorizam bebedeiras nos bares, a disputa nos
jogos de azar ou que passam a maior parte do tempo espreguiçados nas redes de
balanço, sob a sombra dos coqueirais, historicamente contaminados pelos ventos
da “maresia”; ou melhor, da letargia. (CASTELLUCCI JR. 2016. p. 31/32).</span></p>
<p class="MsoNormalCxSpLast" style="line-height: 150%;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Essa visão é
corroborada por um destacado geógrafo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-weight: bold;">Observa-se na zona
costeira do Brasil, no fim do período colonial, a existência de cidades
portuárias relativamente isoladas que se constituem em centros de uma produção
local ou em pontos terminais de sistemas produtivos específicos do interior.
[...] De resto, vastas extensões do litoral permanecem isoladas ou pouco
ocupadas. Estas serão tradicionalmente áreas de refúgio de tribos indígenas e
de escravos fugidos, que acabam por instalar pequenas comunidades envoltas em
gêneros de vida rudimentares, voltados para o autoconsumo. Estas vão ser as
origens das populações litorâneas “tradicionais” ainda hoje presentes em vári<span>a</span>s porções da costa brasileira (MORAES. 1999, p.
34).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small; mso-bidi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpLast" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Dessa forma, tratados como párias, como
indolentes, essas populações que viviam do seu pescado, da mariscagem e de
todas as formas de labuta vistas como degradantes, estavam longe de ser
reconhecidos como sujeitos de seus próprios destinos, especialmente numa ordem
escravista, sendo sobre os mesmos estabelecidos estigmas os mais diversos, a
suspeição constante e os “projetos de civilização” que os queriam reduzir à
condição de mão-de-obra barata e disciplinada. Num <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ensaio Econômico</i> em 1816, o então dublê de Bispo e Economista de
Olinda assim propunha o disciplinamento das populações indígenas e parte das
africanas: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>§ XII – </span><span style="font-weight: normal;">O índio selvagem entre a raça dos homens parece
anfíbio, parece feito para as águas (...): é naturalmente inclinado à pesca,
por necessidade e por gôsto. Esta é a sua paixão dominante e, por conseqüência,
a mola real do seu movimento: é por esta parte que se deve fazer trabalhar a
sua máquina, em benefício comum dêle e de tôda a sociedade.(...) <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>§ XIV – </span><span style="font-weight: normal;">Êste arrebatamento de gosto o irá insensìvelmente
atraindo e convidando a viver e comunicar-se com os homens daquela profissão
[fabricante de redes de pesca], que para êle se representa extraordinária. Esta
comunicação lhe fará ver a diferença do homem selvagem e a do civilizado; pouco
a pouco se irá domesticando, e conhecendo que o homem é capaz de mais e mais
comodidades. (...).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>§ XXII – </span><span style="font-weight: normal;">Os prêtos, aquêles braços feitos mais para um
trabalho contínuo nos meios dos ardores do Sol do que para os frios das águas,
e que até agora serviam na marinhagem como perdidos para a lavoura, irão
aumentar os produtos da agricultura (...).<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoBodyText" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>§ XXII – </span><span style="font-weight: normal;">A agricultura, a pescaria, a marinha, dando as mãos
entre si, elevarão Portugal a uma fôrça e a uma riqueza imensas. A pescaria e a
marinha, ainda que nenhum lucro dessem a Portugal, se deveriam, contudo,
promover por todos os meios possíveis, só porque são o meio de aproveitar
tantos milhares de braços, que, aliás, são perdidos. (COUTINHO, 1966. p.
92-100).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Assim,
vistos por um prisma constantemente desabonador, não custou que essas
populações tivessem sido, via de regra, desconsideradas em relação às suas
expectativas e pontos de vista quando dos grandes processos e planos de
expansão urbana para áreas litorâneas, no momento em que as cidades brasileiras
começaram a migrar para as praias. Desalojadas de seus espaços tradicionais, restou-lhes
buscar áreas com condições ainda mais precárias de moradia e trabalho. Como
atesta o mesmo geógrafo citado acima:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="margin: 18pt 0cm 18pt 4cm; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Tais populações sobrantes
vão alojar-se no espaço urbano litorâneo exatamente nas áreas deixadas sem uso
pelas outras atividades, geralmente áreas de grande vulnerabilidade e/ou
proteção ambiental. No primeiro caso, pode-se lembrar as encostas íngremes e as
zonas sujeitas a inundações, no segundo, as áreas de defesa de mananciais ou os
manguezais. [...]. Enfim, estes amplos e crescentes segmentos marginalizados,
continuamente alimentados pelo fluxo migratório descrito, vão ser responsáveis
por outra das formas predominantes de manifestação da urbanização da zona
costeira no Brasil. Trata-se do processo de favelização que, ao lado (nos dois
sentidos) da segunda residência, vai compor a paisagem das periferias das
grandes aglomerações e capitais litorâneas. Geralmente, as casas de veraneio
ocupando os melhores sítios, e as favelas predominando nas áreas mais
impróprias à ocupação. (MORAES, 1999. p. 40).</span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Antes de avançarmos, cabe uma consideração:
se os primeiros núcleos urbanos do Brasil se situavam em sua maioria nas áreas
litorâneas, isso não significava que fossem cidades exatamente “praianas”. Os
grupos sociais mais abastados buscavam os altos de colinas, os terrenos mais
elevados como forma de evitar a beira-mar ou beira-rio. Conhecendo Rio de
Janeiro, Salvador, Olinda/Recife, que cresceram às vistas do mar, seus núcleos
urbanos mais antigos buscaram esse tipo de terreno mais elevado, deixando para
as áreas especificamente praianas ou ribeirinhas as atividades portuárias e
pesqueiras, habitadas geralmente pelas populações “marginais” daquela
sociedade. Portanto, a busca da beira-mar acabou sendo uma tendência bem mais
recente. Com a mudança das sensibilidades em relação às praias – como apontado
por Corbin – apenas nos finais do século XIX e começo do XX é que essas cidades
efetivamente migraram para as mesmas, como mostram os elegantes bairros de
Botafogo e Copacabana no Rio de Janeiro, ou Boa Viagem, em Recife.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">A velha cidade da Paraíba (hoje dividida
entre os Municípios de João Pessoa, Cabedelo, Lucena, Conde, Bayeux e Santa
Rita), tinha suas atividades produtivas agrícolas de maior porte situadas
principalmente na várzea do Paraíba (onde remanescem testemunhos arquitetônicos
de antigos engenhos e capelas em meio às terras de usinas), a área portuária e
propriamente urbana nos atuais Centro e Varadouro de João Pessoa e pequenos
núcleos de habitação esparsa em regiões de sítios de produção de gêneros
abastecimento local (farinha de mandioca, criação de animais de pequeno porte
etc.) e atividades pesqueiras em áreas que hoje estão englobadas por bairros
mais recentes dessas cidades. A existência de capelas isoladas nesses
territórios e esparsos documentos escritos (lamentando a situação deplorável da
maior parte de nossos acervos) atesta essa “presença invisível”, como podemos
ver numa direção Sul-Norte em relação à comunidade de pescadores da Penha (com
sua Capela de Nossa Senhora da Penha datada de 1753); a antiga e hoje
desaparecida Capela do Coração de Jesus, no Cabo Branco; a Igreja de Nossa
Senhora dos Navegantes, tombada no ano de 1938 pelo IPHAN (Processo 041-T-38),
cujos remanescentes sumiram frente à voragem do crescimento urbano; a Capela de
Santo Antônio, situada em Tambaú, hoje profundamente alterada em relação ao seu
traçado original. Outras capelas, mais ao Norte, se situam no atual Município
de Cabedelo, emancipado de João Pessoa em meados do século XX.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><br /></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-xGJN0TaITLqrQ4qsuIlKsMFd_MVHYxjpMUnj58dHLlu_JCLB87OY7X2PDZ4jepRKojFDuSERQLUxA3D3_hvv69S4fmgK7w49rdtvOSwzOB3hGOoJNqy0V9J7c1eMKkrptqN-fVNhYL7FH-PSU2CBuXM2xt3gZUT5pemvXp6GFoHYoRl3zDty73IR/s903/SESMARIA%20CABO%20BRANCO.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="471" data-original-width="903" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-xGJN0TaITLqrQ4qsuIlKsMFd_MVHYxjpMUnj58dHLlu_JCLB87OY7X2PDZ4jepRKojFDuSERQLUxA3D3_hvv69S4fmgK7w49rdtvOSwzOB3hGOoJNqy0V9J7c1eMKkrptqN-fVNhYL7FH-PSU2CBuXM2xt3gZUT5pemvXp6GFoHYoRl3zDty73IR/w400-h209/SESMARIA%20CABO%20BRANCO.jpg" width="400" /></a></div><div style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Confirmação da Carta de Sesmaria do Cabo Branco, para Francisco de Seixas Machado, em 12 de Agosto de 1773. Nela se menciona que ao sul a mesma confina com o Patrimônio de Nossa Senhora de Penha de França, onde se situa o remanescente da antiga Capela até os dias de hoje. </span></div><br /><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpLast" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Como se vê, por mais apagados que esses
rastros tenham sido, ainda restam testemunhos de sua existência efetiva, como
veremos a partir do relato de um missionário que por aqui esteve em 1839, e
seguiu de Tambaú para a área urbana da antiga Paraíba, por uma rota que sugere
algo próximo do atual traçado da avenida Epitácio Pessoa:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri;">Por volta das 4 horas da tarde contornamos o Cabo
Branco e, portanto, tínhamos Tambaiú, o nosso ponto terminal, a cêrca de uma
légua à nossa frente. Saltando nesse lugar, que fica apenas a seis milhas da
Paraíba, evitámos um percurso de trinta ou quarenta milhas, em tôrno da ponta
do Cabedelo e subindo o sinuoso [rio] Paraíba. Desembarcámos logo e, ao indagar
sobre a possibilidade de obter um animal, informaram-nos que aí se conseguiria
com facilidade até vinte, se preciso fôsse. Todavia, parece que em tôda
povoação só havia um e mesmo assim nem ele nem seu dono se achavam na vila.
[...] Logo depois veio sentar-se ao nosso lado, tomado de curiosidade, talvez,
um rapazola de quatorze ou dezesseis anos [...] Êsse garoto nos disse depois,
que, ao deixar a escola, voltara a atenção para a pescaria. Era o mais moço de
diversos irmãos [...]. Ninguém da família sabia ler: contudo, a julgar pela
casa que ocupavam na praia, parece que estavam em situação igual à de seus
vizinhos. [...] Resolvidos a caminhar até a cidade conosco, nossos companheiros
de viagem se ofereceram para transportar a bagagem, dividindo entre êles o
preço que para isso lhes pagaríamos. [...] a-pesar-de viajarmos por uma estrada
real, fomos diversas vêzes obrigados a vadear cursos d’água. Logo que o caminho
deixou de lado a areia movediça da praia e enveredou pela floresta a dentro,
tornou-se muito agradável, conquanto não passasse de uma tortuosa vereda. (KIDDER,
1972. p. 114/115).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Pelas palavras do
missionário, havia ali uma comunidade de pescadores, no interessante diálogo
com o garoto, que não reproduzimos para não alongar a citação, o mesmo informou
a Kidder que havia freqüentado a Escola no Palácio, mas que nada havia aprendido
ali e não sabia ler nem escrever. Esse parece ser um problema que deita suas raízes
nas noites dos tempos...<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj343CO_PDPLWPRyje0J6MX0Tp8bdbzpflDqcfzrBGeK01YJhohkEUtuuqw8VFL0iAjrEOgOTvYZowXmP5_1HbvCnIZZ1rJgvMk4SNw07EM33yFbSXQIF5AVKLI64O_EuRP-FKWhioERjtNUFCV1-1jtdLKVqtJtA06UjN2MY2a48998wCHeCvbsyGP/s439/CASEBRES%20EPIT%C3%81CIO%201945.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="439" data-original-width="343" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj343CO_PDPLWPRyje0J6MX0Tp8bdbzpflDqcfzrBGeK01YJhohkEUtuuqw8VFL0iAjrEOgOTvYZowXmP5_1HbvCnIZZ1rJgvMk4SNw07EM33yFbSXQIF5AVKLI64O_EuRP-FKWhioERjtNUFCV1-1jtdLKVqtJtA06UjN2MY2a48998wCHeCvbsyGP/w313-h400/CASEBRES%20EPIT%C3%81CIO%201945.jpg" width="313" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Casas de palha na descida da estrada de Tambaú, em torno de 1945, próximas à atual Avenida Epitácio Pessoa. Indicação de George Henrique Vasconcelos Gomes. Quando as praias ainda não eram "áreas nobres", antes que a gentrificação chegasse. Onde foram parar esses praianos?</span></div><br /><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpLast" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um século depois,
o grande historiador e memorialista Coriolano de Medeiros, não deixou de
apontar a região que se dirigia a Tambaú com o mesmo quadro que presenciara em
sua infância e juventude, em finais do século XIX, ressalvada aqui a sua visão
particular sobre os moradores daquelas redondezas:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-weight: bold;">Cruz do Peixe ia
terminar nas matas que ensombravam a estrada de Tambaú, verdadeira floresta,
coito de pretos fugidos e malfeitores que, vez por outra, assaltavam os
transeuntes, arrebatando-lhes quanto conduziam. E a floresta tomava grandes
proporções, especialmente antes do Sobradinho, na Cruz do Caboclo, onde se
bifurcava um caminho para o Cabo Branco. Segundo a tradição, mataram ali um
caboclo foragido da Penha, após o assassinato que praticara para roubar o dono
daquela propriedade. Assim, por longos anos, quem passava no local via, à
margem do caminho, uma cruz de madeira indicando a sepultura do malfeitor. (MEDEIROS,
1994. p. 26).<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p><p class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-weight: bold;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Um tanto diferentemente de Olinda,
Salvador ou Rio de Janeiro, a Paraíba tivera seu primeiro núcleo urbano
bastante distanciado da beira-mar e próximo ao rio Sanhauá, afluente do
Paraíba. O pesquisador Magno Erasto de Araújo, em sua tese sobre a presença de
rocha e água potável para a escolha do sítio urbano que hoje corresponde ao
antigo Centro e Varadouro de João Pessoa, não deixou de apontar que, entre
diversos fatores, os primeiros colonizadores estiveram atentos à presença de
rochas para a construção e de água potável para consumo da população. Desta
forma, após uma série de prospecções, esse sítio acabou sendo considerado o
mais viável para a implantação da cidade (ARAÚJO, 2012). Dessa forma, o núcleo
urbano original mais distanciado da praia do que no caso de outros municípios
litorâneos do Brasil e fez com que a cidade só se direcionasse para Leste
séculos após o seu estabelecimento inicial.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjFT7biGf3KvDDwbYUXdnvOFX_mZ8Ztdanrs6FmCb5o3IkpLjUjPL38yTZLUgunu5FQvdqG5gfbEZNRh-qQoE0BXH8tJUwDKJ78Wsuvk5je9Us1B6cOKdWpYPvb61qRplStp5IdVnT7I6Y304bsTRM0iwP12Nynt-Zx5SxGFkuKfFDFpJzxekCVlSR/s336/Missas%20de%20Natal%201911.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="336" data-original-width="231" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjFT7biGf3KvDDwbYUXdnvOFX_mZ8Ztdanrs6FmCb5o3IkpLjUjPL38yTZLUgunu5FQvdqG5gfbEZNRh-qQoE0BXH8tJUwDKJ78Wsuvk5je9Us1B6cOKdWpYPvb61qRplStp5IdVnT7I6Y304bsTRM0iwP12Nynt-Zx5SxGFkuKfFDFpJzxekCVlSR/w275-h400/Missas%20de%20Natal%201911.jpg" width="275" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Missas de Natal em 1911 em Tambaú e Praia Formosa. Para os poucos veranistas e os moradores locais. Jornal O Norte [23/12/1911]. </span></div><br /><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Isso não significava a inexistência de
ocupações humanas e de atividades econômicas nessas regiões praianas, conforme
já visto, mas sua história é cercada de lacunas e as fontes são mínimas. Mesmo
em relação à população trabalhadora habitante na antiga região central da
cidade, as informações são esparsas e fragmentárias, conforme constatou Regina
Gonçalves (GONÇALVES, 2016). Em relação a outras áreas, especialmente a
litorânea, uns poucos documentos da Câmara da Paraíba, datados das primeiras
décadas do século XIX, nos informam sobre a presença de pontes sofrendo reparos
em Gramame, Mandacaru e Tambaú, por onde circulavam pessoas e mercadorias, como
farinhas, pescados outros gêneros que abasteciam o mercado urbano. Um singelo Mandado
de Despesa Camarário, de 30 de Dezembro de 1814, determinou o pagamento de
30$840 (Trinta mil, oitocentos e quarenta Réis) ao Almotacé Antônio José
Batista pelos reparos feitos na Ponte de Tambaú naquele mesmo ano (Livro de
Mandados de Despesas da Câmara da Paraíba – 1814-1819). Já outro documento,
esse um Oficio da Câmara, datado de 18/10/1828, designa Capitão do Corpo de
Ordenanças da Cidade, no Distrito que vai de Tambiá, Tambaú até Cabedelo o
antigo Alferes Luís d’Oliveira Diniz. Como se vê, a população quase invisível
dessa região mostra um quadro bem mais complexo do que o antigo e um tanto redutor
“Cidade Alta-Cidade Baixa”, que tanto tem marcado as análises sobre a vida da
velha Paraíba, não sendo de toda a forma errado, mas reduzindo a escala da
observação ao restrito núcleo urbano. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><br /></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhfi9ikcpvW0QFyZ3wwww8grmVMRhAIzUuLWGMyX1Y5cw6nbh4gSYiEG9W90cTJJNRkFaviyqjFFthP1DcUwwic71PnZREN-zA67F7h81kQjxr4TbhsfUsrdOMrcxg3McNOdZSngbAhOTFTalyZOJ8jBiI4KO9Rjt1xFRKId80aL_1s7d8GPSHigUA/s3678/CMJP%20LMD%20015v.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3678" data-original-width="2638" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhfi9ikcpvW0QFyZ3wwww8grmVMRhAIzUuLWGMyX1Y5cw6nbh4gSYiEG9W90cTJJNRkFaviyqjFFthP1DcUwwic71PnZREN-zA67F7h81kQjxr4TbhsfUsrdOMrcxg3McNOdZSngbAhOTFTalyZOJ8jBiI4KO9Rjt1xFRKId80aL_1s7d8GPSHigUA/w288-h400/CMJP%20LMD%20015v.jpg" width="288" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Mandado de Pagamento para o conserto da Ponte de Tambaú, em 30 de Dezembro de 1824. Acervo da Câmara Municipal de João Pessoa.</span></div><br /><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">A “corrida para o mar” que muitas cidades
brasileiras iniciaram entre finais do século XIX e começo do XX, impulsionadas
pelas novas concepções em torno de zonas praianas tem no Rio de Janeiro um de
seus exemplos mais ilustrativos, tal como podemos ver em relação à região de
Copacabana, que fora um distante arrabalde até finais do século XIX,
transformando-se rapidamente num bairro densamente povoado e prestigiado, sendo
considerada a “Princesinha do Mar” já em meados do XX, sendo hoje um bairro de
alta densidade populacional e uma pletora de problemas urbanos os mais diversos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Voltando ao nosso caso da Capital
paraibana, até o começo do século XX a região praiana estava restrita às
moradias de pescadores e às primeiras residências de veranistas. No Jornal O
Norte de 24/12/1908 encontramos a informação sobre missas natalinas que seria
realizadas em Tambaú e em Praia Formosa. Nesse mesmo ano o jornal informa os
horários dos bondes que ligavam Cruz do Peixe à praia de Tambaú. Conforme
percebeu Mário de Andrade, que esteve aqui no início de 1929, foi possível presenciar
um animado coco, na praia de Tambaú:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri;">Tomei banho, me vesti, etc. fui jantar, voltei pro quarto arear os
dentes, ver no espelho se podia sair para um passeinho até a praia de Tambaú
[...] Passeei e foi um passeio surpreendente na Lua cheia. Logo de entrada, pra
me indicar a possibilidade de um bom trabalho musical por aqui, topei com os
sons dum coco. O que é, o que não é: gente predestinada pra dançar e cantar,
isso não tem dúvida. [...]. Mas o ganzá era batido por um piazote que não teria
6 anos, coisa admirável. Que precocidade rítmica, puxa! O piá cansou, pediu pra
uma pequena fazer a parte dele. Essa teria 8 anos certos mas era uma virtuose
no ganzá. Palavra que inda não vi, mesmo nas nossas habilíssimas orquestrinhas
maxixeiras do Rio, quem excedesse a paraibaninha na firmeza, flexibilidade e
variedade de mover o ganzá. Custei sair dali. (ANDRADE, 2021. p. 240).</span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Quase uma década depois, em 30 de Março de
1938, a Missão de Pesquisas Folclóricas, idealizada por Mário de Andrade e
dirigida por Luiz Saia, chegou a fazer a gravação sonora e a filmar um coco na
mesma praia de Tambaú. Muitos poderiam ser as mesmas pessoas que o escritor
paulista havia visto em sua passagem, anos antes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt3LSXGQpzH1MScCXx6nM4BRJ3nIvK_jrlASkXMsloq9F1k63F2YQ2flmpDijS7rdLKlavJLVuK5x7fcbu2Mc2BApFq_vIr3kuA3hdgrgHYoy3_cF3NvnPtsQc4yxzOA58jgSz5J7Y0a5rsn3AQSdqArfm9XmoJLjWkFD-Zernsr5ybyhUvpy3PnnL/s717/Coco%201938.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="538" data-original-width="717" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt3LSXGQpzH1MScCXx6nM4BRJ3nIvK_jrlASkXMsloq9F1k63F2YQ2flmpDijS7rdLKlavJLVuK5x7fcbu2Mc2BApFq_vIr3kuA3hdgrgHYoy3_cF3NvnPtsQc4yxzOA58jgSz5J7Y0a5rsn3AQSdqArfm9XmoJLjWkFD-Zernsr5ybyhUvpy3PnnL/w400-h300/Coco%201938.jpg" width="400" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="font-size: x-small;">Dança de Coco, filmada por Luiz Saia, em 1938.</span></span></div><p></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk567W5W0lQOn026e2KWktgPhYcOf-ai2NeOIn2kp7MZMHdAzOKGW8on5MDFrQj5TdsZ_mrGKBR_htB6J4tcvGd0d--h31IbQUM9Pu5BAxTFN16FyECxAolFfEsevhWZIYTtg3S8bBuJOVYki86Kh_yFKzYdKnFHNuJu6TkgPAQnJemQuF2D1xd6EW/s480/ant149.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="307" data-original-width="480" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgk567W5W0lQOn026e2KWktgPhYcOf-ai2NeOIn2kp7MZMHdAzOKGW8on5MDFrQj5TdsZ_mrGKBR_htB6J4tcvGd0d--h31IbQUM9Pu5BAxTFN16FyECxAolFfEsevhWZIYTtg3S8bBuJOVYki86Kh_yFKzYdKnFHNuJu6TkgPAQnJemQuF2D1xd6EW/w400-h256/ant149.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Praia de Tambaú em meados do século XX. O veranismo começava a ser prática mais difundida na orla da capital paraibana. Autor não identificado. </span></div><br /><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Seja como for, partir da segunda década do
século XX, a antiga estrada de Tambaú começou a receber aportes mais
consistentes de estrutura viária, dando origem à Avenida Epitácio Pessoa, que
alongou suas obras até os anos 1950, tendo atraído paulatinamente novos bairros
e construções de porte, como clubes esportivos, hotéis e outras, que
reconfiguraram toda a orla litorânea da cidade em poucas décadas. Estudos como
os de Dieb e Maia sobre a produção do espaço em torno da Epitácio Pessoa (MARTINS
e MAIA, 2015) ou de Ressa sobre os loteamentos entre as décadas de 1910 e 1950 (RESSA,
2012) e de Vasconcelos Filho sobre a produção do espaço urbano no litoral Norte
de João Pessoa (VASCONCELOS FILHO, 2003) mostram como essa ocupação foi se
estabelecendo e como em diversos momentos algumas contradições acabaram por
aflorar ao longo dos mesmos processos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri;">Na primeira metade da década de 70 a política nacional de expansão
econômica veio dar maior impulso ao crescimento da cidade, sobretudo em suas
áreas mais valorizadas. Os financiamentos do SFH voltaram-se principalmente
para a construção de unidades habitacionais isoladas de alto padrão construtivo
(288% de incremento em relação à década anterior), propiciando um relativo
adensamento das áreas situadas nos bairros nobres da área central, na faixa de
ligação do Centro com a praia e em Tambaú. A grande concentração de construções
neste último bairro veio reforçar a tendência, que já se estava verificando, da
orla marítima assumir uma ocupação de uso permanente, definindo um novo eixo de
expansão, que se estenderia gradativamente em direção ao sul: dos bairros Cabo
Branco e Tambaú para Manaíra e Bessa. (LAVIERI e LAVIERI, 1999. p. 45/46).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Conforme vimos anteriormente em Moraes,
esses processos implicaram em diretrizes que estavam associadas a projetos nos
quais a especulação imobiliária se tornou o cerne da lógica, desprezando os
impactos sociais e ambientais deles decorrentes. Antigas comunidades de
pescadores e outras populações praianas, radicadas desde tempos imemoriais
nessa região, foram desalojadas de seus espaços tradicionais de moradia e
trabalho, sendo “empurradas” para zonas de mangues e outras, sendo mais tarde
acusadas de ocupação irregular, quando essa foi causada pela voragem do mercado
imobiliário nas cidades em rápido e excludente crescimento. Em relação a João
Pessoa, Trajano Filho aponta que:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri;">Um vertiginoso
crescimento da área urbana – no período de uma década, entre 1970 e 1980, o
espaço da capital cresceu a uma taxa superior a 100% – e na intensificação da
estratificação social no espaço da cidade, [...] as camadas média e alta,
contando também com financiamentos do BNH, se adensariam principalmente na orla
marítima, num primeiro momento convertendo tradicionais espaços de veraneio em
local de moradia fixa, em bairros como Cabo Branco, Tambaú e Manaíra, para em
seguida avançar decididamente seguindo as praias rumo a Cabedelo, em
empreendimentos em que se combinaram forte especulação imobiliária e
valorização artificial de áreas da cidade desprovidas de outros atributos, além
de sua proximidade ao mar, capazes de explicar a celeridade com que se deu a
sua ocupação (TRAJANO FILHO, 2006. p. 13). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="margin-left: 4cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Um empreendimento hoteleiro de grande
porte, realizado entre finais dos anos 1960 e início dos 70, talvez tenha se
tornado a marca mais forte desse processo permeado de contradições (ROCHA,
TINEM e COTRIM, 2017). O Tropical Hotel Tambaú significou um marco
arquitetônico e turístico relevante, mas o seu processo de construção permeado
por uma visão tecnicista e uma gestão autoritária e o saldo socioambiental do
mesmo têm resultados ainda hoje questionáveis, tanto no que diz respeito à
perda de espaço das populações de pescadores locais quanto à repercussão sobre
a orla na praia de Manaíra (PIRES e MARINHO, 2020 e LEANDRO, s/d). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBVS7f8BmELBmuqrUa0tD4C6uF41KwnygxifO9AaBqmtDhJaAiaiYYOXhLs5qzquuruJSQ4V7E-fuwfb9ohAXKnnuTbTNwz0f0BQ5YdOWB4sWNwmIV-DKB-XdCEVWuz_sVGBc8I3AXYOhfXF_y_EruYKNkuqpn_JG4KBtm_7Y6EnqeHZS2bTesWw2P/s500/Antes%20do%20Hotel%20Tamba%C3%BA.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="381" data-original-width="500" height="305" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBVS7f8BmELBmuqrUa0tD4C6uF41KwnygxifO9AaBqmtDhJaAiaiYYOXhLs5qzquuruJSQ4V7E-fuwfb9ohAXKnnuTbTNwz0f0BQ5YdOWB4sWNwmIV-DKB-XdCEVWuz_sVGBc8I3AXYOhfXF_y_EruYKNkuqpn_JG4KBtm_7Y6EnqeHZS2bTesWw2P/w400-h305/Antes%20do%20Hotel%20Tamba%C3%BA.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">A antiga faixa de areia tomada pelo empreendimento hoteleiro no início dos anos 1970. Daí em diante a ocupação da praia se tornou acelerada e as antigas populações de pescadores foram desalojadas de seus espaços tradicionais de vida. O ambiente praiano também não tardou a sentir os impactos da ocupação desenfreada. Autor não identificado. </span></div><br /><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Essa lógica leva a que o espaço urbano se
torne paulatinamente mais segregado socialmente e fragilizado ambientalmente.
Os grandes projetos urbanos, em vez de levarem em conta uma ampla participação
popular, como preconizado por Rossana Honorato em “O projeto urbanístico e a
identidade da paisagem cultural” (HONORATO, 2015), se estribam na rápida
acumulação de capital e numa visão estreitamente mercadológica, na maioria das
vezes insensível aos eventuais danos socioambientais colaterais, como toda a
cidade pode acompanhar a lenta e progressiva degradação do vale do Rio
Jaguaribe, estudado por Dieb e Martins, que passaram a se tornar espaços de
intensa degradação justamente à medida que os bairros praianos começaram a
crescer no Leste e Norte da cidade (DIEB e MARTINS, 2017). Nesse processo, com
o crescimento urbano na região litorânea, além dos bairros habitados por
populações de perfil mais abastado, bairros populares se formaram no mesmo
processo no qual se combinaram de forma contraditória a de incorporação
demográfica como mão de obra e a exclusão social como direito à cidade (SILVA,
2021).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">Esse pequeno resumo da situação poderia
ser enriquecido com outras importantes contribuições realizadas por arquitetos
e urbanistas, geógrafos, biólogos, ambientalistas, antropólogos e outros
estudiosos que se debruçam sobre o espaço urbano e seus fenômenos de
transformação e que buscam trazer aportes importantes para pensar sobre esses
fenômenos de grande complexidade e cujos resultados podem ser bastante
distintos das expectativas de benesses sociais e preservação ambiental. Em
momentos de inflexão e surgimento de propostas de grandes intervenções urbanas,
dialogar sobre todos os aspectos envolvidos e considerar fatores que extrapolem
o restrito âmbito da lucratividade imediata pode e deve ser o caminho mais prudente
para que se colham os melhores resultados e se evitem as eventuais catástrofes,
como não tem deixado de acontecer. A recente tragédia na cidade de São
Sebastião, no litoral paulista, com perda de vidas e bens, tem nos atualizado
lamentavelmente quanto a isso.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">REFERÊNCIAS<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">ANDRADE, Mário de. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Turista
Aprendiz</b>. 2 ed. Belo Horizonte: Garnier, 2021. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">ARAÚJO, Magno Erasto de. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Água e
Rocha na definição do sítio de Nossa Senhora das Neves, atual Cidade João
Pessoa – Paraíba</b>. Salvador: Doutorado em Arquitetura e Urbanismo UFBa,
2012. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">CASTELLUCCI JR., Wellington e BLUME, Luiz Henrique dos Santos (orgs.).
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Populações litorâneas e ribeirinhas na
América Latina: </b>Estudos interdisciplinares. (2 vols.). Salvador: Ed.UNEB,
2016.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p></o:p></i></b></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">CORBIN, Alain. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Território do
Vazio:</b> A praia e o imaginário ocidental. Tradução Paulo Neves. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">COUTINHO, D. José Joaquim da Cunha de Azeredo (Campos dos Goytacazes,
08/09/1742 – Lisboa, 12/09/1821). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Obras
Econômicas de J. J. da Cunha de Azeredo Coutinho (1794-1804)</b>. Apresentação
de Sérgio Buarque de Holanda. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966.
p.92-100.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;">DIEB, Marília de Azevedo e MARTINS, Paula Dieb. O Rio Jaguaribe e a história urbana de João Pessoa/PB</span></span><span style="mso-bidi-font-weight: normal;">: da harmonia ao conflito. IN</span>: <a href="http://anais.anpur.org.br/index.php/anaisenanpur/article/view/1690">http://anais.anpur.org.br/index.php/anaisenanpur/article/view/1690</a> acesso em 30/10/2020. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">GONÇALVES, Regina C.. Como e onde viviam os trabalhadores da Cidade da
Parahyba (séculos XVI-XIX)?. In: Maria Berthilde Moura Filha; Ivan Cavalcanti
Filho; Márcio Cotrim. (Org.). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Entre o
Rio e o Mar:</b> arquitetura residencial na cidade de João Pessoa. 1ed. João
Pessoa-PB: Editora da UFPB, 2016, v. 1, p. 64-89.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">HONORATO, Rossana. O projeto urbanístico e a identidade da paisagem cultural. <i>Minha Cidade</i>, São Paulo, ano 16, nº 183.3, <b>Vitruvius</b>, out. 2015 <a href="https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.183/5760">https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.183/5760</a> acesso em 22/02/2023. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">KIDDER, Daniel Parish (1815-1891). <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Reminiscências de viagens e permanência no Brasil</b>, compreendendo
notícias históricas e geográficas do Império e das diversas províncias.
Tradução Moacir N. Vasconcelos. São Paulo: Martins/ Ed. USP, 1972. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">LEANDRO, Aldo Gomes. </span>A Orla Marítima de João Pessoa: da
Apropriação Urbana à (Re)Apropriação Turística. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Observatório Geográfico de América Latina</b> (s/d). <a href="http://www.observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal6/Geografiasocioeconomica/Geografiaregional/521.pdf%20acesso%20em%2026/02/2023">http://www.observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal6/Geografiasocioeconomica/Geografiaregional/521.pdf
acesso em 26/02/2023</a>. </p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;">MARTINS, Paula Dieb e MAIA, Doralice Sátyro. A produção do espaço e da paisagem da Avenida Epitácio Pessoa. <b>Revista Eletr</b><span style="mso-bidi-font-style: normal; text-indent: 47.2px;"><b>ônica do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Cidade</b>. vol. 7, nº 10. Jan/Ago, 2015. <a href="https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/urbana/article/view/8642553">https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/urbana/article/view/8642553</a> acesso em 30/10/2020. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">MEDEIROS, Coriolano de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O.
Tambiá da minha infância/Sampaio</b>. João Pessoa: A União, 1994.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">MORAES, Antônio
Carlos Robert. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Contribuições para a
gestão da zona costeira do Brasil: </b>elementos para uma geografia do litoral.
São Paulo: Hucitec/ Ed.Usp, 1999. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">PIRES, Leonardo José Pacheco e MARINHO, Eduardo Gallliza do Amaral. Contribuições para a din<span style="mso-bidi-font-weight: normal;">â</span>mica costeira em João Pessoa-PB</span><span style="mso-bidi-font-weight: normal;">: As influ</span><span style="mso-bidi-font-weight: normal;">ências do Hotel Tambaú nas praias de Tambaú e Manaíra. IN</span>: <b>OKARA:</b> Geografia em Debate. Revista do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPB. vol. 14, nº 1, 2020. <a href="https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/okara/article/view/55539">https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/okara/article/view/55539</a> acesso em 26/02/2023. </p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">RESSA, Patricia Gigliola de Queiroga. <b>Quatro décadas de grandes
expansões planejadas na capital paraibana (1913-1953)</b>. 2012. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Urbana e Ambiental) – Universidade Federal da Paraíba,
João Pessoa, 2012. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">ROCHA, Germana; TINEM, Nelci; COTRIM, Márcio. Hotel Tambaú, de Sérgio Bernardes. Diálogo entre poética construtiva e estrutura formal. <i>Arquitextos</i>, São Paulo, ano 18, n. 206.00, <b>Vitruvius</b>, jul. 2017. <a href="https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.206/6627">https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.206/6627</a> acesso em 28/02/2023. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">SILVA, Cássio Geovani da. <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">“A
Nossa Força é a União”</b>: Do protagonismo da Associação União da Beira Rio à
estruturação do Bairro São José, João Pessoa – PB (1981-1989). João Pessoa:
Dissertação em História UFPB, 2021. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10pt; text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">TRAJANO FILHO, Francisco Sales. Do rio ao mar. Uma leitura da cidade de João Pessoa entre duas margens. </span><i>Arquitextos</i>, São Paulo, ano 07, n. 078.05, <b>Vitruvius</b>, nov. 2006. <a href="https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.078/298">https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.078/298</a> acesso em 20/10/2020. </p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">VASCONCELOS
FILHO, João Manuel de. <b>A produção e reprodução do espaço urbano no Litoral
Norte de João Pessoa</b>. Recife: Dissertação de Mestrado em Geografia-UFPE,
2003.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-bidi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span></p>Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-16841575260322783152022-08-28T08:11:00.011-07:002022-08-28T14:28:05.126-07:00Marco extraordinário<p> </p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marco extraordinário<o:p></o:p></i></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="text-align: right;"><i>Sesquicentenário da Independência</i></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Potência de amor e paz<o:p></o:p></i></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Esse Brasil faz coisas<o:p></o:p></i></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">que ninguém imagina que faz<o:p></o:p></i></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=sHorvYGZvns">Hino do Sesquicentenário da Independência</a> - </i>Miguel
Gustavo (1972)</p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="text-align: right;"><br /></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">A
nação, por exemplo, é associada a uma totalidade orgânica, à imagem do corpo
uno, indivisível e harmonioso; o Estado também acompanha essa descrição; suas
partes funcionam como órgãos de um corpo tecnicamente integrado; o território
nacional, por sua vez, é apresentado como um corpo que cresce, expande,
amadurece; as classes sociais mais parecem órgãos necessários uns aos outros
para que funcionem sem conflitos; o governante, por sua vez, é descrito como
uma cabeça dirigente e, como tal, não se cogita em conflituação entre a cabeça
e o resto do corpo, imagem da sociedade [...] </i><i>corpo como metáfora de ricas
implicações políticas.</i></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: right;">Alcir Lenharo. Sacralização da Política
(1986). </p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: right;"><o:p> </o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: right;">Art. 10 - Fica suspensa a garantia de <i>habeas corpus</i>, nos casos de crimes
políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia
popular. </p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: right;">Ato Institucional nº 5 (1968)<o:p></o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: right;"><br /></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: right;"><br /></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><br /></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>– O que você vai ser quando crescer?</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>– Astrônomo.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Assim uma estranha criança respondia, cheia de certezas
e certamente com uma pronúncia peculiar do nome da profissão pretendida, a essa
constante indagação, que busca prescrutar o futuro imaginado, e nem sempre
realizado, das melhores projeções da espécie humana. </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Afinal, o disco narrando a chegada dos homens na Lua,
a passagem do Kohoutek – um intrigante cometa que mobilizou a atenção dos
irmãos mais velhos e seus amigos pendurados no teto da casa com um telescópio
–, e uma visão indelével de Saturno no antigo Observatório da Avenida 13 de
Maio, povoavam sua imaginação.</p><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3fvSGLafaAt8QwtWpeG5-a6MUKaCGlJ-zbJnlXDDeBTNCNl6shwJPEHHZiXXFtLQmFdmPuZj1W9d86A57F95lfaLQcO8__cjmbzQ1LIkSFN72DPoeV4s1_Xk75cTH49mN0zvkxwYwy9tIAQ5M75dZYOq-JSSbGGqIGUNJfUxWWrJeX-bhqyNolUbj/s521/Homem%20na%20Lua.jpg" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="521" data-original-width="381" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3fvSGLafaAt8QwtWpeG5-a6MUKaCGlJ-zbJnlXDDeBTNCNl6shwJPEHHZiXXFtLQmFdmPuZj1W9d86A57F95lfaLQcO8__cjmbzQ1LIkSFN72DPoeV4s1_Xk75cTH49mN0zvkxwYwy9tIAQ5M75dZYOq-JSSbGGqIGUNJfUxWWrJeX-bhqyNolUbj/s320/Homem%20na%20Lua.jpg" width="234" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 10pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;">Na figurinha 1, a revista e o disco encartado com narrativa da <br />chegada da Apolo XI à Lua, fizeram
parte da imaginação <br />do pequeno em sua mais remota infância. </span></td></tr></tbody></table><br /><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span><span> </span><span> </span><span> </span> </span>Corriam os primeiros anos
da década de 70 e tudo parecia ser grande e bom. Brasil Grande. Potência Emergente.
Maior Hidroelétrica do Mundo. Maior Campeão Mundial de Futebol. Quanta coisa
bacana!</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Nesse ponto, a memória envolve – e talvez trai – a
História, mas aqui se evita o necessário recurso às fontes para corroborar ou
invalidar essas lembranças. No entanto, o historiador adverte: </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>– Atenção, criança! Isso é memória! A memória é uma
divindade! Ela tece a História! Mas ela não é a própria História! </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Quem
sabe, um dia, o rigor factual necessário não seja investigado como se deve? Por
ora, fica a memória em cena. </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Voltando ao ponto e em meio a tudo isso, uma música
povoava os primeiros meses de 1972: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“É
Dom Pedro I. É Dom Pedro do grito. Esse grito de glória. Que acorda a história
e a vitória nos traz”</i>. Uma moeda com as efígies do homem do grito e daquele
que mandava abafar os gritos, encantava os ouvidos e as pupilas do
pirralho-astrônomo. </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A única encanação do petiz era com o tal “Marco” da
música. Quem era esse Marco? Que inveja tinha desse menino, ser extraordinário
que começava a música. Tempos depois soube que Marco Extraordinário não era
exatamente um ser humano, tratava-se de coisa imaginária, o que comprova que boa
parte da inveja é sempre de seres que imaginamos ser, mas que não costumam a
passar das nossas projeções e inseguranças. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Também havia uma tal de Minicopa da Independência, com
oportuna decisão entre Brasil – Campeão! – e Portugal. Que feliz coincidência,
que traçava nas quatro linhas do gramado a repetição da história de heroísmo,
amor à mãe gentil e respeito ao velho pai. Que mimosa história da pátria como
grande família! <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>De repente, anunciado em bom som: Lá vinha o corpo do
herói! O mesmo herói que aparecia no filme ao qual o garoto fora ao cinema
assistir, empolgado com a cena de um grito retumbante e altissonante, que ecoou
de Norte a Sul, de Leste a Oeste, do Oipapoque ao Chuí, do Cabo Branco à Serra
de Contamana, tal como decorara na Escola e se <span style="mso-bidi-font-family: Calibri;">orgulhara por ter um dos extremos em sua cidade, a que via o Sol
nascer mais cedo e onde baleias eram caçadas e exibidas como atrações
turísticas e orgulho da terra!<i> Na mistura das raças. Na esperança que uniu. O imenso continente nossa gente, Brasil</i>. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A empolgação aumentava pelo motivo do seu segundo
nome composto, Emílio, ser o mesmo do homem que fazia gritar e abafava os
gritos dos que gritavam. Seu tio, Presidente do Botafogo de João Pessoa, era, em
sua avaliação, uma autoridade do mesmo quilate da de Brasília. Então, juntando
tudo isso, a criança deduziu que seu pomposo nome seria: Ângelo Emílio
Garrastazu Médici, Presidente do Botafogo!</p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2NHaTmEAY5ahblB-8n0-OhynBE2aXwBtv28g1SFQHLwUb7jJmeelyDAw_hQDEEtNxlZ1RebPVu1p5Hyf2uq67xCanG_5kCGcTusoaIs9qmfzSP-G6gfVOQQbMkWomFjuyZ3ohvbfjClwlwbn-IhmvHHk7j2PPhAXWu92wVuVpLetRdpY-L5gXDShH/s1341/MARCO%20EXT%200120220824_12095622.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1154" data-original-width="1341" height="258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2NHaTmEAY5ahblB-8n0-OhynBE2aXwBtv28g1SFQHLwUb7jJmeelyDAw_hQDEEtNxlZ1RebPVu1p5Hyf2uq67xCanG_5kCGcTusoaIs9qmfzSP-G6gfVOQQbMkWomFjuyZ3ohvbfjClwlwbn-IhmvHHk7j2PPhAXWu92wVuVpLetRdpY-L5gXDShH/w301-h258/MARCO%20EXT%200120220824_12095622.jpg" width="301" /></a></div><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"></p><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgi19jr_Dp-kPilr19IrVx5P6swQX0aK1BpYv9qk-zmNa4gon2FBJwGGNp5GVSFSmSgqblpfCVME5-dx6s5GffE_fhdBBSf3hpaFmlgXPMCP3dPj0avU-DbmOeQGxNuGvVJS3RQvjMnYJlpG2V--k193HXGq4BudQu13ByHDWGtXUW-eIUyug2epp4w" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="499" data-original-width="333" height="396" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgi19jr_Dp-kPilr19IrVx5P6swQX0aK1BpYv9qk-zmNa4gon2FBJwGGNp5GVSFSmSgqblpfCVME5-dx6s5GffE_fhdBBSf3hpaFmlgXPMCP3dPj0avU-DbmOeQGxNuGvVJS3RQvjMnYJlpG2V--k193HXGq4BudQu13ByHDWGtXUW-eIUyug2epp4w=w263-h396" width="263" /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div> </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLcszAt133XZAEZm3vLO8meBecK3G-L8Y8awT7Givpbpbw9t1sogrIK-68nn5zcpmZhS1js9fY70s3XV1p0Y4b6t3Evcr1vEjT-XuvnK4NiSJCGsfljQ4bSSj8AfsPJ7iTqj8EmJTs3mq9kWxE6D-vWC75qUWUyTPTFcNegWZ-lubTnVOgWXsguRGX/s667/Pau%20de%20arara.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="409" data-original-width="667" height="158" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLcszAt133XZAEZm3vLO8meBecK3G-L8Y8awT7Givpbpbw9t1sogrIK-68nn5zcpmZhS1js9fY70s3XV1p0Y4b6t3Evcr1vEjT-XuvnK4NiSJCGsfljQ4bSSj8AfsPJ7iTqj8EmJTs3mq9kWxE6D-vWC75qUWUyTPTFcNegWZ-lubTnVOgWXsguRGX/w260-h158/Pau%20de%20arara.jpg" width="260" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><p class="MsoNormalCxSpFirst"><span style="font-size: 10pt;">Na figurinha 2, a
efígie dos dois heróis, o do grito e o do que fazia gritar e abafava os gritos. </span><span style="font-size: 10pt;">As cabeças que dirigiam o imenso corpo da Nação. Nas figurinhas 3 e 4, enquanto
isso, outros corpos, que não deviam divergir da cabeça, eram espezinhados e
punidos por Sua Majestade O Capital. </span></p></td></tr></tbody></table><p></p><br /><br /><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> Certo dia, o Grupo Escolar
Dom Adauto fora levado ao Aeroporto Castro Pinto – nosso querido Aeropinto –
para ver os poucos aviões que ali pousavam. De repente, não se podia entrar. O
Vice-Presidente estava chegando à cidade e a Segurança Nacional exigia que
aquelas professoras e crianças fossem impedidas de ingressar no espaço, dada a possibilidade
de um infante terrorista cometer um ato tresloucado. Conversa daqui, conversa
dali, um acordo foi estabelecido: as crianças ficariam perfiladas, com
bandeirinhas que apareceram de algum lugar, acenando entusiasticamente para o
Vice. Por ser o menorzinho da turma, cuja mãe professora levava para a Escola
desde tenra idade, o petiz ficou logo no primeiro posto para saudar aquela
colenda autoridade.</p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi-Y9c1J5RqHWyHVy0eNy8BcFe0YLVfEjEvbSAYUDWWBImuDXGdiYLnky1mJ8luu74-yaWNb4U0JNF6FPMmgSb-O5ZTw2V1uOTpJfQhP4IH_ez_Qyyeepo_UDEU77itU4vAfkKEkqtDMfo605y8HOlPBho5vxDX-QODnqUxKe5yIQ89OmJfpv8s4Ddb" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" data-original-height="193" data-original-width="305" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi-Y9c1J5RqHWyHVy0eNy8BcFe0YLVfEjEvbSAYUDWWBImuDXGdiYLnky1mJ8luu74-yaWNb4U0JNF6FPMmgSb-O5ZTw2V1uOTpJfQhP4IH_ez_Qyyeepo_UDEU77itU4vAfkKEkqtDMfo605y8HOlPBho5vxDX-QODnqUxKe5yIQ89OmJfpv8s4Ddb=w357-h225" width="357" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><p class="MsoNormalCxSpFirst"><span style="font-size: 10pt;">Na Figurinha 5, no Dom Adauto, entre
astronomia e história, </span><span style="font-size: 10pt;">o fascínio pelo corpo do herói que vinha trazer a
felicidade da Nação. </span></p></td></tr></tbody></table><br /><br /><p></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>De repente, a criança
estava nos braços vicepresidenciais – cujo nome, depois soube, era Augusto
Rademaker –, com bandeirinha e tudo. O Almirante lhe perguntou o nome e a
criança recitou todos os seus títulos, com os carimbos e estampilhas de
direito! O homem não entendeu nada e a sua genitora, pressurosa, teve de explicar
os motivos de tão insólita criatura estar em seus braços. Risos – dizia sua mãe
que até um tal de João Agripino e um monte de engravatados riram – e a
ex-criança, hoje, agradece aliviada por não ter sido hospedada nas dependências
do CENIMAR em razão de tal tentativa de usurpação dos “poderes constituídos da
República para salvação da Nação”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Bom, mas voltando ao principal dessa memória, lá
vinha o corpo do herói, direto de Portugal. Como? Viria a João Pessoa? Passaria
em frente à casa da tia-avó? Que coisa maravilhosa! Dias antes, a excitação era
tremenda. Veria uma caveira pela primeira vez na sua vida. E logo uma caveira
imperial! Não era para qualquer um. </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Dia aprazado. Rua Rodrigues de Aquino. Muro da casa da tia-avó. Lá vinha um
cortejo cheio de carros, gente, uma barafunda tremenda. A caveira estava a
caminho! De repente, passa um possante carro com uma espécie de caixa. Aplausos
da multidão! <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sesquicentenário. E vamos
mais e mais. Na festa do amor e da paz</i>.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>– Mainha, cadê a caveira de Dom Pedro?</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>– Já passou.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>– Como? Eu não vi!</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>– Estava dentro daquela caixa com a bandeira.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"> Foi a primeira grande decepção cívica do pivete!</p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><br /></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Algo estava errado nos astros. Como assim? Cadê a
caveira? Frustração e indignação. Desde lá, todos os planos astronômicos devem
ter desandado e foi só seguir caindo pelas tabelas vida à frente. Deve ter sido
culpa da visão de Saturno!</p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjozOoSOoW_LQXqAnSUc28vR7EJ5tlD5pXK6RghmAisYhx-ldnNLYP3qcOyEsNCWK7JucpeOJskzpd2frjdiKV3h6GjMRCov_LVRxiKSjdmzZ0hkjbvwGJMxT3KWUEj4yHPVXI5_hlgowKwXr3nNEmUY5jCRkq2d7Hr9MZdqVyeIGmQkNMCmh4b1XD0" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="2802" data-original-width="3780" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjozOoSOoW_LQXqAnSUc28vR7EJ5tlD5pXK6RghmAisYhx-ldnNLYP3qcOyEsNCWK7JucpeOJskzpd2frjdiKV3h6GjMRCov_LVRxiKSjdmzZ0hkjbvwGJMxT3KWUEj4yHPVXI5_hlgowKwXr3nNEmUY5jCRkq2d7Hr9MZdqVyeIGmQkNMCmh4b1XD0=w298-h221" width="298" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj1bfBHoZPyjWnjNzNhv0xZnXBajiq7_0UpQYAvxLekMuBjE2g8uHSp4NXXBdCtarMXwlI39wKJ9I4wj6SLIi4MfCMUda3k3pl-ruxtEtGgUYTWDNSgCpnyJFBXNtT6GLquNVwhVQ-YKkvgH78Qesf4Y5B2Al3OeUmbl4bqD7uf7IQtkIERuBD2gH5i" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="223" data-original-width="228" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj1bfBHoZPyjWnjNzNhv0xZnXBajiq7_0UpQYAvxLekMuBjE2g8uHSp4NXXBdCtarMXwlI39wKJ9I4wj6SLIi4MfCMUda3k3pl-ruxtEtGgUYTWDNSgCpnyJFBXNtT6GLquNVwhVQ-YKkvgH78Qesf4Y5B2Al3OeUmbl4bqD7uf7IQtkIERuBD2gH5i=w229-h224" width="229" /></a></div><br /><span style="font-size: 10pt;">Entre um e outro
momento cívico, os anos se passaram e a preocupação maior foi a de comer os
peixinhos de chocolate pendurados na vara do “pescador típico” enquanto
invejava o avião nas mãos da irmã caçula (figurinha 6) e tocar a corneta para tentar ficar popular
na Escola (figurinha 7). Os tempos da caveira imperial já tinham ficado para trás. </span></div></div><span face=""Calibri","sans-serif"" style="font-size: 11pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US;"><!--[if gte vml 1]><v:shapetype
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</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><br /><!--[endif]--></span><p></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>Passados cinqüenta anos, a
festa necrofílica continua como um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Marco
Extraordinário</i>. Tal e qual um falsete de mau gosto e de uma cafonalha
insuperável, eis o coração do herói trazido para felicidade da populaça! Mas causa
estranheza saber: o que o coração fazia longe do resto do corpo de seu dono? Os
egípcios dos “bons tempos” de Tutmóses III e desses faraônicos personagens talvez
devessem achar tudo isso, como sugere o título da música de Dalto, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Muito estranho</i>...<span style="mso-spacerun: yes;"> Quanto ao dono do coração, em 1824 mandou executar um magote de revolucionários da Confederação do Equador, entre os quais Frei Caneca. Diz-se que matar padres dá um azar danado... Por isso recebeu o merecido castigo de parar numa presepada do país que o expulsou em 1831...</span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Pelas ruas, os gritos já podem ser ouvidos. E não são
exatamente “brados fortes retumbantes”, são mais gemidos de corpos famélicos,
desprezados, ou são também gritos abafados de quase 700 mil vítimas de uma
necropolítica, que pretende repetir aquela que trouxe o corpo do herói e agora
promete uma verdadeira apoteose cardíaca pelas ruas do país.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A propalada <i style="mso-bidi-font-style: normal;">mistura
das raças</i> ainda ressoa como alerta de que todas as raças devem estar
integradas, desde que algumas delas aceitem os sobejos das demais e concordem
com as condições aviltantes de trabalho e de vida, como nos lembra a diva <a href="https://www.youtube.com/watch?v=yktrUMoc1Xw">Elza Soares</a> quando canta sobre o preço mais barato da carne no mercado.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Além do mais, o fato de que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">esse país faz coisas que ninguém imagina que faz</i>, pode nos levar ao
espanto de encarar que o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">celeiro do mundo</i>,
o paraíso do<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> agrobusiness pop</i>, tenha
optado pelo caminho, escolhido pela sua <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gente
de bem </i>– cheia de aporofobia –, de retomar a pitoresca fome como política
de Estado, quando a havia praticamente debelado anos antes. Que portento para o
mundo e que orgulho de herança para o futuro! <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ninguém segura esse país</i>! <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiDnxyf20IdkVC81LRiYIy9l_0cYYwfYBNja6SoQq0HdmJ2lCa1GrG1vqYQ_3cvm9KqsXvNeRSCswAeJ6Svk9Bz8jikYVuFmo56n8DE3fF8ZZ9H2acsW4KguMuyybWiCpEyW7pUkJ6B4DtDr5iXcfFzBwDQBzyVBzNmY5a8XTI7EwWsu5Azi1xbIUvt" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="172" data-original-width="248" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiDnxyf20IdkVC81LRiYIy9l_0cYYwfYBNja6SoQq0HdmJ2lCa1GrG1vqYQ_3cvm9KqsXvNeRSCswAeJ6Svk9Bz8jikYVuFmo56n8DE3fF8ZZ9H2acsW4KguMuyybWiCpEyW7pUkJ6B4DtDr5iXcfFzBwDQBzyVBzNmY5a8XTI7EwWsu5Azi1xbIUvt=w260-h181" width="260" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg9zyrVFrQssIDYFxLADorezzgGBj3jjWD6d0zlnx1JYldNZhfI7dYeQFyNSCYUxElVpSvZqlw4G-FQcc5RPd4_8QDI9arfJumDbUUXtxUTFjK11vrcVSQNRpnx1zrtpOjcJlAljHRrqS6BahtIGqL4KeNWSUn-GvxQv4i0mbK-JfRydXNZ-QPv7Eqn" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="" data-original-height="171" data-original-width="228" height="186" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg9zyrVFrQssIDYFxLADorezzgGBj3jjWD6d0zlnx1JYldNZhfI7dYeQFyNSCYUxElVpSvZqlw4G-FQcc5RPd4_8QDI9arfJumDbUUXtxUTFjK11vrcVSQNRpnx1zrtpOjcJlAljHRrqS6BahtIGqL4KeNWSUn-GvxQv4i0mbK-JfRydXNZ-QPv7Eqn=w248-h186" width="248" /></a></div><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;">A “fila do osso” em Cuiabá e “do lixo” em Fortaleza: no
paraíso agropecuário não há lugar para todos.<o:p></o:p></span></p><p></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>Voltando às memórias da
criança-astrônoma, e trazendo a História para lhe retraçar os caminhos, é
possível perceber que até o logro da heróica caveira, a serpente ainda não
tinha entrado no paraíso. Mas o paraíso também não era um paraíso, era um
simulacro de paraíso. Fora dessa redoma, o inferno pegava fogo, como todos os
infernos costumam fazer. </p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> Mas os astros nos lembram do movimento, e o movimento
costuma a rasgar a cortina e o biombo que procuram velar as cenas que não podem
ser vistas ou abafar os gritos que não devem ser ouvidos. Mas eles vêm... </p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"> </p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%;"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-family: inherit;">Ao som de sua xará Ângela Maria, ouvindo o tal Hino, </span><span style="font-family: inherit;">mas sem a mesma empolgação
de cinco décadas atrás. </span><span face="Calibri, "sans-serif""> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br />Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-30010681733618268202021-08-23T04:57:00.006-07:002021-08-23T05:45:45.035-07:00Sobre nomes e monumentos na Cidade que costuma mudar de nome<p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não é segredo para nenhum estudante de História, e
possivelmente para nenhum cidadão pessoense minimamente atento, que as injunções
políticas nomearam e renomearam essa terra diversas vezes e que, talvez, o
problema de saída seja simplesmente de a mesma ter um nome. Nomear é um ato de tomar
posse, de possuir e de estabelecer propriedade e, quem sabe, os Potiguara
sequer tivessem um nome para o solo onde hoje fica a cidade, mas para o rio que
lhe dá parte substantiva de sua vida e que define a transitoriedade da mesma.
Ao espoliarem a terra dos seus habitantes primitivos, os luso-espanhois lhe
deram nomes, que configuravam seu senso de propriedade, tais como Nossa Senhora
das Neves (demarcando um território Católico), Filipeia (demarcando um território
Monárquico somado à denominação Católica); mas tudo leva a crer que o nome
indígena deve ter prevalecido pelo costume, apesar de também os holandeses
terem tentado impor outro nome, qual seja, o de Frederica (aportuguesamento de
Frederikstadt). Em sua obra de 1675, <i>Nova
Lusitânia ou História da Guerra Brasílica</i>, relembrando os acontecimentos da
guerra contra os holandeses, o militar português Francisco de Brito Freire
(c.1625-1692) atentava para essa disputa dos nomes: </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"> <i>Por ficar entre as que já occupavaõ,na Ilha
de Tamaracá, & no Rio Grande, resolveraõ,que a Província,& Cidade da
Parahiba; cujo nome tomou do Rio que a banha, & lhe foi | sempre mais
próprio, sem nunca o perder de todo, pelo que lhe deraõ antes os Nossos, de
Felippea, depois os Olandeses, de Friderica: estes,de Friderico, Príncipe de
Oranje; & aquelles,de Felippe,Rey de Espanha.<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; margin-left: 4cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><i><br /></i></p>
<p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;"><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKU06cvvvbNCX-kFvsbUhd48orY4meFlEjgpHF9j3RNl7rySiqoYXvvQp8eVjlK6PS8uM5Fn_Y3BcqEkutBj09HROjOQQtR0IXPtdDWN8YpyBNYlXBRuSA3odu1sn2udjnOzPUPm-Fw-M/s634/Brito+Freire.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="449" data-original-width="634" height="227" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKU06cvvvbNCX-kFvsbUhd48orY4meFlEjgpHF9j3RNl7rySiqoYXvvQp8eVjlK6PS8uM5Fn_Y3BcqEkutBj09HROjOQQtR0IXPtdDWN8YpyBNYlXBRuSA3odu1sn2udjnOzPUPm-Fw-M/s320/Brito+Freire.jpg" width="320" /></a></div><br /> <p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-size: 10pt; line-height: 150%;"><br /></span></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: right;"><br /></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small;">Brito Freire notou a
questão dos nomes com argúcia.</span><o:p style="font-size: 10pt;"></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: right;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Vejamos a análise arguta do militar seiscentista português
sobre a situação de três dos nomes: os espanhóis tentaram impor Filipeia, os
holandeses, por sua vez, Frederica, já Brito Freire, luso, afirma que o de
Parahiba lhe era sempre o <i>“mais próprio”</i>,
dado, talvez, ao hábito de assim seus habitantes e visitantes a nomearem. É de
se supor que por estar escrevendo em 1675, quatro décadas após as guerras
contra os holandeses e três após os portugueses terem rompido os laços
dinásticos com a Espanha, certamente o nome indígena Parahiba fosse o mais
conveniente diante da consolidação da ocupação da terra perante os seus antigos
donos indígenas, que possivelmente já não consistissem mais numa efetiva ameaça
de “varrer o europeu invasor de sua terra”. Se Filipeia pode ter sido útil para
demarcar a posse da terra recém conquistada a partir de 1585, noventa anos
depois, Parahiba talvez fosse mesmo a opção mais conveniente para dialogar com
o passado, deixando os nomes espanhol e holandês como referências para os
livros de História, entre eles o do próprio Brito Freire. Nossa Senhora das
Neves parece não ter sido considerada pelo escritor, eventualmente porque de
sua parte também não houvesse tanto interesse de um militar ligado ao Estado
Monárquico privilegiar essa pertença Católica. E enfeixando tudo isso, provavelmente
acima de tudo, o hábito daqueles que não escreviam tenha prevalecido e Parahiba
tenha se consolidado nos falares do povo – Brito Freire nos sugere que desde os
primeiros tempos – para além do que ficou escrito pelos poucos que escreviam.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Em 1930, uma mais recente e controversa viragem trouxe outro
nome para a mesma cidade – que parece ter o intrigante hábito de manter uma
média de um nome por século (com o clímax nos primeiros 60 anos), o que garante
emprego para professores de História explicarem esses imbróglios de vez em
quando – a partir de um crime de motivações pessoais com rebates políticos e,
nesses últimos 91 anos, a cidade mantém o nome do finado Presidente do Estado
da Paraíba. Como estamos perto de mais um século de nomeação, o que o futuro
pode nos reservar? Ficaremos por aí ou inventaremos novos nomes? </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">O que parece ser presumível em termos de hoje – muito embora
as presunções costumem a ser desmentidas na primeira ocasião e a história do
futuro não pare de nos surpreender –, é que se um plebiscito fosse realizado
para a opção dos cidadãos em relação ao nome efetivo da cidade, possivelmente o
de João Pessoa acabasse por prevalecer pela força do hábito, mas não necessariamente
pelo apego ao político. Talvez a mesma força do hábito que fez Parahiba
prosperar no século XVII, no XXI jogasse contra essa nomeação fluvial-indígena.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Mas não é sobre isso exatamente que queremos falar, apesar
desse intróito ter tudo a ver com o que se seguirá. Queremos falar das recentes
e agudas tensões dos diálogos com o passado e que têm sacudido diversos países
do mundo, como atestam os noticiários sobre as derrubadas de monumentos que se têm
acometido aqui e alhures. Não se trata de assunto despido do fogo da
controvérsia e não consideramos que deva ser discutido de forma linear ou
panfletária, mas que exija certa reflexão.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Voltemos às décadas nas quais a cidade trocou de nome cerca
de três vezes – Filipeia, Frederica, Paraíba – e a diversos rebates que se
colocam atualmente diante da toponímia de um lugar bem no coração cívico de
nossa cidade; falamos aqui do popular Ponto de Cem Réis, oficialmente
denominado Praça Vidal de Negreiros. Antes, porém, de recuar ao século XVII,
vamos fazer um sobrevôo pelo XVIII. </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Comecemos por um pouco do que sabemos acerca do lugar.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Até o século XVIII esse lugar, situado na então extremidade
sul da Rua Direita (atual Duque de Caxias) era um pequeno declive, que
caminhando mais um pouco a sul, voltava a ter leve subida e seguia para o sul
da Capitania. Qualquer um que hoje transite a pé o pequeno trecho entre a
Igreja da Misericórdia e o Palácio da Redenção sentirá essa suave descida e a
posterior subida. De tal maneira, considerando sua topografia, o local era
chamado de “baixa” e durante certo tempo se denominava Rua da Baixa. Em algum
momento do século XVIII a população de ascendência africana da cidade, ergueu na
“baixa” a Igreja de sua Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que
demarcou o lugar por mais de dois séculos até à sua demolição no início do
século XX, assim como também se deu em relação a outro templo próximo – de
Nossa Senhora das Mercês dos Homens Pardos, na atual Praça 1817 – que também
foi demolido na década de 1930, de tal forma que foram apagadas marcas
importantes da presença afro-brasileira na nossa cidade.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Por ter se constituído num ponto central da circulação dos
bondes na cidade, a antiga “baixa” ou Largo do Rosário acabou ganhando a
denominação popular de Ponto de Cem Réis, que até hoje prevalece no linguajar habitual,
apesar de sua denominação oficial em homenagem ao paraibano André Vidal de
Negreiros, considerado um “herói da nacionalidade” brasileira por gente como
Francisco Adolfo de Varnhagen, um dos pais de nossa historiografia. Também um
seu contemporâneo, o célebre Padre Antônio Vieira, o elogiou ao Rei, muito
embora tenha sofrido certo desencanto depois de algum tempo.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Desse modo, temos de considerar algumas presenças e outras
ausências no cenário atual: além de denominar a Praça, Vidal conta com um
monumento erguido em sua homenagem naquele território. Outrossim, ironicamente
e de frente a Vidal, encontramos risonhamente sentado num banco o jornalista e
compositor Livardo Alves, que nos remete ao Ponto de Cem Réis, à jocosidade de
seu homenageado como cronista de nossa vida cotidiana e à centralidade que
lugar manteve na vida da cidade durante décadas. Por outro lado, as referências
à “pequena África” (aqui inventamos o nome, mas não por puro palpite) da velha
Paraíba foram devidamente apagadas nas “higienizações urbanas” das primeiras
décadas do século XX.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não iremos questionar de antemão a figura de Vidal, muito
embora o mesmo, pelo seu destacado papel na expulsão dos holandeses, tenha
granjeado honrarias de benesses em sua época, sendo agraciado pela monarquia
portuguesa com a governança do Maranhão (1655-1656), de Pernambuco (1657-1661)
e Angola (1661-1666). Em Angola, em 1665, Vidal comandou as forças lusas contra
o Rei do Congo, D. Antônio I (reconhecido como um Rei Católico e até então
aliado dos portugueses), que teve o seu ponto culminante na Batalha de Ambuíla,
na qual as tropas do monarca congolês foram desbaratadas e aquela monarquia foi
submetida à força das armas portuguesas. É concorde entre historiadores de
diversas correntes que a destruição da monarquia do Congo fortaleceu as redes
de tráfico escravo naquele contexto e, portanto, Vidal teve um papel central em
sua época na consolidação desse terrível negócio.</p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh6eFDFVDMu3yYElGzu1AeyMpTg1Iyz7Y-MpZqQhpS-RA1IddLWMW4t69DV_Ohu9-XuDrAFJzuysKRcBDyNjQtJoaPquy26mWt29YfUVfHY_wgaSDb-83qYkfJ8mDJcBZsbKcDGc9n6FY/s318/Andr%25C3%25A9+Vidal+de+Negreiros.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="318" data-original-width="265" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh6eFDFVDMu3yYElGzu1AeyMpTg1Iyz7Y-MpZqQhpS-RA1IddLWMW4t69DV_Ohu9-XuDrAFJzuysKRcBDyNjQtJoaPquy26mWt29YfUVfHY_wgaSDb-83qYkfJ8mDJcBZsbKcDGc9n6FY/w146-h176/Andr%25C3%25A9+Vidal+de+Negreiros.jpeg" width="146" /></a></div><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI_cONtPlLAnsn7w7PZBdE-MJkNmJDAwE1vRIU5L6ubyGsa28KfDHRU4NWIuBW_VkBlTRgrn8nQUW69PQttK8siw_3WdnVWipKoPy80l3EnsfzBHEkDiGnf_oIfEvRM0H0dKnOP7LiM1E/s646/Livardo-Alves_-2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center; text-indent: 47.2px;"><img border="0" data-original-height="646" data-original-width="602" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI_cONtPlLAnsn7w7PZBdE-MJkNmJDAwE1vRIU5L6ubyGsa28KfDHRU4NWIuBW_VkBlTRgrn8nQUW69PQttK8siw_3WdnVWipKoPy80l3EnsfzBHEkDiGnf_oIfEvRM0H0dKnOP7LiM1E/w154-h166/Livardo-Alves_-2.jpg" width="154" /></a></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></p><o:p> <span style="font-size: x-small;">Frente a frente, em bronze, Vidal e Livardo nos contam duas histórias da cidade. </span><br /></o:p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="text-indent: 35.4pt;"><br /></span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="text-indent: 35.4pt;">Que fazer, então?</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi50SD3_U4gXnzGubHoRaIy2HqArZSzg7ryAMx4xumeXKDZimKJU3lCe5fntWcWJ6RUTnNb8llJ-SkUuE28Zu31qzbZlX_TfE2k5hkb3RtgPaudldegn7HzCRaMmgD5DDdhgnULnVBwWQY/s481/ant110.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="315" data-original-width="481" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi50SD3_U4gXnzGubHoRaIy2HqArZSzg7ryAMx4xumeXKDZimKJU3lCe5fntWcWJ6RUTnNb8llJ-SkUuE28Zu31qzbZlX_TfE2k5hkb3RtgPaudldegn7HzCRaMmgD5DDdhgnULnVBwWQY/w399-h262/ant110.jpg" width="399" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p align="center" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: normal; text-indent: 35.45pt;"><span><span style="font-size: x-small;">A história apagada
de nossa pequena África. Até o momento, a única imagem remanescente encontrada
da antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. </span><o:p style="font-size: 10pt;"></o:p></span></p></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">As opções são muitas e externamos aqui o que consideramos
mais conseqüente.</p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="text-indent: 35.4pt;">Não nos parece
que a pura remoção do monumento efetivamente leve a uma reflexão sobre o lugar
de construção de uma plena cidadania para a população afrodescendente em nossa
cidade, mas consideramos mais procedente e educativo que se construa no lado oposto
da dita Praça um monumento de vulto – mediante consulta pública e concurso – que
destaque a presença da cultura negra em nossa terra. Isso também poderia ser
acompanhado da eventual troca do nome do logradouro. Dessa maneira, Vidal e o
monumento da “Pequena África paraibana” estabeleceriam esse “tenso diálogo com
os tempos” como toda boa história crítica tão bem sabe fazer. Seria um processo
educativo em plena praça pública. No outro canto, observando do final do século
XX, Livardo Alves contemplaria o diálogo entre os séculos XVII e XVIII, e nós,
em pleno XXI, aprenderíamos um pouco mais sobre a história da nossa cidade, de
tal forma que possamos nos tornar cidadãos mais plenos. </span><span style="text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="text-indent: 35.4pt;"> </span></p><p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p></o:p></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; text-indent: 35.4pt;"> </span></p>
<p><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span> </span></span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"> </span> </p>Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-26407556834127377902020-12-20T08:17:00.016-08:002020-12-20T12:11:31.659-08:00Cronos e Zeus na errante dança do tempo.<p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">Calma, tudo está em calma</span></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">Deixe que o beijo dure, deixe que o tempo cure</span></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">Deixe que a alma</span></p><p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">Tenha a mesma idade que a idade do céu</span></p><p>
</p><p align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-size: x-small;">Paulinho Moska</span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 24px; text-align: right;"><br /></p>
<p class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span> </span><span> </span>Nossos
avós mais antigos, quanto mais recuarmos, inúmeras gerações atrás, não possuíam
aparelhos de celular, de televisão, livros impressos, a escrita ou quaisquer
outras mídias que nos são tão usuais no papel de mediar nossas relações com as
demais pessoas ou as coisas. Muitas vezes, sua experiência de observação era
direta ou por ouvir dizer, tendo a oralidade um papel essencial na transmissão
do não visto, mas visto por alguém cuja palavra era digna de fé.</p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
</p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"> Para estabelecerem a contagem do
tempo, para sair para caçar, fazer certos plantios ou mesmo migrar, dependiam
de uma acurada percepção da mudança das estações e marcavam essas mudanças pela
relação com alguns fenômenos observados em certas plantas ou animais ou ainda os
movimentos de certos astros no céu: quando determinada estrela estava em certa
posição, era o tempo certo de fazer algo, o calendário era determinado pela
observação dos fenômenos naturais e sua observância era questão de sobrevivência
estação após estação. Se seria seco ou chuvoso, quente ou frio, tudo isso dependia
dessa apurada observação e dela, por sua vez, poderia depender a diferença
entre a abundância e a penúria. Dessa forma, e considerando as exíguas
dimensões das cidades – ou até mesmo a sua inexistência – e de uma possante iluminação
artificial (reduzida apenas a fogueiras ou pequenos lumes), as noites eram bem
mais escuras e o céu apresentava um verdadeiro luzeiro que não conseguimos
avistar, ofuscado pelas luzes de nossas urbes. Também a falta do barulho de
fundo dos automóveis, deixava os ouvidos mais atentos aos pequenos barulhos da
natura, que podiam significar até o perigo de uma fera à espreita. </p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Assim, esses nossos mais antigos avós viam e ouviam mais as vistas
e sons que o texto do mundo natural lhes contava. Olhavam muito mais para o
céu, a fim de ordenarem seu tempo pela dança que os astros pareciam fazer no
firmamento. Astros mais brilhantes, de distintas cores ou que ocupassem determinadas
posições pareciam se relacionar a certas ocorrências. Entender essa “dança dos astros”
ficou cada vez mais a cargo de certas pessoas sábias, para as quais a junção de
duas palavras gregas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">astros</i> (corpos
celestes) e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">logos</i> (discurso ou
estudo), se daria o nome de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">astrólogos</i>.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Se poderia crer que essa dança celeste
determinaria em alguma medida os destinos de pessoas e povos inteiros. Muitas e
muitas gerações adiante, já nos nossos tempos ditos modernos, a busca de um
critério mais científico para essas observações, fez com que dessa matriz se
derivasse outra palavra, juntando <i style="mso-bidi-font-style: normal;">astros</i>
dessa vez a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nomos</i> (leis, governo),
levando a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">astronomia</i>, que nascera de
seu velho tronco e com ela haveria de esbarrar daí em diante. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF0ytfEPSuBLvq108scyIHyOBmWTKQhAruxddO5bjrrR3MtDumfEl4cQagESVnvmDueVhJGlmg3AvHIDaEuSq_M1D_9meNMysJK00FSgEqxU9f73AgVYEzLBRcZoDHvagOgiBQzIm1IJE/s2048/Observat%25C3%25B3rio+de+Chich%25C3%25A9n+Itza.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF0ytfEPSuBLvq108scyIHyOBmWTKQhAruxddO5bjrrR3MtDumfEl4cQagESVnvmDueVhJGlmg3AvHIDaEuSq_M1D_9meNMysJK00FSgEqxU9f73AgVYEzLBRcZoDHvagOgiBQzIm1IJE/w315-h236/Observat%25C3%25B3rio+de+Chich%25C3%25A9n+Itza.jpg" width="315" /></a></div><span style="font-size: x-small;"><i>Observatório Maia de Chichén Itza, um dos muitos postos de observação dos astros criados pelas mais diversas culturas humanas.</i></span><div><span style="font-size: x-small;"><i><br /></i></span><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Mas além de governar a vida cotidiana, olhar para os astros e
saber pela voz dos antigos que eles estavam lá há muito tempo, dava ideia de
uma permanência bem maior que a breve vida humana, o que levava a uma busca de
explicações das origens e a tentar saber de onde vinha o universo e a vida, a
criação. Céus e terra pareciam estar sempre ligados. A isso, a observação do
universo – o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cosmos</i> para os gregos – muito
mais tarde se juntou outra palavra, também grega – discurso ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">logos</i> –, donde a palavra moderna
cosmologia, ou estudo dos fenômenos nas diferentes escalas do universo. Mas
mesmo considerando as palavras modernas, cada povo e cada cultura possuíam suas
próprias astronomia e cosmologia, relacionando sabiamente a sua vida com a
observação da natureza que a cercava e da qual extraía e conferia sentidos. Se
usamos palavras gregas é apenas pelo costume, mas ela poderia ser outra palavra
extraída de outro idioma, de outra tradição, aqui tradição no melhor sentido de
“ouvir dizer aquilo que os e as avós contam para os netos e netas”. </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Cada povo e cada cultura estabeleciam suas observações
celestes, que estavam relacionadas à sua posição mais próxima ou distante da
linha que o sol parecia descrever no céu ao longo da mudança das estações – ora
mais ao sul ora mais ao norte – e considerando a curvatura da Terra (muito
embora disso a grande maioria não tivesse consciência, entendendo viver numa
superfície plana), via os astros de maneiras diferentes e lhes atribuía nomes,
de acordo com suas formas de percepção. Traçar linhas imaginárias entre certos
astros, para alguns povos indígenas de língua Tupi-Guarani naquilo que hoje
chamamos Brasil, era ver no céu um Homem Velho, uma Anta ou uma Ema; já na
cosmologia dos Tukano, seria possível avistar um Camarão ou um Tatu. Por sua
vez, na tradição africana dos antigos egípcios, ver uma barca, uma ovelha ou um
leão era desenhar essas linhas imaginárias com outros traços mentais. Os
antigos chineses dividiam o céu nas regiões do dragão azul, tartaruga negra,
tigre branco e pássaro vermelho, onde identificavam boi, coração e carruagem em
lugar das antas ou barcos de outros povos. Na linhagem ocidental que herdamos, desenvolvida
ou bebida pelos gregos junto aos povos do Oriente próximo, acabamos atribuindo
a essas linhas imaginárias as figuras de animais como escorpiões, peixes, touros,
caranguejos e cabras, de instrumentos como a balança, ofícios como um
aguadeiro, uma mulher virgem ou ainda figuras de sua mitologia como o homem
cavalo Sagitário ou o guerreiro Órion. Todas essas “constelações” são linhas
que a imaginação dos avós mais antigos, em diversas culturas, desenharam na
tela do universo que contemplavam. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv2KLw8ilhjnK3ccg2CkUyH47qqxlx2WfCkYjQgi0vIhsh7GQn6SZvlTNhmh_H58ojeT6y1FGBsJoN7vTtCCphUGrHUh2tWz1Oq7Zfo1uzrh2gUfM0DA9yRdLykgD7lGcwPhgyKjE9ELo/s794/Anta+do+Norte.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="524" data-original-width="794" height="264" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv2KLw8ilhjnK3ccg2CkUyH47qqxlx2WfCkYjQgi0vIhsh7GQn6SZvlTNhmh_H58ojeT6y1FGBsJoN7vTtCCphUGrHUh2tWz1Oq7Zfo1uzrh2gUfM0DA9yRdLykgD7lGcwPhgyKjE9ELo/w400-h264/Anta+do+Norte.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0pE-KINMy-2DMQAEvkvLy-kNHusksVUo9VGC1uE42izJ8nMANNRjtTSNu6csbERvepol8QN2fzc74K6zdUSu4mmT3_onpZXiFYuFXSpSzlQbb_hTbesofsgahAp7hXsznhn-pHOQKeTY/s500/Aqu%25C3%25A1rio.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="356" data-original-width="500" height="284" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0pE-KINMy-2DMQAEvkvLy-kNHusksVUo9VGC1uE42izJ8nMANNRjtTSNu6csbERvepol8QN2fzc74K6zdUSu4mmT3_onpZXiFYuFXSpSzlQbb_hTbesofsgahAp7hXsznhn-pHOQKeTY/w400-h284/Aqu%25C3%25A1rio.jpg" width="400" /></a></div><br /><span style="font-size: x-small;"><i>Cada cultura identificava nos desenhos mentais que fazia dos astros figuras familiares às suas vidas, como os Tupi-Guarani com a Anta do Norte e os Gregos com o Aguadeiro (Aquário). </i></span><br /><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Alguns daqueles astros pareciam
ter movimentos bastante fixos e previsíveis – sendo o Sol e a Lua os
governantes do dia e da noite e as constelações partícipes dessa dança – e,
portanto, observar sua trajetória e relacioná-la à mudança das estações era uma
maneira de organizar a faina nos devidos tempos. Outros pareciam errar ao longo
das estações do ano e ao longo de anos pareciam chegar mais próximos,
alinhando-se ou afastando-se. Para eles os gregos atribuíram o nome de errantes
ou vagantes, cuja palavra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Planis</i>
levou aos errantes planetas que parecem fazer movimentos muito inusitados no
céu ao longo das estações. Ainda havia aqueles fenômenos ariscos e rapidamente
mutáveis, mas familiares, que vinham aparentemente sem maior aviso e poderiam
ser benfazejos ou malfazejos, a depender das circunstâncias, estando neles orvalhos,
chuvas, temporais ou granizo, nevascas, aparentes exalações de fogos e rápidas
estrelas que pareciam cair e se evaporar no firmamento. Para tanto, a palavra
grega <i style="mso-bidi-font-style: normal;">meteoros</i> levou à observação dos
traços que indicassem a proximidade de alguns desses fenômenos e deu origem ao
que chamamos modernamente de meteorologia, que interessa a um agricultor que
precisa saber o tempo certo do plantio ou a uma jovem urbana que precisa saber
se “vai dar praia”. Percebendo a permanência de certas características
constantes no tempo (seco, quente, chuvoso, frio etc.), os gregos também
trouxeram a palavra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">clima</i> (pender,
inclinação), pois associavam a constância de certos tempos (neve no inverno ou
sol tórrido nos verões) a um padrão que levou à climatologia, que se relaciona
diretamente com um conhecimento irmão da Historiografia, a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geografia</i>, que descreve a Terra (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gaia</i>) em suas mais diversas fenomenologias e as relaciona à
interação entre os fenômenos humanos e naturais, podendo, inclusive, lidar com
fenômenos de mudanças na própria terra na qual pisamos e que transcendem o
tempo da ação humana através da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Geologia</i>.
Por fim, muito raramente, apareciam no céu astros de longas cabeleiras, vindos
sabe-se lá de onde e que sumiam tão misteriosamente quanto tinham aparecido.
Suas comas (as cabeleiras para os gregos) deram origem à palavra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cometas</i>, que pareciam astros que
carregariam presságios de mudanças inesperadas na ordem que parecia governar o
cosmo, que talvez trouxessem a desordem, ou o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">caos</i> (palavra hebraica herdada pelos gregos para <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ser coberto de trevas</i>) e que parecia
representar algo de antes da criação, de tempos tão profundos e distantes que a
mente humana não podia conhecer e geralmente deveria temer. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5EYR6SEWGikDeA2fO_1Sh8GOSIxDDq0C0qLREMG6dP-YWbktWbBVjyjzjj7zVsG74QyMuHDJYaZGzXoTKksxlWERSkhTndhr1imMQeHG6SPfGKuPm3RgwruCULl7LFE-phGaqTUO7ziI/s1200/Planeta+-+Bluteau.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="720" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5EYR6SEWGikDeA2fO_1Sh8GOSIxDDq0C0qLREMG6dP-YWbktWbBVjyjzjj7zVsG74QyMuHDJYaZGzXoTKksxlWERSkhTndhr1imMQeHG6SPfGKuPm3RgwruCULl7LFE-phGaqTUO7ziI/w384-h640/Planeta+-+Bluteau.jpg" width="384" /></a></div><br /><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><i>O </i>Vocabulario Portuguez & Latino<i> do Padre Rapahel Bluteau anotava no século XVIII essa denominação de errantes ou vagabundos para os planetas.</i></span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="text-indent: 35.4pt;">Em todas as culturas e
lugares, muitas vezes eram atribuídos a todos esses astros ou aos mais
portentosos que eram visíveis certos poderes e características divinas, para os
quais se deveriam observar certos respeitos e mesmo rituais para garantir
bonança e longa vida. Assim, culturas, no sentido mais pleno de materialidade
da vida e imaterialidade de suas representações mentais, estavam intimamente
ligadas aos instrumentos agrícolas que lavravam a terra ou ao uso das armas
para abate de animais e ao culto das forças primordiais que pareciam governar
tudo isso. Os céus e a Terra pareciam estar em estreito contato e os tempos
celestes e terrestres pareciam comungar destinos comuns. Para organizar essa
passagem dos tempos e estações, em suas regularidades e temendo as eventuais
rupturas, a palavra grega </span><i style="mso-bidi-font-style: normal; text-indent: 35.4pt;">Calein</i><span style="text-indent: 35.4pt;">
(chamar ou convocar para designar as ordens do tempo) deu origem aos
calendários (e há diversos deles para além dessa tradição ocidental que usamos),
que governam os ciclos e as setas dos tempos que se repetem ou dos que seguem
adiante para não mais voltar. A observação das posições do Sol e da Lua nos
céus governam as datações que os distintos calendários oferecem, de forma a
permitir contar o tempo que se passou ou o que ainda está por vir.</span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A obsessão em controlar a ordem dos tempos (e nela acomodar
fenômenos bem humanos como respeitar contratos e pagar contas) levou à busca de
calendários que fossem cada vez mais precisos na relação entre a observação das
regularidades da natureza e as necessidades das ações humanas. Não é à toa que
autoridades como Júlio César (séc. I a.C.) ou o Papa Gregório XIII (século XVI
d.C.) tenham determinado reformas nos calendários que designamos como Juliano e
Gregoriano (esse que usamos habitualmente no mundo ocidental). Algumas das
providências das grandes revoluções francesa e russa foram a de mexer no
calendário para demarcar novas formas de contagem dos tempos e de sua adequação
aos seus programas revolucionários. Não obstante, outras tradições usam outros
calendários e outras demarcações. No mundo ocidental, dividimos a contagem do
calendário entre antes e depois do nascimento de Cristo (a.C. e d.C.), tal como
estabelecido pela influência do cristianismo, muito embora chineses, judeus,
muçulmanos e outras culturas e povos utilizem distintas demarcações e
organizações dos calendários, tal como o calendário muçulmano, que usa a Hégira
de Maomé (ano 622 da Era Cristã) como esse ponto de demarcação. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEic5LTbQdYWA-0WdyTvREk2mqWtilVx7A2LS6X6x0MdJZhKMKi_MvXc-Z-_9HlG6iASzfwOnpUN_m0jtrYgz8mFB6JyjuYk3EINuw6hlhyRiDxg_2exCwQQ48XXbQgByaEErQGQnt5TXS0/s271/Torre+dei+venti.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="271" data-original-width="260" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEic5LTbQdYWA-0WdyTvREk2mqWtilVx7A2LS6X6x0MdJZhKMKi_MvXc-Z-_9HlG6iASzfwOnpUN_m0jtrYgz8mFB6JyjuYk3EINuw6hlhyRiDxg_2exCwQQ48XXbQgByaEErQGQnt5TXS0/w385-h400/Torre+dei+venti.jpg" width="385" /></a></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8mLUDYz4eRPgXoQmC-rJcGVX3e69Crm1l2_3xk2lwXumYKfYM6VHPk1vPeEa6sW-s4WoJiz0hbzHniXXCJZiCMfi_1gDo4EQAhZwWKyB4XgpuAiBr3iAKw4fpy-CRc6QRCLwFcKCi2Fw/s1293/Torre+dei+Venti+parete+sud+a+mezzogiorno.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1293" data-original-width="800" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8mLUDYz4eRPgXoQmC-rJcGVX3e69Crm1l2_3xk2lwXumYKfYM6VHPk1vPeEa6sW-s4WoJiz0hbzHniXXCJZiCMfi_1gDo4EQAhZwWKyB4XgpuAiBr3iAKw4fpy-CRc6QRCLwFcKCi2Fw/w397-h640/Torre+dei+Venti+parete+sud+a+mezzogiorno.jpeg" width="397" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: x-small;">Na Torre dei Venti, do Palácio Vaticano, os astrônomos Christopher Clavius e Aloisius Lillius observaram a defasagem do calendário juliano, levando o Papa Gregório XII a publicar a Bula Inter Gravissimas, em 24 de Fevereiro de 1582, determinando que após o dia 04 de Outubro daquele ano se pularia para o dia 15 do mesmo mês, dando um "cavalo de pau" de dez dias no calendário, que não foi aceito durante muito tempo. Na Rússia, apenas um Decreto assinado por Lenin em 24 de Janeiro de 1918 ajustou o calendário juliano ao gregoriano. </span></i></div><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Dezenas e dezenas de gerações se sucederam e ingressamos
naquilo que denominamos tempos modernos, nos quais as cidades ganharam
dimensões jamais vistas, a iluminação artificial começou a ofuscar a luz desses
astros, bem como a relação entre as pessoas e as forças da natureza passaram a
ser cada vez mais mediadas por instrumentos, muitas vezes criando uma total
alienação do olhar para entender o mundo ao redor, criando uma espécie de redoma
que faz com que nossas formas de sensibilidade se tornem muito distintas das de
nossos ancestrais. Os mais modernos de nós acabaram esquecendo de olhar
atentamente os céus, muito embora cosmólogos, astrônomos, meteorologistas e
astrólogos a eles continuem atentos nos seus ofícios e com seus objetivos e
métodos de perscrutar o éter (outro nome grego), seja em busca de respostas às
suas indagações mais diáfanas – quais as nossas origens e nossos destinos? –
seja em busca de indagações mais práticas – é tempo certo de plantar? Qual a
previsão do tempo para o próximo mês? Que cor de roupa me dará sorte no dia do meu
aniversário natalício? </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Os historiadores, muito embora às vezes não tomem consciência
disso, viajam nessas águas, à medida em que lidam com a mudança dos fenômenos
humanos nos tempos, palavra essa última que vem de uma divindade primordial
grega, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cronos</i>, o tempo, que devorava
seus filhos ao nascerem, e que levou a estarem muito atentos à cronologia e aos
calendários, para conseguir identificar na duração o lugar específico que cada
fenômeno humano ocupava e a sucessão ou repetição que esses mesmos fenômenos
apresentavam. Numa brilhante percepção, o escritor inglês Henry Fielding (1707-1754),
na sua obra prima Tom Jones, identificava o deus dos historiadores a um “deus
cervejeiro”, uma vez que essa divindade parecia viajar feito um bêbado por
séculos e eras, às vezes pulando extensas durações em apenas uma ou duas linhas
de seus escritos, quando diziam algo do tipo “nos três ou dois últimos séculos
a vida foi sacudida pela revolução industrial” ou quando olhamos para Cleópatra
e para as pirâmides de Gizé e identificamos tudo isso sob o rótulo “antiguidade
egípcia”, mas que feitas bem as contas descobrimos que a rainha, cuja aludida
beleza teria seduzido Júlio César e Marco Antônio, teria vivido cerca de meio
milênio mais próxima de nós que aqui hoje lemos essas linhas que das pirâmides
dos seus antepassados Faraós do Egito. Definitivamente, só cerveja para lidar
com essas grandezas. </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Afora tudo isso, sabemos que o tempo tem uma duração física e
outra psicológica que raramente se encontram ou muitas vezes se trombam. Basta
considerar os cinco minutos finais de um jogo de futebol e as sensações de quem
está ganhando por pouco e de quem precisa ganhar por pouco: para os primeiros,
esses cinco minutos se arrastam por uma verdadeira eternidade enquanto para os
segundos, os cinco minutos parecem se esvair em míseros segundos. Essa relação
entre as diversas formas de percepção da temporalidade nos colocam diante de
indagações poderosas sobre se nós passamos pelo tempo ou é ele que passa por
nós. </p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Um dos mestres do nosso ofício de tantos mestres, Fernand
Braudel, num artigo seminal, A Longa Duração, discute como essas diferentes
escalas de tempo se relacionam à vida humana. Desde o tempo febril das
atividades cotidianas, sob as quais muitas vezes surge o inusitado ou
inesperado, mas que observando numa escala de tempo muito prolongada pode
permitir entrever a permanência de hábitos arraigados ou as rupturas com os
mesmos. Chama atenção para fenômenos de curtíssima, curta, média, longa e
longuíssima duração, que convivem articulados num tempo que é simultaneamente
uno e múltiplo. Medir segundos, horas, dias, meses e anos estaria nas nossas
capacidades mais perceptíveis, séculos e milênios dependeriam de abstração por
ultrapassarem essa escala de vida humana. Para além da escala de vida humana (e
da própria humanidade enquanto espécie) estariam tempos profundos da geologia e
da astronomia, orçando em milhões e bilhões, algo incomensurável para a nossa
percepção concreta. Esses tempos exigem distintos calendários e relógios com
escalas muito distintas de mensuração. Parte deles pode ser percebida de forma
consciente (quando cronometramos uma partida de futebol ou a duração de uma
prova escolar) ou inconsciente (o tempo dos astros ou das batidas do coração,
que estão lá, mas que não costumamos ou não podemos contar). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Certo dia, ao ir para a UFPB ministrar uma aula sobre o
referido texto de Braudel, o autor dessas linhas se propôs a um experimento de tentar
tornar consciente pelo menos uma parte do tempo inconsciente, passando a anotar
mentalmente a troca de marchas no câmbio do carro ao longo do trajeto e
registrando as operações possíveis do próprio ato de dirigir ao longo do
caminho. Concentração absoluta no ato de dirigir. Só pode relatar que chegou
exausto e suando profusamente, bem como com a percepção bastante alterada
(porém nada perto de Aldous Huxley nas suas “Portas da Percepção”), não recomendando
esse experimento para qualquer ser em sã consciência. Ao anotar no quadro o
número de marchas trocadas e explicar o seu sentido, a cara atônita dos alunos
indicou que aquilo jamais deveria ser tentado novamente.</p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Todo esse rodeio sobre observações e tempo chega à Quarta-feira,
dia 16 de Dezembro do ano de 2020 da Era Cristã, quando alertado por uma
notícia, esse autor passou a observar no início de noite após noite o lento
movimento de aproximação das órbitas dos dois gigantes gasosos do sistema
solar, aqueles errantes que os gregos apelidaram de planetas, a saber, Júpiter
e Saturno (nomes romanos de Zeus e Cronos nas suas designações gregas), que
foram aparecendo cada vez mais próximos e visíveis a olho nu, numa conjunção
cujo ponto máximo se dará no dia 21 de Dezembro, ou seja, amanhã. Essas
aproximações e afastamentos dos planetas (na verdade separados por milhões de
quilômetros, mas aparentes para o nosso ponto de observação), derivadas da
trajetória de suas órbitas e da posição da Terra em relação a eles, permite que
aqui e acolá seja possível vê-los e perceber esse movimento “vagante” nos céus.
Inclusive, como as órbitas possuem ligeiras inclinações em relação ao Sol, nem
sempre as aproximações se estabelecem com os mesmos ângulos. Uma conjunção
plena, quando um planeta chega a eclipsar ou outro em relação ao nosso ponto de
observação, a Terra, é bastante rara. </p><p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="text-indent: 35.4pt;">No caso de Júpiter e Saturno, esse alinhamento acontece a
cada 20 anos terrestres, mas devido aos ângulos levemente inclinados de suas
órbitas, o nível de aproximação aparente para o observador nem sempre é o
mesmo. Já obtivemos notícias de fontes diversas que essas aproximações em
ângulos muito aproximados são bastante raras e que a última aconteceu cerca de
400 anos atrás e à noite cerca de 800 anos atrás. Era século XIII da Era Cristã
e VI da Hégira, nada a se desprezar no nosso tempo de vida humana.</span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN-e0ZhNLlQ3igcSCnB2ONVniI-RBQIhy-y-Uxj5g9S_fjPwnK-InxK-UePK6_fDDdXOLnCkr021BcOnidpNuqeYVHP2p7fpLXcm3rypZBJNSygx_x3V59gC7wk0TsiLgchlC3Uqw6ehw/s1086/Alinhamento.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="652" data-original-width="1086" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN-e0ZhNLlQ3igcSCnB2ONVniI-RBQIhy-y-Uxj5g9S_fjPwnK-InxK-UePK6_fDDdXOLnCkr021BcOnidpNuqeYVHP2p7fpLXcm3rypZBJNSygx_x3V59gC7wk0TsiLgchlC3Uqw6ehw/w400-h240/Alinhamento.jpg" width="400" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><i>Caminho do alinhamento entre Júpiter e Saturno. Foto Sky at Night Magazine/ Pete Lawrence.</i></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;"><i><br /></i></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span>Tem sido possível ver a lenta, mas perceptível aproximação
desses dois Reis do Sistema Solar, a olho nu, de maneira a poder experimentar
uma sensação que nos une aos nossos mais distantes avós e ver o relógio cósmico
funcionando, numa escala de tempo que está fora de nossa experiência concreta de
observação e percepção na quase absoluta parte do tempo. Depois de dois dias de
observação, os dois pequenos pontinhos distantes pareciam cada vez mais
próximos e seu movimento podia ser constatado noite após noite. Nessa noite do
dia 16, diante da magnitude do que víamos, fomos levados a constatar que
pessoas que viram tantos fenômenos espetaculares do cosmo, bem que gostariam de
ter essa chance que estava nos sendo oferecida caso tirássemos os olhos das
telas de celulares e dos televisores e levantássemos a cabeça para o céu.
Pessoas como Nicolau Copérnico, Tycho Brahe, Galileu Galiei, Johannes Kepler,
Isaac Newton, Albert Einstein e Carl Sagan, que tantas maravilhas cósmicas
puderam apreciar, bem que gostariam de estar junto conosco para ver essa, da qual
foram privados pela simples razão de terem vivido em tempos distintos dos
nossos. Não necessariamente visando fazerem grandes descobertas, mas talvez pelo fascínio de poderem ver esse fenômeno nessas condições tão prosaicas. </div><div style="text-align: justify;"></div><p></p>
<p class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn5IhWk7ReFXGckLLxWUo21WD6MzOC2ujdEptrfCO8hulVlEJkBqG2rNus4eqYU8pihGdq9mPOLqoQrAiz6L3jW-XzbFlWWLpupyS9NE82UtRvutEMHgltiwUQiomKApKh9T4yTdFpVzo/s1029/Alinhamento+06b.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1029" data-original-width="827" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjn5IhWk7ReFXGckLLxWUo21WD6MzOC2ujdEptrfCO8hulVlEJkBqG2rNus4eqYU8pihGdq9mPOLqoQrAiz6L3jW-XzbFlWWLpupyS9NE82UtRvutEMHgltiwUQiomKApKh9T4yTdFpVzo/w322-h400/Alinhamento+06b.jpg" width="322" /></a></div> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvjII8-FSNc9_l-kp9OLhqQEBIuep8E70DgrLvFKQp6hZqqunZbhI6AvheUdRGqC8nm3Wut6wJsrio4MG0siRRVAP2s-hXEhu_363PPd0zUGwu_j8xHSPqX3IMV-MbaG4DfZ4zvyK-ZLE/s953/Alinhamento+08b.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="953" data-original-width="765" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvjII8-FSNc9_l-kp9OLhqQEBIuep8E70DgrLvFKQp6hZqqunZbhI6AvheUdRGqC8nm3Wut6wJsrio4MG0siRRVAP2s-hXEhu_363PPd0zUGwu_j8xHSPqX3IMV-MbaG4DfZ4zvyK-ZLE/w321-h400/Alinhamento+08b.jpg" width="321" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i>Na noite de 17/12/2020, sendo possível perceber o alinhamento (desde que ampliando as imagens), fotografado pelo vizinho Érico Lucena. </i></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><br /></i></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"> Não poderia ser menor o nosso entusiasmo de ver os dois
gigantes gasosos, as duas velhas divindades gregas – ou os nomes que tivessem
adquirido em outras culturas – nos dar uma aula de observação de uma escala de
tempo que ultrapassa de longe a nossa percepção comum. Talvez ela nos aproxime
desses distantes avós e nos levem a ter a humildade de reconhecer a grandeza do
universo diante da singeleza das nossas vidas individuais, o que longe de nos
esmagar, eleva o nosso espírito e faz crescer o nosso universo interior, para
além do egocentrismo do “ser capitalista”, que imagina que o cosmo está ao seu
serviço e morre vítima de prepotência, ambição ou ainda depressão. O Titã Saturno, o velho
Cronos que governa os tempos e Júpiter, o Zeus maior do Olimpo, se cruzam mais
uma vez diante das retinas da humanidade e nos lembram que sempre é tempo de
mudança e que “o novo sempre vem”, como nos lembra com grande sensibilidade um
velho vate de nosso melhor cancioneiro. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div><p></p><br /><div>*Para a querida irmã Fátima, que comemora mais uma translação em sua vida, em pleno Equinócio de Verão no Hemisfério Sul o no dia do grande encontro dos gigantes gasosos no céu. </div></div>Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05435829930279856279noreply@blogger.com25tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-61872681045366198102019-07-02T13:23:00.002-07:002019-07-02T13:55:28.331-07:00Percebendo os calcetas: um aprendizado sobre a observação histórica.<br />
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O clássico texto Apologia da História, de Marc Bloch, em seu
capítulo 2, tece riquíssimas considerações sobre a observação histórica, que se
remete ao que os historiadores conseguem ver e como eles conseguem perceber
aquilo que veem. Com finas análises de um consumado mestre, Bloch fornece
lições para todas as gerações daqueles que se dedicam ao labor da História.<br />
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZYnRI0KZduY-AhO0-DHDf8EnxLDOov-ZEUMUYobn8NSR3-Ad-aSzfUZkWoKMDZi5VWUVtvuV7TWV_6bFViojdRlhlg2NK66hc95OaCjNlKZjpOupVNKVNk-Yua8sCza5bc0w-WP81scA/s1600/Calceteiros+02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="450" data-original-width="560" height="321" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZYnRI0KZduY-AhO0-DHDf8EnxLDOov-ZEUMUYobn8NSR3-Ad-aSzfUZkWoKMDZi5VWUVtvuV7TWV_6bFViojdRlhlg2NK66hc95OaCjNlKZjpOupVNKVNk-Yua8sCza5bc0w-WP81scA/s400/Calceteiros+02.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Os calcetas. Imagem do artista francês Jean-Baptiste Debret <br />
retratando o Brasil do século XIX. </td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Entre outras questões, um dos pontos centrais da argumentação
de Bloch é que o olhar do historiador deve estar sempre aguçado para perceber
detalhes aparentemente miúdos e que as respostas que um historiador obtém das
suas pesquisas depende fundamentalmente das questões que ele levanta; sem
questionário, sem indagações, sem problematizações, como mesmo diz Bloch <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“é o tudo pronto que espalha gelo e tédio”</i>.
Conclui esse capítulo nos lembrando que a pesquisa histórica não está despida
das surpresas, da possibilidade de se defrontar com o inesperado. <br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em Agosto de 2018, coube-nos a ventura de topar com um
conjunto de documentos aparentemente perdidos da Câmara Municipal da Cidade da
Parahyba (que hoje englobaria grosso modo os Municípios de João Pessoa,
Cabedelo, Lucena, Conde, Bayeux e Santa Rita), referentes à pequenos períodos
de inícios do século XIX e alguma coisa do início do XX, uma pequena parcela do
que deve ter existido em outros momentos. Daí desenrolou-se um projeto, que se
encontra em andamento, cujos resultados ainda deverão trazer algumas
possibilidades bastante ricas em termos da história da Cidade.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Fazendo um arrolamento muito geral do que foi entrevisto até
o momento, temos documentos sobre Escolas de Primeiras Letras, obras públicas,
abastecimento de gêneros, questões de política local, relações com o governo
Imperial, saúde pública, abastecimento de água, festividades cívicas e
religiosas, enfim, uma grande diversidade de temas que nos permite chegar um
pouco mais próximos do cotidiano da velha cidade.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW-rVvKvSEvS-jTHOrFfsATOnVXGKhlMzSYJ5Dj04IXinyWxsAlJXxUlNfYvcuMqtKDjDn2q6ubt57oKeqVhDPrt6EMd0XSsX5Ab0rLO0_9U5uq08KM1ZX6QSWAbOehoyTcBkBDyFmZRM/s1600/CONSERTO+DE+FONTES+02.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW-rVvKvSEvS-jTHOrFfsATOnVXGKhlMzSYJ5Dj04IXinyWxsAlJXxUlNfYvcuMqtKDjDn2q6ubt57oKeqVhDPrt6EMd0XSsX5Ab0rLO0_9U5uq08KM1ZX6QSWAbOehoyTcBkBDyFmZRM/s320/CONSERTO+DE+FONTES+02.jpg" width="240" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Presidente da Província informa não haver <br />
calcetas disponíveis para as obras de limpeza<br />
das fontes públicas [27/10/1826]</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Preocupado de maneira pessoal com questões ligadas ao
fornecimento de água, bicas, chafarizes, cacimbas, pus-me a observar com mais atenção
documentos que remetiam à essas questões. Num deles, localizado há alguns
meses, datado de 27 de Outubro de 1826, o Presidente da Província, Alexandre
Francisco de Seixas Machado, responde negativamente à uma solicitação da Câmara
acerca do fornecimento de seis <i style="mso-bidi-font-style: normal;">calcetas</i>
para a limpeza das fontes públicas, que estavam sofrendo de encalhes de areias,
devido a recentes enxurradas na Cidade. Focado na questão das fontes e do
encalhe das areias, deixei passar em brancas nuvens o termo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">calcetas</i> e a vida seguiu seu rumo.
Supunha ser algo ligado à calçamento, mas não aprofundei o significado da
intrigante palavra.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Passado certo tempo, um aspecto do todo da documentação me
dava alguma inquietação, que diz respeito à quase invisibilidade do mundo do
trabalho e das pessoas dos trabalhadores, muito embora um historiador treinado
no ofício saiba que ele e eles está e estão lá. No que foi visto até o momento,
só um documento fala explicitamente de escravos, outro menciona certas
atividades de pesca, olaria e plantio de capim na baixada do Varadouro, outro,
ainda, cita a existência de teares na cidade, mas tudo é muito escasso e
fugidio como são certas histórias que decorrem quase à sombra, quase invisíveis
no “grande palco da História”; o trabalho e os trabalhadores normalmente
habitam esses desvãos. <br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Dessa inquietação, nasceu uma indagação sobre
onde poderia haver pistas fugazes desses trabalhadores e seus trabalhos no meio
daqueles velhos papeis. Foi quando o documento das fontes e das areias se
transformou no “documento dos calcetas”. A mudança do foco do olhar e a
pergunta que não havia sido feita, trouxeram outra história tão rica à tona, a
história do uso do trabalho compulsório para apenados durante o período
colonial e imperial. A rápida lembrança de uma imagem, já vista tempos antes,
de Jean-Baptiste Debret, que falava de calcetas, foi o estalo sobre o que
estava lá – à vista – e ainda não tinha sido visto. <br />
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI-hTlJZmc7q-pOdFc10Unf-T7tSfNB4Ll_gEcCUek2byp37EdJfE_ZUD93M8uR-s6ktUUSR5abX0XjaaGC1CNn8fZP3lOYf0jzcbjzd3L_1ot_fb-wtsd6-ZLQzgUry6FLeLlBD4gWRg/s1600/Calceteiros+03.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="771" data-original-width="1600" height="191" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjI-hTlJZmc7q-pOdFc10Unf-T7tSfNB4Ll_gEcCUek2byp37EdJfE_ZUD93M8uR-s6ktUUSR5abX0XjaaGC1CNn8fZP3lOYf0jzcbjzd3L_1ot_fb-wtsd6-ZLQzgUry6FLeLlBD4gWRg/s400/Calceteiros+03.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Jean-Baptiste Debret registrou essa imagem de calceteiros [calcetas] em ação no <span style="font-size: 12.8px;">Rio de Janeiro, por volta de 1835.</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A palavra ganhou imagens, ganhou história, à qual se juntaram
Debret e minha aluna Aldenize, que contribuiu com uma interessante referência
sobre uma “revolta dos calcetas”, ocorrida nos Açores (Portugal) em 1835, na
qual esses apenados acabaram duramente reprimidos pelas forças locais. Essa é
uma daquelas histórias que ganham vulto à medida em que são esmiuçadas e que
novos olhares e novas perguntas são postas.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><br />
<span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
No documento em tela, além da problemática da água na cidade,
estava contada uma história do trabalho e das obras públicas em outros tempos
na Parahyba de antanho. Atrás da simples palavra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">calcetas</i> estava toda uma hierarquia social misturada a uma
segregação racial tão inerente a séculos de nossa história. Lá estavam essas
pessoas muitas vezes anônimas e escondidas nas sombras voltando ao proscênio da
história; aqueles que executavam com seus braços os afazeres que mantinham a
cidade em movimento nos tempos de lá e nos de cá. <br />
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Após tantas leituras e aulas ministradas com o texto sempre
novo do velho Bloch, eis um professor de História aprendendo uma lição de
história, o que acaba sendo uma fascinante possibilidade de um conhecimento que
tem a marca de um contínuo fazer, e esse fazer – é bom que se diga – é um
trabalho.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
<br />Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05435829930279856279noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-9376852283379435862018-11-25T08:19:00.001-08:002018-11-26T03:15:55.568-08:00ALÉM DOS RÓTULOS E ATRAVÉS DA RÓTULA – UMA BRINCADEIRA DOMINICAL COM AS URUPEMBAS E A HISTÓRIA.<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 120.5pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Devendo huma vez acabar com o antigo e
impolitico uso das urupembas nas portas, e janelas nas ruas ainda as principais
desta Cidade, o que só podia admitido nos principios rusticos da primeira
fundação... serem tiradas as ditas urupembas, e substituirem com algum outro
reparo que quizerem como gelozias ou vidraças... </i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Deus guarde a Vossas Senhorias
por muitos annos. Palacio do Governo da Parahyba. 26 de Outubro de 1825 <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 120.5pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfwMf-syu5rKlLuj7fHN94kO31xxfwPEIKWn50MX3KsZxNdz3OgPyWBAlGANZDHfjnuiNoTzfYZS0kbp2mO5a1UHydscDfGQV8l5Sc431UR7kAVKjSWlxGdgw_jPzVytTD_YkV39t60rY/s1600/URUPEMBAS+01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1140" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfwMf-syu5rKlLuj7fHN94kO31xxfwPEIKWn50MX3KsZxNdz3OgPyWBAlGANZDHfjnuiNoTzfYZS0kbp2mO5a1UHydscDfGQV8l5Sc431UR7kAVKjSWlxGdgw_jPzVytTD_YkV39t60rY/s400/URUPEMBAS+01.jpg" width="285" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 120.5pt; text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Recentemente tivemos a ventura de topar com uns documentos tidos
por perdidos da Câmara de Vereadores da antiga cidade da Parahyba. Trata-se de
um esparso conjunto de papeis que englobava de maneira incompleta e descontínua
os anos de 1814-15, 1824-28 e 1910-12. Sobraram do muito que se perdeu em
muitas décadas pelos motivos mais diversos. Não se trata de um enorme volume,
mas acaba se transformando num acervo bastante significativo, dada a
possibilidade que permite ver aspectos escassamente conhecidos ou
praticamente desconhecidos da vida urbana nesses momentos. Os pesquisadores
encontrarão muito do que se fartar nos próximos tempos.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A diversidade de assuntos é muito rica e damos aqui uma ideia
geral do que se encontra nesses velhos papeis: regulamentação ou proibição de
currais de pescaria por atrapalharem a navegação do rio; briga com o Vice
Presidente da Província pela nomeação do Médico da Cidade logo após à derrota
da Confederação do Equador; falta de Professores de Primeiras Letras; problemas
de recuperação de estradas e pontes em Mandacaru e Gramame, com decorrentes
dificuldades para o abastecimento de farinha para a Tropa Paga e para o Mercado
Público devido à importância estratégica da Ponte de Gramame; notícias diversas
da Corte Imperial, como nascimento do Príncipe Herdeiro, aniversário do
Imperador, falecimento da Imperatriz entre outras; atos de política
internacional como notificação e júbilo pelo reconhecimento da Independência do
Império do Brazil pelo Reino de Portugal, Tratados Internacionais de Amizade, Navegação
e Comércio <span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">entre
o Império do Brazil e os Reinos da Prússia, a Liga Hanseática e o Império da
Áustria; ação de ladrões em Gramame; Festejos da Padroeira Nossa Senhora das
Neves; briga entre um Padre e umas "molheres apelidadas as Venancias" (quem seriam essas Senhoras? Daria um ótimo nome para uma banda de Rock local) p</span><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">or acesso à água numa cacimba no lugar das
Convertidas (atual Maciel Pinheiro); providências para conserto de fontes e
bicas de água. Resumindo: há uma pletora de fragmentos da vida urbana da velha
Parahyba que serve como uma pequena cápsula do tempo dos tempos d’antanho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Um dos documentos mais curiosos que encontramos, e que causou
certo espanto de quem o viu, é de uma Vereação de 26 de Outubro de 1825, no
qual o Presidente da Província Alexandre Francisco de Seixas Machado fala do
uso das urupembas nas portas e janelas das casas da Cidade e determina sua
remoção em breve tempo. O que seriam as tais urupembas e por que que as mesmas
eram vistas, no começo do século XIX, como algo impolítico, ou seja, marca de atraso e
de costumes rústicos que deveriam ser combatidos?</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<a href="https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/09/06/tecnicas-construtivas-do-periodo-colonial-iii/">As urupembas seriam uma espécie de treliças colocadas nas janelas e portas, que teriam finalidade de sombrear o ambiente interno mantendo a sua ventilação, bem como isolando o espaço interno das casas do olhar indiscreto das ruas</a>. Supostamente, seria possível ver o que se passava nas ruas, sem ser
visto. Isso permitiria o recato necessário às mulheres naquela sociedade
distante de nós quase dois séculos, mas cujo uso já era considerado impolítico
por um Presidente de Província. Como entender essa situação aparentemente
banal?</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Bom, não se tratava apenas de uma questão estética como pura
forma, mas de como uma determinada forma de sociabilidade se manifestava
através de uma simples estrutura de janela das casas. O "ver sem ser
visto" poderia ser fonte de mexericos (hoje modernizados com o nome brega
de <i>fake news</i>). Por outro lado, o historiador Paulo César Garcez Marins, no seu
interessantíssimo livro "Através da Rótula: Sociedade e Arquitetura Urbana
no Brasil, séculos XVII a XX", mostra que as treliças de madeira que
pareciam isolar o interior das casas do ambiente externo, também eram brechas
de passagem para atos não tão adequados para a moralidade da época. Inclusive, acrescentamos
aqui que o nome gelosia aplicado a algumas dessas janelas, vem da palavra
italiana gelosia, que advém de uma palavra árabe de mesmo significado, que em
português é ciúme. A gelosia seria a garantia de maridos ciumentos. Seria?<br />
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMnKXpJzm2XF6P1Ih7xwJfwWKL4CqaI-JWmAj8hV7qEVKvRRUBJf257uLAhAE_IIJ-WdL1g15Ka1pGszgfTDkjV3tRjgm0nUlIrUjrNyGXDa8NVr40Mko7lqKTXMLq0sWZ5inxX6V_eMY/s1600/IMG_20181125_131002903.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1079" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMnKXpJzm2XF6P1Ih7xwJfwWKL4CqaI-JWmAj8hV7qEVKvRRUBJf257uLAhAE_IIJ-WdL1g15Ka1pGszgfTDkjV3tRjgm0nUlIrUjrNyGXDa8NVr40Mko7lqKTXMLq0sWZ5inxX6V_eMY/s400/IMG_20181125_131002903.jpg" width="268" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Curiosamente, a mesma palavra gelosia é usada no francês
jaloux e no inglês jealous. Está numa magnífica música de John Lennon,
"<a href="https://www.youtube.com/watch?v=wADRRYNHhOA">Jealous Guy</a>" (em nordestinês paraibano algo como "caba
ciumento").</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E a palavra urupemba ou urupema? De onde viria esse nome? Bom,
é tupi e significa uma peneira feita de talas de madeira para peneirar
mandioca. Como lembra uma treliça, temos o termo urupemba usado para essas
treliças que ficavam nas janelas e que a autoridade da velha Parahyba viu como
impolíticas.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Do reduzido espaço de uma janela pudemos nesse jogo lúdico juntar
os antigos moradores da Parahyba, a arquitetura mediterrânea e árabe, a palavra
ciúme em italiano, francês e inglês, o grande caba ciumento John Lennon e uma
estrutura treliçada que ganhou um nome tupi devido a uma peneira de farinha.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Tá misturado aqui arquitetura, economia, moralidade pública e
privada, música pop, a velha Parahyba e por aí vai. Sem besteira de
"rótulos" de “nova história de sei-lá-o-que”, “sei-lá-mais-que",
talvez chamar de História já seja mais que suficiente, pois, como diria o velho
Marc Bloch “é o tudo pronto que espalha gelo e tédio”. Através das rótulas das
Histórias e sem se ficar mesmerizados nos rótulos, muita coisa passa ou pode
passar de um lado para o outro, sejam as práticas licenciosas esperadas das recatadas domésticas, sejam algumas coisas intragáveis apresentadas como a mais pura ciência.</div>
<br />Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05435829930279856279noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-91628585336648859392015-08-29T16:50:00.004-07:002015-08-29T17:46:37.976-07:00Da visibilidade à transformação social<div style="font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px;">
<span style="color: white; font-family: 'PT Sans', Arial, 'Arial Unicode MS', Helvetica, sans-serif;"><i style="background-color: black;"><br /></i></span>
<span style="color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i style="background-color: black;">* Publicado originalmente na <a href="http://www.cchla.ufpb.br/ncdh/?page_id=1021">Coluna de Opinião do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB</a>, em 24/11/2014. Lamentavelmente, parece que o quadro então apontado se confirma.</i></span></div>
<div style="font-family: 'PT Sans', Arial, 'Arial Unicode MS', Helvetica, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Talvez a melhor função de um trabalhador intelectual que se pensa solidário a algum movimento social – e a palavra social aqui não está colocada gratuita nem casualmente – seja a de estabelecer algum apoio crítico (e não incondicional), que aponte eventuais problemas e sugira alguns elementos para a reflexão, que é uma condição necessária para uma ação efetivamente transformadora dessa mesma sociedade. Poderá se questionar com alguma boa dose de razão: por que alguém que não sofre exatamente na pele esses problemas, tem direito de dar algum “pitaco” sobre aquilo que não é da sua conta? Exatamente por não sofrê-los diretamente na pele, talvez isso possibilite obter uma sensibilidade/percepção particular para essas questões e apontar dimensões não percebidas numa outra condição, mais ou menos como: quem está de fora, vê diferente. Enfim, todo o apoio crítico merece ser igualmente criticado e o próprio exercício da contradição pode nos permitir afiar os argumentos intelectuais, aporte mais que necessário ao bom encaminhamento das boas lutas.</span></div>
<div style="font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: white;"> Parto de uma constatação que pode/deve ser errônea – e que inviabilizará todo o restante –, mas que pode ter algum grau de plausibilidade e contribua para entreabrir toda uma zona de reflexão/ação. Indo direto ao ponto, penso que as políticas de ações afirmativas, principalmente de bem sucedidos movimentos negros e homossexuais (abarcando uma grande diversidade de condições), realizadas num crescendo desde a década de 1990, têm efetivamente atingido um de seus objetivos mais caros, que é a questão da </span><strong><i><span style="color: yellow;">visibilidade</span></i></strong><span style="color: white;"> de uma série de discriminações/repressões que estariam invisíveis na nossa sociedade, ou seja, o racismo e a homofobia seriam componentes estruturais e ocultos de nossa teia social e seria necessário trazer esses discursos e práticas à luz do dia para ser possível combatê-los efetivamente (não deixando de esquecer que essa paleta de horrores reúne ainda outras tintas tão fortes quanto o machismo e outras práticas que chamaremos de “nefandas” (que não devem ser ditas), bem ao gosto do linguajar do Santo Ofício da Inquisição). Não resta dúvida que o noticiário nos vomita dia a dia uma série generalizada de situações que deixam às claras os paroxismos de racismo e homofobia que sacodem nossa sociedade; se se desejava tornar visíveis esses problemas, parece que o objetivo foi em larga medida atingido e essas perversões ocultas vieram se explicitar na cena pública.</span></span></div>
<div style="font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Essencialmente, atacaram-se as bases de nossas ideologias integrativas/agregadoras, que pretendiam interpretar nossa ordem social como dotada de uma grande plasticidade para absorver suas próprias contradições e resolvê-las de modo singular num grande oceano de malemolência e afetividade (e doses maciças de sadomasoquismo Brasil varonil afora). Talvez, sua expressão mais bem acabada e intelectualmente eficaz esteja num autor muito condenado e, lamentavelmente, pouco lido (e combatido equivocadamente de maneira simplista e insuficiente), Gilberto Freyre. Freyre tem como diapasão fundamental não uma pueril ideologia da democracia racial – que pode ser derrubada com um piparote fraseológico ou com um arroubo de <em>slogan</em> – mas uma sofisticadíssima percepção daquilo que denomina <em><b>equilíbrio de antagonismos</b></em>, que seria uma engenhosa capacidade social/cultural brasileira de sublimar os intensos antagonismos que sacodem nossa sociedade, de criar uma zona de confraternização, indistinção, penumbra e quase total invisibilidade que elide esses antagonismos para uma dimensão oculta, que permite que os mesmos se resolvam sem desagregar o tecido dessa singular sociabilidade. O seu corolário quase necessário seria que, dada essa possibilidade de equilibrar esses antagonismos nas “alcovas sociais”, cada um “saberia o seu lugar”, por introjeção de regras implícitas, e seria possível manter um discreto <em>status quo</em>, sem ser necessário tornar muito explícitas e formalizadas as regras de dominação/discriminação/repressão. Tudo se resolveria numa democracia racial, onde a violência seria apanágio de indivíduos torpes, não de toda uma sociedade encoberta pelo manto da afetividade que nos garantia que o brasileiro era bonzinho e a empregada era “quase da família”. Seria assim como se resolvêssemos na “casa” aquilo que não deveria ir à “rua”. No bipolo homem/branco/heterossexual, estaria a mulher/negra/homossexual e cada qual saberia de antemão qual o seu papel. Mostrar que existia realmente racismo e homofobia, por baixo dessa capa de docilidade, seria uma missão essencial para enfrentar e superar esse “atavismo nacional”.</span></div>
<div style="font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Se os movimentos de ações afirmativas permitem elevar indivíduos de segmentos sociais anteriormente excluídos à proa da sociedade (mesmo que ainda amplamente minoritários), têm como subproduto trazer à tona aquilo que denunciam: o caráter racista e homofóbico dessa sociedade, antes introjetado e agora explicitado. Nada a estranhar, então, com as explícitas e horrendas manifestações daqueles que subjetivaramo <em>ethos</em> do mando e, agora, se sentem desafiados e desautorizados em casa e na rua pela intensa visibilidade do que estava encoberto e vem se mostrar à luz do sol. Nada a estranhar – e tudo a repudiar – com o comportamento de gente que faz questão de estacionar seu carro possante em duas vagas como desafio explícito ao espaço público. Outro intelectual de porte, Sérgio Buarque de Holanda, já tinha nos alertado sobre esse desapreço estrutural ao espaço público, o que podemos traduzir nos dias que correm, pelo desrespeito dos direitos do outro. Casos escabrosos se repetem e chegam às manchetes ou redes sociais, envolvendo desde o incômodo raivoso de <em>sinhôs</em> e <em>sinhás</em> com empregadas e pedreiros – não raro, afrodescendentes – viajando de avião, ou ainda de bons pais, mães e filhos de família revoltados com homoafetividades explicitadas, até o mais <a href="http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/cotidiano-2/motorista-xinga-servidores-de-transito-com-carta-racista-apos-ter-carro-rebocado/">recente e absurdo caso da <em>sinhá</em> fortalezense</a> que atacou verbalmente e por escrito dois trabalhadores que rebocaram seu carro estacionado irregularmente, dizendo a um deles que, graças à maldita Princesa Isabel (seria uma sublimada Isabel Rousseff?), ele não estava no tronco, que era o lugar que o mesmo merecia, não sem antes proferir toda a espécie de sortilégios de pragas e maldições que fizeram o inquisitorial século XVII falar pela sua boca.</span></div>
<div style="font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Não houvesse isso, essa verdadeira explosão de nossos esgotos sociais/culturais, Freyre estaria redondamente certo. A luta pela afirmação não será ganha numa parada cívica na qual os desafetos de ontem baterão palmas para os novos heróis; desafiados e inseguros, os que se sentiam até ontem donos da casa (e da rua), partirão para tentar afirmar seus lugares, defender seus privilégios, provavelmente se tornarão mais raivosos e agressivos, mas isso os movimentos não devem temer ou estranhar. Devem enfrentar sem partirem para a “guetização”; devem falar para toda a sociedade, em vez de se encastelarem em pequenos grupos de solidariedade; devem estabelecer laços maiores de solidariedade e articulação, enfrentando efetivamente a sociedade de sinhôs e sinhás que gerou no mesmo ventre racismo, homofobia e todo o cortejo de horrores que não começam nem acabam aí. Se quiserem se tornar sinhôs e sinhás negros e/ou homossexuais numa “nova ordem”, a casa grande e o patriarcalismo terão saído vencedores, apenas incorporando mais alguns personagens privilegiados, que olharão sobranceiramente das varandas para aqueles que labutam duramente ao sol.</span></div>
<div style="font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Ou seja, se o negócio era dar visibilidade ao que era antes invisível, agora a luta muda de patamar: é necessário encontrar uma forma efetiva (e social) de combater essas verdadeiras patogenias sociais, bem além da mera afirmação (necessária, mas não suficiente) de indivíduos afrodescendentes e homossexuais a lugares de proa de nossa sociedade. Trata-se de mudar as regras do jogo e não apenas de encontrar um nicho no jogo alheio. Bem além de travar ruidosas batalhas lingüísticas (dos que vêem ingenuamente as linguagens como constituintes e não como constitutivas das relações sociais), é necessária a coragem de mudar lugares sociais, ou mais, de mudar efetivamente a sociedade, e, aqui, sociedade não é mais um jogo de linguagem, é aquilo que paga as contas dos soldados da linguagem e que tem uma concretude bem real e, muitas vezes, dolorosa.</span></div>
<div style="font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Numa das críticas mais pertinentes que já vi a Gilberto Freyre, Luís Felipe de Alencastro (<em>A Pré-Revolução de 30</em>. IN: Novos Estudos CEBRAP, nº 18, Set, 1987, p. 17-21) apontou cirurgicamente que o gênio de Apipucos só pôde criar sua engenhosa e sofisticada formulação elidindo do engenho/berço da nação os fluxos de comércio internacional, que tinham o tráfico de escravos numa ponta e a demanda de produtos agrícolas na outra. Ou seja, em bom e velho idioma sonante: só escondendo sorrateiramente as relações capitalistas, pôde Freyre mergulhar tudo num saboroso “caldeirão de cultura”. O historiador ainda apontou argutamente, ao final do referido artigo, que o livro ainda teria belos dias diante de si, como obra seminal da ideologia patriarcal. Todo o cuidado é pouco para que o patriarcalismo apenas não amplie sua plasticidade, em vez de ser efetivamente liquidado, como herança quase perene do nosso belo e saudoso passado.</span></div>
<div style="font-size: 13px; line-height: 22.75px; margin-bottom: 13px; margin-top: 13px; padding: 0px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: white;"> Parece que, agora, mais que a visibilidade, é necessário apostar na </span><strong><i><span style="color: yellow;">transformação social</span></i><span style="color: white;"> </span></strong><span style="color: white;">efetiva, no custoso enfrentamento e desmonte de todo esse pesado </span><em style="color: white;">ethos</em><span style="color: white;"> patriarcal que domina séculos de nossa sociedade e que resistirá tenazmente a qualquer mudança, ou cooptará os mais talentosos para o seu regaço (que terão sido como aqueles arrivistas que dizem ser contra o capitalismo – ou algo mais diáfano como “o sistema” – apenas por que não são burgueses, aderindo rapidamente tão logo encontrem alguma prebenda dando sopa). É necessária uma segunda onda de visibilidade, a </span><strong><i><span style="color: yellow;">visibilidade da necessidade de transformação social</span></i></strong><span style="color: white;">, pois a manutenção das redes de poder (às vezes obliteradas em engenhosos jogos de linguagens), que chamamos capitalismo e sociedades de classes, é que garantem a perpetuação de espécies diferentes de dominação/sujeição/discriminação/exploração, que aparecem modernamente em outras práticas igualmente nefandas como a agressão física e moral a mulheres, o horror patológico a pobres, a superexploração dos trabalhadores, a periculosa agressão/destruição socioambiental, enfim, essa dantesca paleta de cores fortes que tornam hediondos os cenários de nossas vidas coletivas. E não basta mudar/acrescentar os personagens da trama, é preciso destruir mesmo essa trama e contar uma outra história. Não criar um mundo de novos senhores, mas um mundo sem senhores.</span></span><br />
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-50335010641804084972014-10-24T15:31:00.001-07:002014-10-24T16:37:01.912-07:00José Dias, o alterego da classe média brasileira?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjq1JD3fh15k1kaUNeO92zol712fwfkshIaqqdGQxlwb8GO29QY5ypP3WeI_9mtA2nvkEiefVYswCV4MacFJzWh4sm2Katlw9FtFbHFu6nWI-EH9Qn_9vXT3i2-7NF9ktcZ6abEF5kUBuw/s1600/Beija+m%C3%A3o.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjq1JD3fh15k1kaUNeO92zol712fwfkshIaqqdGQxlwb8GO29QY5ypP3WeI_9mtA2nvkEiefVYswCV4MacFJzWh4sm2Katlw9FtFbHFu6nWI-EH9Qn_9vXT3i2-7NF9ktcZ6abEF5kUBuw/s1600/Beija+m%C3%A3o.gif" height="190" width="320" /></a></div>
<img src="file:///D:/documentos/TEXTOS/Beija%20m%C3%A3o.gif" /><br />
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<i>Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos: não abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole. </i>Machado de Assis. Dom Casmurro.<br />
<br />
<br />
O dramaturgo Plínio Marcos, em uma de suas geniais tiradas, chamou a classe média de "classe mérdea", por enxergar nos seus "valores" uma indisfarçável e profunda hipocrisia, marcada pelo mais absoluto servilismo frente aos poderosos e a total impiedade em relação aos pobres. Tudo isso mergulhado num seboso caldo cultural de preconceitos teimosamente enraizados, onde vicejam racismo em formas disfarçadas ou explícitas, aversão aos pobres, machismo, homofobia e toda essas ditosas práticas de teor semifascista.<br />
<br />
Tal comportamento serviu de alimento para o apoio entusiasmado de segmentos expressivos de nossas classes médias à histeria anticomunista ao estilo UDN, às infames marchas da família, ao apoio fervoroso ao golpe militar de 1964, entre outras tristes passagens de nossa história. Nos dias bicudos que correm, essa atitude se reflete no ódio insano contra melhorias na condição de vida de pobres, adesão aos discursos inflamados da bancada da bala, entre outras elevadas propostas que honram a nossa humana espécie.<br />
<br />
Como explicar esse comportamento?<br />
<br />
Bom, haveria uma vintena de hipóteses que abordassem a questão pelos mais diversos ângulos. Muitas de grande valor. Arriscamos, aqui, uma delas.<br />
<br />
Bem no ocaso do século XIX, aquele que se marcou pelo auge e pela extinção legal da escravidão, Machado de Assis criou um personagem quase arquetípico, que poderia ser definido como um alterego de nossa classe média.<br />
<br />
José Dias era um agregado da casa de Dona Glória, senhora viúva de certas posses e de família bem situada na boa sociedade. A virtuosa matrona mantinha alguns criados e escravos de ganho e vivia com conforto e distinção numa bela e bem situada residência. José Dias havia servido fielmente o finado marido de Dona Glória e se mantinha na casa como uma espécie de ministro <i>factotum</i>, bajulando calculadamente seus superiores e mantendo toda a criadagem sob firme comando.<br />
<br />
Dias pode ser considerado uma espécie de avô transcendente dessa classe média, espremida entre a escravidão e o senhorio. Muita servilidade para com os maiores. Muita ferocidade para com os subalternos. No horizonte, a expectativa de amealhar alguns tostões e poder - por sua vez - viver a divina ventura de ter seus próprios escravos e poder ser chamado de senhor. Como diria o velho padre-economista-tecnocrata Antonil, com sua frieza tucana lá pelos distantes confins do século XVIII, que ser senhor era título por muitos aspirado, porque trazia consigo ser servido, obedecido e respeitado.<br />
<br />
Pois bem, foi-se a escravidão legal, mas seus vestígios arqueológicos prosseguiram vicejando com força nos nossos alegres trópicos. Homens e mulheres negros e de toda uma paleta de cores mestiças continuaram submetidos a uma condição de infra-cidadania, sem acesso à educação, à moradia própria, ao trabalho condigno, a toda uma série de direitos básicos numa república que tenha qualquer coisa de pública. Não é casual que a Constituição de 1988 se auto-intitule "Constituição-cidadã", quando essa condição já deveria existir plenamente um século antes, com o final legal da escravidão. Não é à toa que os planos escolares ainda falem de construção da cidadania, numa clara admissão de que a mesma ainda é uma quimera para muitos brasileiros.<br />
<br />
Para as classes médias situadas nessas fímbrias, restou o <i>josediismo</i>, que consiste em fazer todo o tipo de salamaleques para os ricos e vociferar contra os pobres. Sempre na esperança de um dia alcançarem o senhoriato. Não poucos egressos da pobreza, tal como dizia o sagaz senhor de engenho Brandônio, lá na Paraíba pelas profundezas do século XVII, despiram a pele velha de cobras-pobres e se engalanaram com as mais finas sedas e brocados. Esquecidos de suas humildes origens, assumiram a soberba mais absoluta. Bem no apagar das "luzes" do século XVIII, o professor de grego luso-baiano Luís Vilhena, deles falava que se empavesavam como a mais aparatosa fidalguia e tratavam os filhos como nobres, cujo Imperador da China seria indigno de ser seu servo.<br />
<br />
Os José Dias de nossos dias seguem fascinados pelo brilho sonante do capital, leem avidamente revistas que mostram a ostentação dos muito ricos ou bregas. Em compensação, quando sobem a escada social, tratam as empregadas e serviçais como ninguém, meras máquinas de trabalhar. Criam seus pequerruchos como condinhos, marquesinhos ou barõezinhos, cercados de afagos e mimos, mas não cogitam de mandar os pimpolhos aprenderem a valorizar o trabalho manual dos que os alimentam e prestam todos os serviços para seus confortos.<br />
<br />
Alguns, alçando-se aos píncaros universitários, ao chegar aos dourados portões da academia, esquecem que um dia foram aprendizes e se tornam verdadeiros feitores de almas. Não poucos, para dourar ainda mais seus brasões, apresentam, aos pés de seus nomes nos endereços eletrônicos, uma enxurrada de títulos e honrarias que fazem lembrar aqueles grandiloquentes e cafonas ao estilo "grão-cã dos tártaros", "mil vezes grande de Espanha", "martelo dos hereges", "herói dos campos elísios", "exterminador dos infiéis", "campeão dos fariseus" e tudo o que mais a mente humana puder elucubrar. Um e-mail que recebi com o pomposo título de "Prof. Dr. Titular fulano de tal" já diz tudo. Sobre esses tipos, cabe o que o historiador francês Jacques Le Goff falou sobre alguns intelectuais pretensamente revolucionários do medievo, cujo "sonho deles é um mecenas generoso, uma gorda prebenda, vida folgada e feliz. Querem antes, parece, tornar-se os novos beneficiários de uma ordem social do que mudá-la". Lá se vão quarentões ou cinquentões gabolas, pressurosamente copiados por seus cãezinhos amestrados de vinte e poucos... <br />
<br />
Qualquer perspectiva de virada da situação, significa ameaça ao <i>josediismo</i>, que passa a aderir ao que houver de mais repressivo contra os subalternos.<br />
<br />
- Como, eu que pastei como escravo aos pés do meu senhor, poderei deixar de ter os "meus" próprios escravos no dia em que juntar meus trocados? Isso é subversão, é comunismo, é ameaça aos sagrados valores da família, da tradição, da propriedade, do altar e da pátria, é um escândalo!!!<br />
<br />
Nada para causar surpresa, quando um bolsista agraciado com uma temporada de estudos no exterior, se volta ferozmente contra o governo que criou condições para que essa bolsa fosse concedida.<br />
<br />
- Como dar essa chance a outros? Se muitos mais tiverem essas bolsas, não terei meu diferencial, meu valor agregado, e não poderei ser um grão-senhor a ser servido, obedecido e respeitado...<br />
<br />
Nada a estranhar na mesquinharia aeroportuária de nossos bem-nascidos.<br />
<br />
- Como aceitar que uma empregada ou um pedreiro ande de avião? Onde estão as hierarquias? No tempo de vovó Donalda essa gente era tratada a base de chibata e sabia muito bem qual era o seu lugar...<br />
<br />
Nada a estranhar quando profissionais de determinadas carreiras queiram se considerar verdadeiras nobrezas togadas.<br />
<br />
- Como aceitar que esses cargos herdados de pai para filho desde o saudoso Tomé de Sousa caia nas mãos de rebentos dessa patuleia nojenta? Onde já se viu? Para os amigos as benesses governamentais, para os inimigos os rigores da lei...<br />
<br />
Nada a estranhar quando os terratenentes do <i>agrobusiness</i> se neguem terminantemente a aprovar e por em vigência a Emenda Constitucional do Trabalho Escravo, no Anno Domini de 2014 da Graça de N.S.J.C.<br />
<br />
- Como essa rafameia quer salários dignos e direitos trabalhistas? Onde já se viu não poder mais nem empunhar meu querido chicote em paz?... ah, nos ditosos tempos de vôinho e vóinha...<br />
<br />
Nada a estranhar, quando aparecem nas redes antissociais, as mais diversas expressões de fascismo cultural, com seu cortejo de ódio e discriminações.<br />
<br />
- Como essa ralé quer ser gente? No máximo lhes cabe é receber algum pouco trocado para não entupir a cara e os cornos de cachaça, bando de preguiçosos, vadios, fedorentos, gente feia. O bom mesmo é gente rica e bonita...<br />
<br />
Nada a estranhar. Eles não falam o que pensam pensar. José Dias fala pelas suas bocas e pensa pelas suas cabeças. <br />
<br />Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-35542566173366565252014-07-16T08:51:00.000-07:002020-03-31T11:00:08.817-07:00Ditadura é isso aí!<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
</div>
<div>
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<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid83bBEJ2SF2A-KE276nEJFVvjAFkID5mirwE3R8AE6gybIvt9b-gq4orlrIi3J5kM9OTc5jjCNSUlzI9kbT2xE3LMaRISv4-PcPtA0jBi5WIBvm_Ipetf11MaHd0kAL_CPumw0meb8WE/s1600/COQUETEL+01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid83bBEJ2SF2A-KE276nEJFVvjAFkID5mirwE3R8AE6gybIvt9b-gq4orlrIi3J5kM9OTc5jjCNSUlzI9kbT2xE3LMaRISv4-PcPtA0jBi5WIBvm_Ipetf11MaHd0kAL_CPumw0meb8WE/s1600/COQUETEL+01.jpg" width="273" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb5w0iVHjEGNH5WtYLWS2HSp7CyCjzqX013qpck0SAFyRslvfSYo1UUNRRpatm7t62XTQrzPHDpQhZtsZYnbGALrEMxkh_3lRPjPSkhOuz41asOH0AOSj0MLb9jTcK6hGRUL3dcxuLSCg/s1600/COQUETEL+02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb5w0iVHjEGNH5WtYLWS2HSp7CyCjzqX013qpck0SAFyRslvfSYo1UUNRRpatm7t62XTQrzPHDpQhZtsZYnbGALrEMxkh_3lRPjPSkhOuz41asOH0AOSj0MLb9jTcK6hGRUL3dcxuLSCg/s1600/COQUETEL+02.jpg" width="273" /></a></div>
<br />
<i style="text-indent: 35.4pt;">Informação oficial notificando as autoridades sobre o perigo escondido em "inocentes" Dicionários e Palavras Cruzadas. A subversão internacional atuando solerte onde menos se esperava. </i><br />
<br />
<br />
Está lá no papel amarelado da
Informação 230/74 da Assessoria Especial de Segurança e Informações da
Universidade Federal da Paraíba, emitida no dia 12 de Dezembro do ano 1974 da
Era cristã. Oriunda dos insondáveis “escalões superiores”, se informava aos
Diretores dos Centros que circulavam entre professores e alunos publicações de
alta periculosidade: os verbetes subversivos do Dicionário de Ouro da Língua
Portuguesa, de Éverton Florenzano e uma Palavra Cruzada Coquetel Jumbo, com
cruzadinhas apologéticas a políticos cassados.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Não, incrédulo leitor, isso não é
uma brincadeira digna das Diatomáceas da Lagoa, é um documento oficial da
República Federativa do Brasil, que através de um de seus órgãos, constatou por
intermédio de um araponga zeloso de suas funções arapongais, que o referido
Dicionário trazia os verbetes capitalismo e comunismo com fortes tendências
esquerdizantes. Para corroborar suas ações em defesa da segurança nacional no
combate da “democracia e cristandade contra o comunismo ateu”, o operoso e
modelar funcionário público dedicou-se a comparar os verbetes capitalismo e
comunismo com os constantes no famoso Dicionário Aurélio, constatando que o
circunspecto dicionarista tratava tais verbetes com a devida neutralidade, o
que provava as intenções subversivas do seu colega.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Para mostrar como se tornava ainda
mais alarmante o perigo de tal doutrinação sobre os jovens e impressionáveis
cérebros de escolares e universitários, observava o espião patriota que o
divertimento de palavras cruzadas instilava de forma hedionda e subliminar o
veneno subversivo sobre suas pobres vítimas, fazendo referências positivas a
políticos nacionais e estrangeiros comprometidos com a propaganda dos comunas,
certamente teleguiados a partir dos porões moscovitas, centro nervoso do
comunismo internacional.<br />
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDZLdUqqN4zOvhTuddCfBya6t4XtNbqGcI9S6RVOGJV1vKF8bLMr7WvM1iq4GnKUfJBRRlMjh8mVr_rac5E5DA795016-m54LxnT0HKTSGBgPv2Sd6JEYppHgRSzGOuFREmGkJ8limOvM/s1600/Palavras+Cruzadas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDZLdUqqN4zOvhTuddCfBya6t4XtNbqGcI9S6RVOGJV1vKF8bLMr7WvM1iq4GnKUfJBRRlMjh8mVr_rac5E5DA795016-m54LxnT0HKTSGBgPv2Sd6JEYppHgRSzGOuFREmGkJ8limOvM/s1600/Palavras+Cruzadas.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="text-align: start; text-indent: 47.20000076293945px;"><span style="font-size: small;"><i>Segundo o zeloso araponga, o "inocente" divertimento instalava o veneno comunista nas mentes incautas. Autoridades de segurança da Mickeymouselândia já determinaram a proibição de venda de cruzadinhas em aeroportos e seu uso em aviões, pois pode ter algum plano de extremistas absconso nas entrelinhas e estimular os passageiros a cometerem maluquices aéreas.</i></span></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i> </i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Certamente, uma ditadura faz
grandes coisas, constrói grandes obras, promove grandes negociatas sob o sigilo
cerrado das autoridades, realiza grandes atos repressivos com constrangimentos,
perseguições, torturas ou eliminações físicas de seus opositores. Mas as
ditaduras também são campo fértil para a imbecilidade nossa de cada dia. No
cotidiano ditatorial se misturam grandes e pequenos feitos, cruéis e bárbaras
ações de violência e pequenas vinditas levadas a cabo por pequenos asseclas do
regime.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Essa gente dá o tipo de suporte
que parece conferir uma base “popular” ao regime. É composta de pequenas peças
da grande engrenagem – tais como o nosso honorável e letrado araponga que
espionou o Dicionário e as Palavras Cruzadas – que articulam as coisas grandes
e as miúdas, tal como tivemos oportunidade de falar em outra ocasião nessas
mesmas Terras.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Uma vez enviada essa assombrosa
Informação aos administradores universitários, notificava-se – para o alívio da
mãe gentil e gáudio da democracia ocidental –, que os diretores da editora de
ambas as publicações haviam se comprometido a corrigir os problemas nas futuras
edições, em nome da segurança pátria, não deixando de desqualificar o
dicionarista nos seguintes termos: “o autor, um ex-oficial da FEB, não parecia
pessoa capaz de emitir suas opiniões num dicionário”!!!.<br />
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrF_Z_X4j1o4ity5IOQh0zREfq8LRuyihplkJiVpzjRDwrYaAeA9fV-ovcE87vNFgOolAHBUqJWex7HDOuWcyWFqx8V0TRAYEUY4GSYEEizlXOYdoBB3izsMkoceW77MAeuhC8SgAAk9A/s1600/Dicion%25C3%25A1rio+Florenzano.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrF_Z_X4j1o4ity5IOQh0zREfq8LRuyihplkJiVpzjRDwrYaAeA9fV-ovcE87vNFgOolAHBUqJWex7HDOuWcyWFqx8V0TRAYEUY4GSYEEizlXOYdoBB3izsMkoceW77MAeuhC8SgAAk9A/s1600/Dicion%25C3%25A1rio+Florenzano.jpg" width="129" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="text-align: start; text-indent: 47.20000076293945px;"><i><span style="font-size: small;">O Dicionarista-subversivo teria utilizado a publicação para difundir opiniões esquerdistas. Material de doutrinação subliminar comuna circulando entre os estudantes ingênuos, que foram protegidos pelos altos e baixos escalões da segurança nacional. "O preço da liberdade é a eterna vigilância".</span></i></span><i style="font-size: medium; text-align: start; text-indent: 47.20000076293945px;"> </i></td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i><br />
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Consideradas essas titânicas
revelações, solicitavam os escalões médios dos setores de segurança e
informações aos Diretores de Centro da colenda Universidade Federal da Paraíba
que evitassem a adoção de tais publicações, acrescentando prudentemente que as
mesmas autoridades acadêmicas agissem de forma discreta, para evitar atenção da
comunidade, especialmente dos alunos. Tudo isso registrado com os devidos
carimbos que deveriam garantir o eterno sigilo dessa história singular.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
A aparatosa ditadura militar
parece ter sido tragada pela noite dos tempos – pelo menos o seu aspecto
castrense, incômodo, espalhafatoso e oneroso, parece ter sido tirado do caminho
– mas a grande ditadura econômica continua vicejando lépida e fagueira por
essas plagas. Essa mesma se solda com a pequena ditadura do cotidiano, expressa
nas micro-violências dos que possuem alguma fatia de metal ou poder e conseguem
descarregar seu autoritarismo e intolerância sobre os que os cercam e não
possuem tais requisitos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Quanto às Palavras Cruzadas ou
Dicionários não há mais necessidade de fiscalizar se são ou não subversivos,
afinal, ler e escrever não são bem passatempos prestigiados nos tempos felizes
que correm. Hoje, esse araponga das cruzadinhas é passível de riso, mas a coisa
não foi bem assim em datas pregressas...</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;"><br /></span>
<span style="text-indent: 35.4pt;">Dedicado a Mirza Pellicciotta,
que dividiu comigo a melhor parte dessas reflexões e preservou cuidadosamente esses documentos. </span></div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-16195834707033212352014-07-08T21:09:00.000-07:002014-07-08T21:50:11.907-07:00As chuteiras douradas e a seleção amarela<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div style="text-align: right;">
Ângelo Emílio da Silva
Pessoa</div>
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-left: 4.0cm; text-align: justify;">
<i>As collonias... são estabelecidas
em utilidade da metrópole. Por máxima fundada nesta utilidade os habitantes das
Collonias devem ocupar-se em cultivar, e adquirir as producções naturaes, ou
matérias primeiras, para que sendo exportadas à Metrópole, esta não só della se
sirva, mas aperfeiçoaduas possa também tirar das collonias o preço da mão
d’obra e possa commerciar no superfluo com as Nações estrangeiras</i>. AUTOR DESCONHECIDO. <b>Roteiro do Maranhão a Goiás pela Capitania
do Piauí. (final do século XVIII).<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A título de exemplo, diz-se que o Clube de Regatas Flamengo possui cerca de 25 milhões de
torcedores. O time com maior torcida no país, nesse sentido, possuiria em torno
metade da população espanhola, inserido numa economia que é maior que a daquela
nação ibérica. Como explicar, então, que esse time – tal como diversos outros
de porte similar – viva de pires na mão, apesar dos grandes negócios de vendas
de jogadores para times espanhóis, italianos, alemães, ingleses, ucranianos,
turcos, e por aí vai, em escalas decrescentes de economia e poder
futebolísticos?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Como explicar que a mídia esportiva brasileira comemore tão efusivamente
quando um craque de um time nacional seja vendido para um time estrangeiro (quando deveria protestar veementemente contra essa situação) e –
alegadamente tão ciosa da moralidade – não discuta efetivamente os esquemas de
evasão fiscal, lavagem de dinheiro e outros trambiques, alguns bastante notórios e bem recentes? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Vamos a alguns fatos:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Por circunstâncias de jogo, o time brasileiro até poderia ter vencido a
Alemanha no jogo que se encerrou há pouco. Um gol brasileiro no início, certa
instabilidade alemã, novo gol no contra-ataque e placar seguro na base do
drama, tal como se deu com a Colômbia. Afinal, a seleção alemã que enfiou 7
gols no time brasileiro, chegou a passar maus bocados com os EUA, a Argélia e
Gana, que não são assim potências tão consideráveis. Por outro lado, as
individualidades do time brasileiro não são jogadores de baixo nível técnico, a
comissão técnica é experiente e tem resultados, mas, o conjunto, simplesmente,
não aconteceu, não chegou a existir um coletivo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Posto isso, o time brasileiro simplesmente se desmanchou como uma
maionese que desanda. Na cultura popular, a amarelinha amarelou. Não padeceu de
apagão futebolístico, mas de apagão moral (falo da moral coletiva e não do caráter
certamente excelente de cada jogador), desmanchou-se e a prova mais dolorosa é
que nenhum gol foi resultado de contra-ataques do time tedesco, mas de ataques
não combatidos por uma equipe canarinho absolutamente apática, totalmente bisonha. Os 5 a 1 da
Holanda sobre a Espanha foram resultantes de tentativas desesperadas dos
espanhóis de correr atrás do placar adverso, os 7 a 1 da Alemanha foram obra do colapso de um quase-coletivo que não chegou a se realizar. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Parece que o time esteve a perigo em outros jogos, mas a casa só caiu na
undécima hora. Digo time, e não seleção, basicamente porque não existe seleção
brasileira: sem culpas dos jovens jogadores, eles não jogam no futebol
brasileiro, não frequentam estádios brasileiros, não convivem com a população
brasileira. São vendidos como produtos coloniais, tal e qual o procedimento que
o anônimo do século XVIII dizia sobre o Brasil de antanho (ou hodierno?). Nos
tornamos fornecedores de matérias-primas e usamos camisas de Barcelona, Bayern,
Milan e times estrangeiros com orgulho de torcedores sinceros. Pouco a pouco as
camisas e as histórias dos times nacionais vão se tornando meras barrigas de
aluguel para gerar craques que irão atuar em outros gramados. A conta é fácil:
de Flamengo, São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Internacional, Vasco
e outros times outrora poderosos, não havia NENHUM no time brasileiro. Enfim,
onde não existe o futebol de qualidade no dia-a-dia não há como se gerar um
selecionado verdadeiro, dá apenas para catar um time às pressas, treinar uns
30, 40 dias e torcer para a coisa engrenar à base de individualidades
inspiradas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Para o craque maior (com parcelas decrescentes do mesmo método para os
demais), a receita foi abusar do <i>merchandising</i>,
propagandear cuecas, óculos, chuteiras douradas e outros bibelôs, enquanto o
futebol ia minguando a olhos vistos. Basta ver que depois das tais chuteiras
douradas e umas tantas baixadas de calção para promover a fábrica de cuecas, o
futebol foi declinando. Certamente o “garoto” não merecia a séria contusão e
pode ainda fazer uma bela carreira, mas deve diminuir a publicidade e amassar
um certo barro e comer mais feijão com arroz antes de superar gente como
Rivelino, Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho, Sócrates, Didi, Zico, Ademir da Guia, Falcão,
Djalma Santos, Leônidas da Silva e tantos outros que envergaram a famosa
“amarelinha”. Por ironia do destino, nas velhas gestas de cavaleiros andantes,
quando algum dos duelantes movido pela vaidade vestia uma armadura ou usava uma
espada dourada, acabava inapelavelmente derrotado. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Para a torcida que estava presente às partidas – a maior parte de gente
que tinha bastante dinheiro para pagar o espetáculo mas nunca pisou num
estádio, não vive o dia-a-dia dos times brasileiros, não participa da “cultura
popular” do futebol – a coisa se resumiu a não ter palavras de ordem (ou
repetir o surrado "eu sou brasileiro..."), vaiar hinos estrangeiros, xingar a
Presidente, esbanjar <i>selfies</i> e outras
coisas que não representam exatamente o que se passa nos estádios brasileiros, nos jogos
sem badalação e toneladas de dinheiro, que fazem parte da cultura futebolística
que foi (e digo FOI porque a coisa está passando e a história que interessa é a
do futuro) a verdadeira força do futebol brasileiro. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O <i>slogan</i> que dizia “agora somos
um”, representa, como devíamos saber, uma imaginação de nacionalidade, que
supostamente expressaria nossa projeção ante o mundo. O futebol é algo no qual
supostamente damos certo, somos superiores, e isso é uma espécie de contraparte
do tal complexo de vira-latas, tão ciosamente e secularmente pregado pelas
elites brasileiras contra o nosso povo, tratado como boçal, preguiçoso,
incapaz. De repente, em meados do século XX, no cerne desse povo visto como chinfrim,
nasce uma espécie de arte que poderia projetar algo positivo em torno desse
imaginário da nação. Não à toa que, a par das manipulações políticas e
negociatas econômicas, o futebol se constituiu n as brechas como uma espécie de patrimônio
cultural do povo e da nação. Essa cultura futebolística afagou nossos sonhos de
grandeza, de justiça, de melhoria. Chega a ser ironicamente doloroso – ou sintomático
– comemorar o centenário da seleção com um fiasco de tal magnitude. </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
É essa cultura futebolística – verdadeira galinha dos ovos de ouro – que
está sendo esganada pela ganância desenfreada dos dirigentes, empresários e
jornalistas-empresários do meio, que estão longe de sofrer algum prejuízo mesmo
quando os times e as seleções perdem os jogos e os campeonatos. Nossa cultura
futebolística já havia perdido o campeonato bem antes da Copa começar. </div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-62491373128175927682014-06-06T15:23:00.002-07:002015-05-14T06:43:43.528-07:00A escravidão vai acabar, seu Edgar?<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;"><br /></span>
<span style="text-indent: 35.4pt;"> Na efervescência
político-cultural do início da década de 1960, Oduvaldo Vianna Filho escreveu a
peça </span><i style="text-indent: 35.4pt;">A mais-valia vai acabar, seu Edgar</i><span style="text-indent: 35.4pt;">,
que marcou uma proposta de engajamento bastante relevante para a época. Hoje,
passadas cinco décadas, virou meio senso comum criticar por diversos vieses a
produção artístico-cultural daquele momento, mas jamais podemos abstrair que
aquela produção estava situada num contexto muito próprio de conservadorismo e
que teve inegáveis méritos na abertura de novas frentes políticas e estéticas
no Brasil.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Mas o que nos importa, nesse
momento, parafraseando o título da peça de Vianninha e inserindo um provocativo
sinal de interrogação, é indagar sobre a atualidade de um velho problema: a
permanência da escravidão nas fímbrias da modernidade (ou até na sua intimidade
mais insuspeita). Sob as mais diversas vestimentas ou disfarces, em sua face
moderna ou arcaica, a escravização de pessoas continua a alimentar um sistema
de exploração escravista associado ao mais avançado e cosmopolita capitalismo. Em
suas formas rurais e urbanas, nos rincões ou nas metrópoles, munidos de laptops
ou enxadas, a miríade de práticas escravistas floresce onde menos esperamos. Que
dizer do trabalho em condições similares à escravidão em carvoarias,
plantações, extrativismo e outras ocupações de brutal exploração da força
física? Absolutamente execrável. Mas, o que dizer de insidiosas formas “pós-modernas”
de condições similares à escravidão, alojadas nos recônditos das sofisticadas
operações do mundo cibernético-informacional?<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg19Eue4XjSrF_D6JzTmUDIkbsX7v1wMswbRgCHu6MKReXo9fDZPeAx2oNpo4Scc0oSCc4f25LMXcXbvtVsTFsr5phMSWJl33LsEOIyQSrJ4Zs6DvsU4XnkAy0Ikskd5xwOOv_vAlHoEtc/s1600/Trabalho+escravo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg19Eue4XjSrF_D6JzTmUDIkbsX7v1wMswbRgCHu6MKReXo9fDZPeAx2oNpo4Scc0oSCc4f25LMXcXbvtVsTFsr5phMSWJl33LsEOIyQSrJ4Zs6DvsU4XnkAy0Ikskd5xwOOv_vAlHoEtc/s1600/Trabalho+escravo.jpg" /></a>Ao obliterarem o trabalho como
dimensão constituinte da vida social, diversos intelectuais não trouxeram à
baila novas formas de liberdade, mas colaboraram para disfarçar formas diversas
de sofrimento humano embutidas nas nossas diversas formações sociais. Não
queremos dizer que as mais que honrosas e meritórias lutas contra todas as
formas de discriminação racial, religiosa, sexual e outras não possuam um
potencial necessário e indispensável para a mudança de atitudes humanas, apenas
argumentamos que tais lutas não deveriam, sob qualquer hipótese, assumir uma
feição exclusivista ou “corporativa”, reunindo pequenos cenáculos que se
limitam a digladiar contra os diferentes, na mesma medida em que exaltam o
direito às diferenças.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Dito isso, a escravidão
contemporânea se mantém, mesmo a par dos exaltados discursos de liberdade de
alguns, munidos da mais fina retórica, mas adeptos das mais brutais ações para
extrair ganhos do suor alheio. A escravidão contemporânea persiste porque
existe gente (e não pouca) que ganha com isso, gente que é escravista, que tem
mentalidade escravista, que pratica as mais diversas formas de autoritarismo e
exploração.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6upajh49dEMU2dKi54XjNP4LxuR1-7VDbXSFp4ulkHYI1YEk-2Dc58q7NGs5GxS_eJFlbKbvhsYBX2wndpk2s_nlo02RQ6pIMGzCC4oGSgaesJccSqfQi8w92fNNOlIo2yVF50LScbPw/s1600/Trabalho+Escravo+03.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6upajh49dEMU2dKi54XjNP4LxuR1-7VDbXSFp4ulkHYI1YEk-2Dc58q7NGs5GxS_eJFlbKbvhsYBX2wndpk2s_nlo02RQ6pIMGzCC4oGSgaesJccSqfQi8w92fNNOlIo2yVF50LScbPw/s1600/Trabalho+Escravo+03.jpg" width="214" /></a></div>
<br />
Relevante produção intelectual se
debruça sobre o problema das práticas escravistas atuais e revelam sua considerável
amplitude, densidade e modalidades, uma vez que nem sempre a mesma é perceptível de maneira
inequívoca e evidente, exigindo certo grau de investigação para sua detecção. Além
do mais, há problemas conexos, como trabalho infantil e de grupos em estado de
vulnerabilidade, além de prática de racismo, coação, entre outros delitos e crimes de variada natureza. Entidades diversas denunciam essas situações, elaborando
relatórios e boletins, veiculando informações ao público.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPoXBCAj46orG_iiL8tpv9FbyTUCj5y_Hm5QzBYxw0OaWhK19uMkfTETToKf62cHWELzr1283vJc29K4VFzijFhXzYsjTOX4A3IxV7X0C2RHTu6ZYiqbdqc75AEpmjbviB2JeNH2CK3Bg/s1600/Trabalho+Escravo+04.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPoXBCAj46orG_iiL8tpv9FbyTUCj5y_Hm5QzBYxw0OaWhK19uMkfTETToKf62cHWELzr1283vJc29K4VFzijFhXzYsjTOX4A3IxV7X0C2RHTu6ZYiqbdqc75AEpmjbviB2JeNH2CK3Bg/s1600/Trabalho+Escravo+04.jpg" width="221" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;">A aprovação, ontem, dia 05 de
junho de 2014, da <a href="http://www.trabalhoescravo.org.br/">PEC 57A/1999</a>, que coíbe a prática do Trabalho Escravo no
Brasil, foi resultante de uma longa luta e contou com grande dificuldade de
tramitação. Foram decorridos 15 anos desde sua apresentação inicial. O prazo
demonstra a dificuldade da luta no campo legislativo para se obter algum avanço
nesse sentido. Outrossim, é necessário ir além do discurso moralista de que “todo
político rouba” para entender efetivamente as questões em jogo e quais os lados
da questão. O simplismo moralista só alimenta quem já ganha com isso há muito
tempo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
E essa situação vem de bem longe.
A Lei 3.353/1888, a conhecida Lei Áurea, extinguiu legalmente a escravidão no
Brasil. Veja-se e frise-se – legalmente –, porque as diversas formas de escravidão
extra-legal ou ilegal permaneceram como práticas esparsas ou generalizadas país
afora, vazando o século XX e adentrando o XXI. Em 1968, por exemplo, o
Inquérito 460/68 se dedicava a investigar a existência de trabalho escravo em
fazendas de Goiás e Mato Grosso. Denúncias pipocavam em regiões diversas do
país, especialmente nas frentes de expansão de fronteira agrícola, como o sul
do Pará, muito embora essa fosse a parte mais visível do problema.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNnBUeOvEZFpwvcQIXCxTv6HIwMtYJcpW2uCEibLa41SkfsdcQmvOggAEuYE198h69fHgtDgpfyTDEoPe2dKB3fI4XrAgbb4knnYV-oELJzAhZEIyte5RcjBxBmwpBR3ukWW6A-5gO1PI/s1600/Trabalho+escravo+02.jpg" imageanchor="1" style="display: inline !important; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-indent: 35.4pt;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNnBUeOvEZFpwvcQIXCxTv6HIwMtYJcpW2uCEibLa41SkfsdcQmvOggAEuYE198h69fHgtDgpfyTDEoPe2dKB3fI4XrAgbb4knnYV-oELJzAhZEIyte5RcjBxBmwpBR3ukWW6A-5gO1PI/s1600/Trabalho+escravo+02.jpg" width="241" /></a></div>
<br />
Em 1994, a Comissão de Trabalho,
de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados instituiu a
Subcomissão Especial de Trabalho Escravo, que levantou em regiões diversas do
país e distintas atividades econômicas (rurais e urbanas) a persistência de
formas variadas de escravidão, que implicava em “formas análogas à escravidão”,
algumas vezes difíceis de definir do ponto de vista jurídico. Por serem
práticas veladas em maior ou menor grau, seria necessária uma ampla definição
dos possíveis significados de trabalho escravo ou em condições similares à
escravidão.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Essas variegadas práticas de
escravidão e a dificuldade da definição legal de suas fronteiras se tornaram brechas
usadas pela bancada escravista (vamos denominá-la explicitamente assim) para
tentar barrar de todas as formas a aplicação de medidas legislativas e
judiciais voltadas para coibir esse nefasto abuso. Um de seus pontos-chave é o
confisco legal de propriedades nas quais forem detectadas práticas de
escravidão. Nesse ponto, reside o maior cerne da resistência dos setores
escravistas.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Não dizemos escravistas à toa. Em
28 de janeiro de 2004, fiscais do Ministério do Trabalho que investigavam denúncias
de trabalho escravo na cidade de Unaí (MG), foram assassinados a tiros.
<a href="http://reporterbrasil.org.br/2014/01/dez-anos-depois-cinco-acusados-pela-chacina-de-unai-ainda-nao-foram-julgados/">Passados 10 anos, os acusados de serem mandantes da chacina ainda não foram a julgamento</a>. Recebem todo o tipo de acobertamento das lacunas legislativas e da
morosidade judiciária em apurar tal tipo de crime. Quando se trata de
poderosos, a propalada lentidão judiciária se torna ainda mais clamorosa.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
A PEC do Trabalho Escravo ainda
demanda sua efetiva regulamentação, o que demandará em novo front de lutas contra
a bancada escravista e a certeza que a <b><span style="color: red;">escravidão ainda não acabou, seu Edgar</span></b>. </div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-84251668918647080712014-03-31T09:19:00.001-07:002014-03-31T09:32:52.199-07:00A Ditadura que continua<div class="MsoNormalCxSpFirst">
<br />
Algumas teorias que tentam entender os nossos avoengos mais primitivos –
aqueles que singravam as savanas em busca da sobrevivência própria e, por
conseguinte, da espécie – informam que esses remotos antepassados recorriam a
todo o tipo de circunstâncias par obter alimento, entre as quais o recurso à
exploração de carniça de animais remanescente da predação de carnívoros mais
potentes. Ser carniceiros foi uma condição que permitiu à espécie frágil obter
energia suficiente para sobreviver e seguir em frente.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
De
certa forma, nossos ascendentes primevos competiam com as hienas pela carniça e
esse traço da espécie parece ter remanescido em alguns, mesmo após milênios de
evolução física e cultural. Parte da espécie, digamos, a que conseguiu avançar,
passou a entender que não precisa manter-se em luta contra tudo e todos para
sobreviver, viver e bem viver. Estabelecendo meios de cooperação, de
colaboração, usando o intelecto verdadeiramente <i>sapiens</i>, compreendeu que seria possível melhorar a vida de cada um
e de todos e não gerar danos maiores ao restante da espécie e da natureza.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Outra
parte, parece que manteve ao traço psicológico das hienas e tem necessidade quase
transcendente de carniça para seguir em frente. Empunhando um chicote ou um
avançado aparelho eletrônico, está ali um ser humano em seu estado mais
atrasado, que podemos denominar homem capitalista (diga-se, de passagem, que
estamos usando o termo homem em seu velho significado genérico, muito embora
concretamente esse ser possa se manifestar em sexos, gêneros, etnias, culturas
distintas). Para esses seres atrasados, comportar-se como feras parece ser algo
meritório (se vangloriar como fera, animal, águia etc), mas seria melhor que os
denominássemos como hienas, uma vez que é da carniça que realmente gostam,
abusando do perfil de valentões (desse tipo de covardes que só são valentes mesmo
quando estão cercado por gangs de agressores físicos ou de assessores munidos
de laptops), enquanto escondem sua fragilidade intrínseca, pois só conseguem viver
sugando o esforço alheio, roubando e saqueando o suor dos demais, agredindo o
restante de sua espécie e o planeta. Há algo mais irracional do que alguém se
jactar de ser um bilionário? É simplesmente ridículo para o conjunto da
espécie.<br />
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5baVnBERrH17ygRxlGk9Eb84jFAEj_e_mvHUVhUIDx-LWsdNMqikV9EuBcPhVncVWOm8lVzP2dmV8dxHVdmS0lpVxK7jj2jTGolSQqe9lpvshi5h4TKcigCyqMqkKFNcJXZVAcwc5cYs/s1600/castigo+Debret.gif" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5baVnBERrH17ygRxlGk9Eb84jFAEj_e_mvHUVhUIDx-LWsdNMqikV9EuBcPhVncVWOm8lVzP2dmV8dxHVdmS0lpVxK7jj2jTGolSQqe9lpvshi5h4TKcigCyqMqkKFNcJXZVAcwc5cYs/s1600/castigo+Debret.gif" height="228" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Hiena em versão antiquada, empunhando o chicote.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizPh07HNZXHuWVZlcrBYQacNRlEa-dRgF8gOwzwLr0VLBsYiv6-ehH8mk5R1Ec_GMZO4os3e2FE9hkqnLIGc6NFSjuf71EplpecnzjNr4BN45e4e3qcmpobcg4DfvPamRz6Xw45Iq-gts/s1600/Bolsa-Valores.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizPh07HNZXHuWVZlcrBYQacNRlEa-dRgF8gOwzwLr0VLBsYiv6-ehH8mk5R1Ec_GMZO4os3e2FE9hkqnLIGc6NFSjuf71EplpecnzjNr4BN45e4e3qcmpobcg4DfvPamRz6Xw45Iq-gts/s1600/Bolsa-Valores.jpg" height="200" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Hienas em versão moderna continuam a farejar carniça.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
<br />
<br />
<br />
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<br />
<br />
<br />
<br />
É
desses humanos atrasados que se fizeram os regimes de exploração social (em
suas múltiplas e concretas configurações) e o capitalismo e que se criam as
diversas formas de ditaduras políticas, econômicas e culturais, que nos fazem
lembrar que está mais que atual o dilema “socialismo ou barbárie” que importa
em escolhas que realmente exigem coragem: não devemos sugar o trabalho e o
esforço alheios, não devemos aceitar que outros sejam explorados ou massacrados
em função de suas diferenças ou fragilidades. Socialismo não deve significar
qualquer forma de ditadura, mas a supressão mesmo de todos os regimes que
promovam essas mazelas.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Chegando
de perto à ditadura brasileira, podemos identificar seus traços em séculos de
escravismo, no profundo desprezo que nossas elites-hienas têm por aqueles que
lhes alimentam e geram as condições de seus luxos (inclusive com a formulação
de “teorias” de inferioridade mal disfarçadas pelo cinismo e pela hipocrisia),
pela luta insana que empreendem pela manutenção de privilégios arraigados por
séculos. Nesse sentido e para estes, a ditadura não foi um problema, foi
exatamente uma solução encontrada para brecar as lutas dos subalternos para
fazer valer seus direitos: a luta de trabalhadores rurais e urbanos pela
melhoria de suas condições concretas de vida (salários, moradia, lazer, educação,
cultura), a luta de negros, mulheres, minorias religiosas, indígenas,
homossexuais e todos os grupos diferenciados pelo respeito aos seus direitos e
ao exercício de suas diferenças. A luta, todas as lutas pela dignidade, pelo
respeito, pelos direitos, pela igualdade de fruição aos bens da natureza e da
humanidade. <br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP9LdWAoDujueGQUZ6YJRXBW1SIYy-i6ZkOTK5j-L_lsycmYHOS1lrFuvCwEPMBvJy-QQDUqf6MeNoGr_6SYk9gDxyxM7MraQgaVVVE0IvujZItkE9z_qfFlzBF835lHyWeTt3w8ioifE/s1600/JoaoPedroTeixeira1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP9LdWAoDujueGQUZ6YJRXBW1SIYy-i6ZkOTK5j-L_lsycmYHOS1lrFuvCwEPMBvJy-QQDUqf6MeNoGr_6SYk9gDxyxM7MraQgaVVVE0IvujZItkE9z_qfFlzBF835lHyWeTt3w8ioifE/s1600/JoaoPedroTeixeira1.jpg" height="241" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Cabra marcado para morrer pela ditadura "antes" da ditadura.</td></tr>
</tbody></table>
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
É
essencial não esquecer que as forças armadas foram instrumentalizadas para
fazer esse serviço sujo para grandes empresários, banqueiros, latifundiários,
burocratas de alto calibre, intolerantes de toda a espécie, enfim, essa fauna
de hienas que apoiou entusiasticamente o golpe militar e que usa todos os meios
para manter seus privilégios, mesmo após terem deixado de contar com a
necessidade do recurso <i>manu militari</i>
para tentarem perpetuar seu <i>status quo</i>.
Indispensável, ainda, frisar que a maior parte dos veículos de comunicação
apoiou o golpe e o regime, sendo, no mínimo, um show de hipocrisia das
organizações Globo e grupos quejandos, que procuram se colocar como vítimas de
um regime do qual foram beneficiários. Se tivessem maior (ou alguma) inteligência,
os milicos de pijama e suas viúvas, em vez de tentarem fazer histriônicas “novas”
marchas da família, deveriam avaliar como foram serviçais do grande capital e, logrados
pela insânia anticomunista, acabaram por levar toda a culpa por uma tragédia da
qual são sócios em larga medida, mas não atores exclusivos. </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Além
do horrendo massacre dos opositores políticos, não podemos deixar de lembrar do
massacre cotidiano de pobres nas favelas ou no campo, que também são atos de
repressão política, levados à frente por gente do naipe dos esquadrões da
morte, mão branca e todo esse tipo de psicopatas que atuaram nas margens
semi-legais do regime. Não há de se esquecer, também, das vultuosas negociatas
feitas à sombra do autoritarismo, que desmentem cabalmente a mentira de que não
havia corrupção na ditadura: havia e muita, escondida pela censura e pela
repressão. Não podemos esquecer, também, de tantos parlamentares e juízes e
outras autoridades, que exerciam vilmente o servilismo às autoridades títeres
do grande capital.<br />
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigJ5SkP1fUVpOkhYW5FTRJyvHxLpcxY4wgu48kp8SSxazQMu1hyphenhyphenm8LXSM0IIQYtxMXpaytQYa0kb0loPKT0PItDtSWeV_UrIa3-kxR0R5vwdbKpoPeA-UhXixDinRzrJeMZxZWFry3AQE/s1600/Herzog.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigJ5SkP1fUVpOkhYW5FTRJyvHxLpcxY4wgu48kp8SSxazQMu1hyphenhyphenm8LXSM0IIQYtxMXpaytQYa0kb0loPKT0PItDtSWeV_UrIa3-kxR0R5vwdbKpoPeA-UhXixDinRzrJeMZxZWFry3AQE/s1600/Herzog.jpg" height="200" width="133" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A repressão política da ditadura.</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrifwik_64PeQ7Lcm6xBZrlpioRFzFkT3LWfqWe7rGE-m0MeUVruaLgo_zghrGpLNeIoEdq87u1rC5lkMreZXFkXkassltSrpSJuK7DzyU2-tfLsKcquIANkNr3dizFvbFYyPSHdqxHt4/s1600/Esquadr%25C3%25A3o+da+morte+2.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrifwik_64PeQ7Lcm6xBZrlpioRFzFkT3LWfqWe7rGE-m0MeUVruaLgo_zghrGpLNeIoEdq87u1rC5lkMreZXFkXkassltSrpSJuK7DzyU2-tfLsKcquIANkNr3dizFvbFYyPSHdqxHt4/s1600/Esquadr%25C3%25A3o+da+morte+2.JPG" height="200" width="146" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A repressão social da ditadura.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Esse lado civil da ditadura,
hoje, tenta usar todos os meios para disfarçar a continuidade da manutenção de
sua dominação e privilégios, tenta editar a história conforme lhe convém, tenta
apostar na empulhação ou no esquecimento. O mínimo arranhão nesses privilégios,
acende, para eles, o sinal de alerta. Derrubaram João Goulart não por
acreditarem no risco do comunismo iminente (talvez algumas daquelas senhorinhas
alarmadas pelo Padre Peyton), mas por saberem concretamente que seu “bem-bom”
estava em risco; e as hienas não estão dispostas a abrir mão de seu quinhão de
carniça, mesmo que o mesmo exceda em muito o necessário para a sua vida. </div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieWBAjrf7B9ry_dNwtkHtkFhYfeYWBYXHSNdtl3FrejY5zE9R9CD2eDEQgQejeIfCsXiF01quBquMi9_YqXQ1WuHWeaeWBWnUzfEYB3B9KAMCHVZ2Fbwz-h1tClDCTi8YDxMrcuKGsglE/s1600/capitalismo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieWBAjrf7B9ry_dNwtkHtkFhYfeYWBYXHSNdtl3FrejY5zE9R9CD2eDEQgQejeIfCsXiF01quBquMi9_YqXQ1WuHWeaeWBWnUzfEYB3B9KAMCHVZ2Fbwz-h1tClDCTi8YDxMrcuKGsglE/s1600/capitalismo.jpg" height="320" width="276" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A ditadura cotidiana do capitalismo</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Os anos se passam e se
atualizam os processos de dominação e exploração, mas também avançam as formas
de resistência e inteligência que exigem saídas lúcidas para evitar a completa
barbárie que parece muito apetecível às hienas. Precisamos fazer jus à nossa
condição de <i>sapiens</i>. </div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-78178561338601537312014-02-12T13:55:00.000-08:002014-02-12T13:59:29.294-08:00Estátua do deus Apolo é encontrada na faixa de Gaza<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0exJA6-KleUCF8Z2yzJpEOGGTchJGYdWXeytjARoe_0klZ8Su9eniUyFlbcBGElYjfXrm2T75pYwkgZg05D-ihZTdi7C_qt4hQjduByxSxhWkd0hyzQEhET0N5ubF4OBGQUT0aMBKl2E/s1600/APOLO.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0exJA6-KleUCF8Z2yzJpEOGGTchJGYdWXeytjARoe_0klZ8Su9eniUyFlbcBGElYjfXrm2T75pYwkgZg05D-ihZTdi7C_qt4hQjduByxSxhWkd0hyzQEhET0N5ubF4OBGQUT0aMBKl2E/s1600/APOLO.jpg" height="244" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: black; color: white;">Rara estátua de Apolo encontrada na faixa de Gaza. </span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="border: 0px; font-family: Arial; line-height: 24px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div style="color: #333333; font-size: 16px;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<span style="background-color: black; color: white;">Perdida durante séculos, uma <a href="http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2014/02/10/estatua-do-deus-apolo-e-encontrada-na-faixa-de-gaza.htm">rara estátua de bronze do deus grego</a> Apolo ressurgiu na faixa de Gaza. A aparição, entretanto, foi breve: "confiscada" por integrantes do Hamas, ela ficou desaparecida durante meses até ser colocada à venda no site eBay e, em seguida, ser "apreendida" por autoridades palestinas. Segundo o Hamas, não há previsão de quando a estátua voltará a ser visita pelo público, se é que isso pode acontecer.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: Arial; line-height: 24px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">Segundo um pescador palestino, a estátua de aproximadamente 500 kg teria sido encontrada durante uma de suas saídas para o mar em agosto de 2013. Ele teria carregado a estátua para casa em seu burro, sem ter ideia de seu valor arqueológico.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: Arial; line-height: 24px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;">Trata-se de um grande achado. "Eu diria que é um achado que não tem preço. É praticamente como perguntar qual é o valor de La Gioconda (a Mona Lisa) no Museu do Louvre", afirmou Jean-Michel de Tarragon, historiador da Escola Arqueológica de Jerusalém, à 'Reuters TV'. Pelo estado da estátua, ele diz ainda que não poderia ter sido encontrada no leito do mar.</span></span></div>
<div style="border: 0px; font-family: Arial; line-height: 24px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ahmed al-Bursch, diretor de arqueologia do Ministério do Turismo, disse que viu a estátua e prometeu que o pescador receberá sua recompensa, assim que a investigação criminal seja concluída. Só então, disse, o deus Apolo poderá ser visto em sua glória.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: Arial; line-height: 24px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">"Instituições internacionais já nos contataram para oferecer ajuda com o processo de restauração", afirmou. Segundo ele, um museu em Genebra e o próprio Louvre já demonstraram interesse em um empréstimo do bronze de Apolo.</span></div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-42004992184711178882013-11-20T09:56:00.001-08:002013-11-20T10:58:11.869-08:00A DITADURA EM COISAS MIÚDAS<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="text-indent: 35.45pt;">
<br />
<span style="background-color: black; color: white;"> As recentes e chocantes
“revelações” em torno das atrocidades cometidas pela ditadura civil-militar que
comandou o país, entre meados das décadas de 1960 e 1980, ainda incomodam muito
a nossa sociedade, permanecendo como uma espécie de esqueleto no fundo do
armário de nossas consciências. O uso das aspas em relação à palavra revelações
é absolutamente proposital, uma vez que muito do que está vindo à tona já era
bastante conhecido, mas estava recalcado nas memórias de quem gostaria de
esquecer para sempre (algozes desejosos de esconder seus delitos e algumas vítimas
traumatizadas pela violência sofrida), especialmente entre os que apoiaram a
ditadura, ou que foram no mínimo omissos (o que não deixa de ser uma forma de
apoio dissimulado), e hoje gostam de posar de bons moços do passado. Alguns
desses mesmos possuem a capacidade camaleônica de apoiar qualquer grupo que
estiver nas cercanias do poder, como numa inversão de conhecido ditado: <i>“¿Hay gobieno? Soy favorable”</i>... Uma
cultura autoritária subjaz no fundo da “alma nacional”, não poucas vezes se
voltando contra pobres, indigentes e desfavorecidos de todo o tipo nessa nossa
pátria, que ostenta varonil a condição de uma das campeãs mundiais de exclusão
social. Não se toca fogo em índios ou mendigos amiúde sem uma sofisticada
elaboração cultural como pano de fundo. </span><br />
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIMDj_dQmZtpuLY3vV1M71NCsAApXSJjtB0wriG5xGuGfm0Ni7CsLy_AUPiOfPNBvUAcCL6PCx-EyfBxs-pk-8qst8B16cWREAEnqrdCxIPjoWxHe3GPwyHSHiX1GKspzBujcZJgf66EE/s1600/Esqueleto+no+fundo+do+arm%C3%A1rio.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIMDj_dQmZtpuLY3vV1M71NCsAApXSJjtB0wriG5xGuGfm0Ni7CsLy_AUPiOfPNBvUAcCL6PCx-EyfBxs-pk-8qst8B16cWREAEnqrdCxIPjoWxHe3GPwyHSHiX1GKspzBujcZJgf66EE/s320/Esqueleto+no+fundo+do+arm%C3%A1rio.jpeg" width="320" /></a></div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;">Uma das questões menos
percebidas nos debates em torno da instalação da Comissão da Verdade, diz
respeito ao fato de que nos defrontamos com essa cultura autoritária profundamente
enraizada e nos cabe aprofundar o debate sobre o como será possível enfrentá-la
em toda a sua extensão. Como será possível explicar que boa parte da nossa
sociedade se divirta com programas de gosto no mínimo duvidoso como os <i>reality shows</i> da vida, cuja finalidade
essencial é humilhar, expor ao ridículo, ao sofrimento? Como é que pessoas
supostamente saudáveis não vomitam – ou até vibram entusiasticamente – ao ver
Roberto Justus demitir outras pessoas, como se fossem ratinhos em um satânico laboratório
social, ou Pedro Bial comandar rituais de sadismo explícito em horário “nobre”
(que bem poderiam ser invadidos por defensores dos animais indignados com os
maus tratos à espécie humana)? Como explicar a empatia generalizada com quem
manda, quem pode humilhar e espezinhar os outros? Como equacionar devidamente o
fenômeno aparentemente inexplicável da falta de civilidade no trânsito e da
manifesta prepotência de alguns homicidas potenciais, que possuem carros
possantes e se sentem os verdadeiros capitães do mato, soltos nas estradas e
estacionamentos país afora? </span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;">Ainda falta muito – se
é que um dia conseguiremos – para expurgar esse nosso lado herdado do baú
escravista que é o lado mais obscuro de nossa cultura. O espírito da Casa
Grande ainda reina inconteste em nossa sociedade. É o nosso “ovo da serpente”,
chocado dia a dia sob o calor do nosso sol tropical e o nosso céu gentil. Para
os interessados, não deixo de sugerir a estimulante leitura de “O Mulo”, de
Darcy Ribeiro, um retrato em negativo dos desvãos da memória de nossos mandões,
cujos bisnetos, trajados de terno e gravata, munidos da tecnologia mais
sofisticada e ocupando os postos mais elevados de nosso mundo
empresarial-político, ainda sentem saudades da senzala e do chicote para
poderem exercer suas vocações com mais autenticidade. </span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;">Para estes, a
democracia se resume ao que lhes favorece, a um rito meramente formal, ou como
já tinha intuído João Goulart (à parte as seguidas controvérsias em torno do
personagem) no famoso Comício da Central em 13 de março de 1964: <i><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; letter-spacing: -0.2pt;">Democracia para esses democratas não é o regime da
liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma democracia de povo
emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reivindicações. A
democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do
anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos
interesses dos grupos a que eles servem ou representam</span></i><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; letter-spacing: -0.2pt;">. Na mesma ocasião,
indo além, o então Presidente declarou de alto e bom som a força do auto-engano
que move parte de nossa consciência, que sofre crises histéricas de moralismo
hipócrita e inquisitorial alimentado à mancheia por nosso oligopólio midiático:
<i>Ameaça à democracia não é vir
confraternizar com o povo na rua. Ameaça à democracia é empulhar o povo
explorando seus sentimentos cristãos, mistificação de uma indústria do
anticomunismo, pois tentar levar o povo a se insurgir contra os grandes e
luminosos ensinamentos dos últimos Papas que informam notáveis pronunciamentos
das mais expressivas figuras do episcopado brasileiro</i>. Não seria esse o
combustível para alimentar a luta feroz pela manutenção de nossa sociedade de
privilégios? Não seriam as manipulações de “ameaça do comunismo”, “baderna do
vandalismo” e outras desse jaez uma confortável coberta para esconder o fato de
que nossos maiorais desejam firmemente manter suas vidas nababescas acima da
maior parte da sociedade? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="letter-spacing: -0.2pt;">Em 1964 tudo cabia no
anticomunismo (repressão a reivindicações sociais diversas, moralismo
exacerbado, um monte de coisas e até mesmo o comunismo, que serviu à medida
como um “espantalho” para assombrar as senhoras da “boa sociedade”). Hoje
continua cabendo um monte de coisa em rótulos de ocasião, para “explicar” o que
não tem como esconder: uma sociedade violentamente cindida entre um topo que
goza as delícias da existência e uma vasta base alijada de tudo isso. Esse é o
verdadeiro combustível de nossas políticas de “insegurança pública”, para as
quais não haverá policiamento que dê jeito. A propósito, não temos todos os elementos
para entender toda a extensão do que acontece nos dias que correm e recebem o rótulo
de “vandalismo” – mas que podem esconder desde a rebelião contra a violência
diária a qual são submetidos jovens empobrecidos até a ação dos famosos
“agentes provocadores”, que obram a serviço de “forças terríveis” escondidas no
subsolo de nosso mundo social. Independentemente de tudo isso, gostaria de
obtemperar que não me parece o melhor caminho destruir patrimônio público como
telefones ou lixeiras, é preciso divisar caminhos efetivos para construir um
futuro alternativo. A não ser que parte desse componente autoritário de fundo
também se acople ao tecido de determinados grupos que apenas pretendem obter as
condições necessárias para empunhar o látego sobre os outros. </span><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; letter-spacing: -0.2pt;"> </span><i><o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;">Por tudo isso mesmo, é
que só conseguimos vislumbrar da ditadura o seu lado mais “espetacular” e
“chocante”, as narrativas das horrendas perseguições, exílios, torturas,
assassinatos, desaparecimentos e outras práticas de infernal teor. Ainda não
foi publicamente avaliada a longa permanência dos esquadrões da morte, “mão
branca” e toda a sorte de “clubes de extermínio” que possibilitaram, sob
denominações diversas, o “sono sossegado” de nossas altruístas elites. Passa
despercebida da maior parte a ditadura solerte, as coisas miúdas do cotidiano
que se entranharam profundamente em nosso tecido social e cuja superação exigirá
um longo aprendizado – lembrado oportunamente por uma das pessoas mais
especiais que me honraram com sua amizade, o sociólogo e Ex-Presidente da UNE
Vinícius Caldeira Brant, numa publicação acerca do Congresso de reconstrução da
entidade em Salvador (1979): <i>Pra
reaprender a somar no movimento estudantil ou em qualquer outro movimento, vai
ser necessário responder a uma prática democrática de tolerância que a ditadura
fez que as pessoas desaprendessem</i> –, ou seja, que a ditadura tinha
exacerbado nosso traço autoritário mais que secular e que o aprendizado de uma
prática efetivamente democrática levaria longos anos, talvez gerações. Eu
acrescentaria, para o sorriso do amigo: e não é possível construirmos qualquer
prática democrática mergulhados num oceano de injustiça social. </span><br />
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGDzaehImmjhw7kuHexbB4zVv1x72EUYYmBwj_vaFlguCaNVJ6KBWLgrMyKmudDhyphenhyphenjT1DQ1TsK8Z-Zio6mQdNFIwsbhjf6_I_gjkA_F5mcGHWrFmEgEvo1VSpH2-Jqjh6HDC_H5pUKoX8/s1600/O+Toque+do+Sil%C3%AAncio.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGDzaehImmjhw7kuHexbB4zVv1x72EUYYmBwj_vaFlguCaNVJ6KBWLgrMyKmudDhyphenhyphenjT1DQ1TsK8Z-Zio6mQdNFIwsbhjf6_I_gjkA_F5mcGHWrFmEgEvo1VSpH2-Jqjh6HDC_H5pUKoX8/s400/O+Toque+do+Sil%C3%AAncio.jpg" width="271" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O "exílio interno" em O Toque do Silêncio.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: black; color: white;"> Essa ditadura miúda –
ainda longe de seu ocaso – se manifestou na gestação de um ambiente asqueroso
de bajulação de poderosos e de delação generalizados; no exercício sutil de um
olhar seletivo, que evitava ver certos abusos e injustiças cometidos à luz do
sol. Além da ditadura dos porões e grupos de extermínio, essa outra ditadura
vicejou longamente, sendo aquela que dava sentido à dos quartéis: a peçonhenta
ditadura do grande capital (lembrando da obra sempre marcante de Octávio
Ianni), da exploração desenfreada e desavergonhada dos trabalhadores, somada à
das pequenas perseguições do cotidiano, dos incalculáveis danos gerados a
muitas pessoas que foram prejudicadas em seu ambiente de trabalho, nas suas
relações de vizinhança, nos comentários à boca miúda que constrangeram indivíduos
que “feriam a moral e os bons costumes”. Essa ditadura miúda foi tratada com
brilho e rara sensibilidade e brilho em “O Toque do Silêncio”, de autoria de
mais uma pessoa que me honrou com sua amizade, o historiador Francisco César de
Araújo. No livro, através do seu <i>alterego</i>,
o professor Júlio – um ex-militante do movimento estudantil que se tornara
professor em uma cidade (qualquer cidade) do interior brasileiro nos finais dos
anos 60 e início dos 70 – Chico Araújo denunciou o clima contínuo de delação,
de controle, de perseguição que mostra o “lado civil da ditadura militar”, o
lado miúdo que tinha na tortura sua outra e terrível face: ambas se alimentavam
mutuamente. Na Escola, no bairro, nas mais comezinhas atividades diárias, esse
ambiente “empesteado” se manifestava de sol a sol.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;">Não podemos deixar
esquecer que muita, mas muita gente apoiou ativa ou passivamente a ditadura e
exerceu do jeito que pode sua “ditadura particular”. Fosse a vítima a empregada
doméstica, o menino de rua, a pessoa “esquisita” da vizinhança, essa ditadura
penetrou por todos os poros de nossa sociedade. Não podemos deixar esquecer que
maior parte dos meios de comunicação (o oligopólio midiático) que tece loas à
democracia nos dias que correm, colaborou alegremente com o que alguém, numa
dose deslavada de eufemismo e um acesso de cinismo, denominou de “democracia
forte”.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;">Para não deixar de
referir mais miudamente a um fato que nada tem de miúdo – pelo contrário,
revela em sua extensão o descalabro do regime – lembro de um fatídico
acontecimento no dia 25 de agosto de 1975, em João Pessoa: em meio às comemorações
da semana do soldado, um festivo evento com direito a exposição de armamentos e
veículos militares no ponto central da cidade, terminou com um trágico
resultado: 35 mortos, 29 dos quais crianças. Por incúria ou outro problema que
falta apurar, uma embarcação que fazia passeios na Lagoa do Parque Solon de
Lucena naufragou e o desespero das pessoas e o despreparo dos promotores do
evento consumaram o terrível acidente. Com certeza, não chegaria aqui a
conceber qualquer propósito soturno no acidente (seria coisa inimaginável), mas
a não apuração judicial das responsabilidades (como hodiernamente exigimos em
relação da tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria-RS), garantiu a impunidade
para os culpados e a não reparação devida pelo Estado brasileiro. As famílias
vítimas do terrível acidente devem receber as reparações do Estado, uma vez que
a incapacidade do poder público de garantir a segurança da população e, nesse
caso da Lagoa, a clamorosa incompetência, levou ao trágico desenlace. Como o
incidente envolvia gente poderosa, sua investigação foi devidamente engavetada,
assim como em muitas outras atrocidades cometidas pelo Estado brasileiro em
relação à sua população. Lembremos ainda o caso da tragédia da Vila Socó
(Cubatão-SP, 1984), quando uma comunidade foi totalmente destruída, com
centenas de vítimas carbonizadas, dada a incúria e a prepotência dos diretores
da Refinaria Artur Bernardes, que se recusaram a atender os reclamos da
população sobre vazamento do gasoduto que atravessava o subsolo da comunidade:
uma pequena fagulha e... muitas vítimas...</span><br />
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCZoYVYxuYt4IMK26W5dCuEyZat8tcOYzG6ZaociMViwmsN4m4DZrz9f1ADFnQhx7RVclP1Lkv9fTH1CXfEbV674tSrTnW6Vvf6Fc7FQWy791XZKiyAOC33nCgKqv4IA9dt5d31iE0gR4/s1600/Trag%C3%A9dia+da+Lagoa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="243" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCZoYVYxuYt4IMK26W5dCuEyZat8tcOYzG6ZaociMViwmsN4m4DZrz9f1ADFnQhx7RVclP1Lkv9fTH1CXfEbV674tSrTnW6Vvf6Fc7FQWy791XZKiyAOC33nCgKqv4IA9dt5d31iE0gR4/s320/Trag%C3%A9dia+da+Lagoa.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Tragédia da Lagoa - o Estado brasileiro precisa ser responsabilizado.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;">Creio que tragédias como
a da Lagoa ou da Vila Socó são questões que exigiriam a investigação das
Comissões da Verdade, por envolverem a falta de apuração por responsabilidades
do Estado frente a tragédias sociais, geralmente anunciadas. Estado esse que
sempre foi muito cioso de segurança pública quando essa envolvia e envolve a
proteção dos bens e propriedade de nossos patrícios, mas que é insensível ou
omisso quando essa segurança exige o cuidado com os mais desprotegidos frente à
sanha do grande capital.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"> </span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b>Em 20 de novembro de
2013, 318 anos depois da morte de Zumbi dos Palmares pelas tropas a serviço da
segurança e da propriedade dos poderosos de plantão. </b> </span><br />
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-19049102740830113712013-11-16T09:02:00.001-08:002013-11-16T10:46:10.275-08:00UMA HIPOTECA PARA O FUTURO? Em torno da propalada mudança da Assembleia Legislativa para o Altiplano do Cabo Branco.<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKmZvbrbzDymjShk96zGshCbR3x0bu-eVZsaUfuD1bvA4dFS7TWeEsaXchs6TRtuSlm07oaij4EqwIJQLdEQvRv-u9G3TWH33sUdJoFifSJIWmC3_TJxMIMoQBJI-I4Zy2RfEkMDhlzt8/s1600/Assembleia+Legislativa+PB.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKmZvbrbzDymjShk96zGshCbR3x0bu-eVZsaUfuD1bvA4dFS7TWeEsaXchs6TRtuSlm07oaij4EqwIJQLdEQvRv-u9G3TWH33sUdJoFifSJIWmC3_TJxMIMoQBJI-I4Zy2RfEkMDhlzt8/s320/Assembleia+Legislativa+PB.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Assembleia Legislativa - entre o conforto e a responsabilidade. </td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpFirst" style="text-indent: 35.4pt;">
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O fascínio das novidades
convive com questões menos inocentes que mobilizam alguns arautos do novo. Não raras
vezes, numa cidade, quando se exalta uma nova área como moderna, sofisticada,
esse discurso traz à socapa inconfessáveis interesses de especulação,
notadamente imobiliária, com suas decorrentes lavagem de dinheiro,
superfaturamentos de obras e toda essa pletora de práticas que a sociedade,
muitas vezes, finge condenar. </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
A propalada mudança da
Assembleia Legislativa da Paraíba para o Altiplano do Cabo Branco segue uma
desastrosa política urbana já iniciada décadas atrás com a mudança do Centro
Administrativo do Estado para Jaguaribe, do Centro Administrativo Municipal
para a Água Fria e a pulverização de ramos do Judiciário para áreas diversas da
cidade, com tendência a se concentrar no Brisamares e Jardim Luna, às margens
já congestionadas da BR-230 (não sendo nenhum exercício de futurologia prever
congestionamentos-monstro na área após a instalação da Justiça do Trabalho e do
Ministério Público nas imediações, para maior desespero dos
“quase-futuros-ex-moradores” da Rua Casimiro de Abreu e adjacentes). </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Numa passagem clássica
na qual discutia a formação das cidades brasileiras, o historiador Sérgio
Buarque de Holanda nos comparava a “semeadores”, que fazíamos tudo à base do
improviso, nos opondo aos povos “ladrilhadores”, marcados pelo senso de planejamento.
Outros historiadores se contrapuseram, por vias diversas, a essa forma de
análise e destacaram a questão de indícios de planejamento efetivo na formação
de nossas urbes. Para embaralhar as coisas, fica a questão preliminar:
ladrilhar seria necessariamente melhor que semear? Que tipo de ladrilhagem é
efetivamente feita? A que interesses atende? Haveria uma oposição binária entre
semear e ladrilhar ou ambos seriam processos muitas vezes complementares entre
si? Nossas cidades, com esse tipo de crescimento, não estariam repetindo, em
escalas distintas, ciclos de especulação-valorização-exclusão-violência? Enfim,
vamos discutir algumas questões. <br />
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrDNgx5yGTtnbIJAmWOvH9ugNjx3nLyNGMO6yGlDeUXd5MwrflwZK8-r2Vy-HUVSSR9SrvCZDUZyotWnqQm6M3QHNFJ6XpbF7UTmyrSuMNuFDPNUSKlOfRHtUu3RruQC3Q3AJdsbuKLlE/s1600/Rua+do+Mel%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrDNgx5yGTtnbIJAmWOvH9ugNjx3nLyNGMO6yGlDeUXd5MwrflwZK8-r2Vy-HUVSSR9SrvCZDUZyotWnqQm6M3QHNFJ6XpbF7UTmyrSuMNuFDPNUSKlOfRHtUu3RruQC3Q3AJdsbuKLlE/s320/Rua+do+Mel%C3%A3o.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Rua do Melão no começo do século XX.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
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No filme <i>Sábado</i> (1995), de Ugo Giorgetti, o
diretor abordou de forma mordaz os surrados discursos de “amor pelo Centro” e
“vamos voltar às origens” na problemática metrópole de São Paulo, que propugnam
iniciativas de “higienização do passado”, a fim de torná-lo uma terra de
belezas, sem pobreza e cheia de heroísmos. Efetivamente, tais discursos se
pautam por uma espécie de assepsia da História, elidindo os aspectos mais
chocantes do passado. Falando em palavras redondas: o passado das cidades
brasileiras (e nossa intrépida João Pessoa não é exceção) é marcado pela
presença chocante da escravidão, da pobreza, da violência, do abandono, enfim,
da nossa tão íntima, perversa e pitoresca convivência entre riqueza e miséria.
Assim, sem muito rodeio, quando observamos antigas imagens de nossas cidades,
poucas vezes ficam evidentes (ou são deliberadamente disfarçadas) as habitações
precárias, as pessoas empobrecidas e assim por diante, como podemos verificar numa
valiosa fotografia da Rua do Melão (Beaurepaire Rohan) no início do século XX. Que
pena que as fotos não tem cheiros e barulhos!!! As tecnologias emergentes, logo
que tornarem isso possível, poderão trazer várias vantagens e, com certeza,
alguns incômodos.<br />
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNj-pfdiv8g_ZgHeowb1WmlF3oAeDew5FwK8Qbp81poK1_jEULMJM_G1O1NyYgfFiEj0xZwDQJIPtT6ZNMsYo0iMeSmswSP_b5cLMcqxR1pSNc1CH2w02rXXl0bn3MkLvq5umQjQOVXSU/s1600/Rua+do+Mel%C3%A3o+2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="145" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNj-pfdiv8g_ZgHeowb1WmlF3oAeDew5FwK8Qbp81poK1_jEULMJM_G1O1NyYgfFiEj0xZwDQJIPtT6ZNMsYo0iMeSmswSP_b5cLMcqxR1pSNc1CH2w02rXXl0bn3MkLvq5umQjQOVXSU/s320/Rua+do+Mel%C3%A3o+2.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Detalhe da Rua do Melão - passado a "terra de belezas".</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<br />
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<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Se realizássemos uma
suposta viagem ao nosso “centro histórico” (neologismo para esconder o fato que
o grande capital e a grande política abandonaram o lugar e foram “florescer” em
outras plagas), ou mais precisamente nas imediações das atuais Praça Vidal de
Negreiros, 1817 e João Pessoa, lá pelos finais do século XIX, encontraríamos o
local povoado de ex-escravos, pobres, trabalhadores informais e toda uma
pletora de gente que foi sendo escorraçada do lugar nos processos de
modernização do século XX. Não é à toa que as antigas Igrejas do Rosário dos
Pretos e da Mercês dos Pardos do local foram postas abaixo. Quem residia nesses
lugares quando as mesmas foram erigidas em finais do século XVIII (que pena que
os antigos mapas urbanos não representavam choças miseráveis que existiam na
velha (então nova) cidade!!!)? Certamente não eram os pretensos afidalgados do
lugar, que estavam mais acima, na parte mais alta nas Ruas Direita e Nova. Num
processo que já vinha do final do Oitocentos, por volta dos anos 1920/1940, o
lugar foi sendo seguidamente valorizado e “embelezado” para os bem-nascidos
locais, sendo a populaça enxotada das redondezas. Esses processos não acontecem
sem que estejam diretamente associados os ganhos dos ladrilhadores com as
táticas ou astúcias de sobrevivência dos semeadores que laboram para se alojar
nas fímbrias do tecido urbano valorizado e, assim, poderem defender seus
modestos meios de vida. </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Eis que a cidade
“descobre a praia” nos meados do século XX. Mesmerizados pela visão da cidade
moderna, o paraíso tropical onde o sol nasce primeiro e apresenta uma pretensa
qualidade de vida para os bem-afortunados, se transferem negócios, moradias e
órgãos da administração pública para o lugar. As antigas povoações de
pescadores (que ali estavam, como atesta um interessante depoimento do pastor
Daniel Kidder que esteve em “Tambaiú” por volta de 1839 e conversou com pessoas
do lugar) foram devidamente “realocadas” em outras plagas e seus moradores foram
semear suas vidas onde pudessem habitar e ter algum trabalho. Em bairros
abertos – ladrilhados – pela combinação entre os planos urbanos e as novas
condições de transporte de massa, foi sendo destinada a moradia e serviços das
populações de menor renda. Para os que habitavam os universos da pobreza
“pura”, restaram os lugares menos prezados pelos negócios urbanos. Vejam-se os
casos dos terrenos nos “fundos” de Manaíra, Tambaú, Bessa e Intermares, que vão
se tornado progressivamente áreas consideradas “problemáticas” pelas
autoridades da Capital e da Capitania. Não é futurologia também perceber o
acúmulo de problemas de mobilidade urbana na nova fronteira do glorioso e solar
porvir, o Altiplano do Cabo Branco, à medida do adensamento de Condomínios
fechados, negócios e órgãos da administração nos grandiosos empreendimentos
ladrilhados pelos bem-afortunados locais (associados ao Capital de outras
plagas, nem sempre legal, e devidamente lavado para acobertar sua delituosa
procedência); por sua vez, esses estarão associados aos processos de semeio de
precárias moradias nos fundos dos pequenos vales (Timbó, Aratu e outros) que
medeiam entre a “área nobre” e os bairros residenciais e comerciais ao seu
oeste. Nessas áreas delicadas, a degradação ambiental estará associada à sua
irmã siamesa, a social, ambas são ladrilhadas e semeadas no interior da mesma
lógica. </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Para trás, vão ficando
os “centros históricos” que guardam as “belezas do passado”. Será o busto de
Tamandaré uma relíquia de nosso futuro, quando a cidade elegante tiver fugido
para o Altiplano? <br />
<span style="text-indent: 35.4pt;"> O antigo lugar cívico
da Capitania – onde, em tempos prístinos, provavelmente habitaram os potiguara,
sucedidos pelos jesuítas e pelos moradores desse arrabalde, pelos Governantes e
seus funcionários, pelos estudantes do Lyceu e da Escola Normal, pelos
freqüentadores do Jardim Público (devidamente gradeado para espantar os
indesejáveis), pelos Desembargadores e operadores do Judiciário, pelos
Parlamentares Estaduais, pelo comércio mais refinado – foi sendo relegado paulatinamente
ao papel de “relíquia” que é bom saber que está lá, que existe, mas que não
convém freqüentar pelos habitantes da cidade cosmopolita. Resta aos que não
usufruem dessa urbe moderna, se estabelecerem nesses lugares de formas possíveis
como lavadores de carro, engraxates e outras pequenas ocupações urbanas. Como
se espantar, senão para legitimar a religião nacional da hipocrisia, que
algumas dessas pessoas adiram ao “submundo” dos crimes e das drogas, que tiram
o sono de nossas autoridades de segurança pública e as pessoas de bem do lugar?
Uma cidade que não fornece os confortos e direitos para todos, é geradora da
insegurança pública estrutural. Isso não é paternalismo, é apenas a constatação
de que esses processos só existem devidamente associados e que os ganhos de uns
correspondem diretamente às perdas de outros.</span></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
História é coisa do
presente e é o presente que nos interessa. Para além das dificuldades de
exercício efetivo dos órgãos públicos como a Assembleia Legislativa da Paraíba
no lugar (estacionamento, instalações etc), não seria melhor pensar numa
solução “local” e inclusiva, social e economicamente, para os problemas? Por
que não atacar os processos de concentração imobiliária e de estoque de
edificações e terrenos, que, além de encarecerem o preço de compra (apanágio da
violenta especulação que assola nossas cidades), transformam na mesma medida certos
lugares em “fantasmas”? Não seria melhor discutir com responsabilidade social a
efetiva ocupação da área e considerar os enormes prejuízos sociais e econômicos
decorrentes da transferência da Assembleia para outra região? Não existem
diversos imóveis desocupados ou sub-utilizados para os quais se poderia pensar
a destinação pública e social? O lastimável arquivo da Assembleia (para não
deixarmos de denunciar esse importante Patrimônio Público tratado com tanta
incúria) não poderia ser alocado com conforto e todas as exigências técnicas em
prédios abandonados das imediações, desde que devidamente feita a sua adequação?
Não se pode levar efetivamente a sério os programas de habitação social no
lugar? Não se pode valorizar as pequenas atividades de comércio e serviços que
permitam a vida dos habitantes mais modestos da cidade? Não seria melhor levar
em consideração as necessidades sociais, que não precisam estar em necessária
contraposição ao conforto dos Parlamentares e funcionários do nosso
Legislativo? Não seria importante pensar nessas coisas? Ou a ingenuidade e sua
gêmea siamesa menos inocente – a cupidez – têm de guiar todo o processo? Temos
de ladrilhar e semear perversamente os processos urbanos do futuro? </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Não é de desprezar o
fato de que a cidade do futuro possa fazer “campanhas de valorização do Centro
‘Histórico’”, com slogans de “amor ao Centro”, concursos de redação nas Escolas
para aplacar as consciências, criação de “centros de cultura” e “shoppings
populares”. Mesmo os paraibanos de outras cidades não podem se furtar ao fato
de que, no futuro, podem ser acrescidas despesas com segurança pública para os
futuros contribuintes, a fim de “resolver” a insegurança do lugar. Lá virão
denúncias de crimes e violências de toda a espécie, de depredação do Patrimônio
Histórico, de abandono etc. O suposto “abandono” é produzido hoje, essa
hipoteca será pesadamente resgatada no futuro. E se as coisas forem levadas do
mesmo jeito, nossos futuros alcaides iluminados da Filipéia da Beira-Mar irão
promover novas propostas de “revitalização” do lugar, que, invariavelmente,
incluirão a exclusão dos pobres em seu cardápio. Por que, até não mudar a
Capital e pensar num lugar novo digno das pessoas que virão, abandonando as
ruínas do passado para trás? <br />
<br /></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMx9qCTxF_cax2HZdozwf-JalelRsHahh862jcEm5vvZBG4hlJoFrGTH_j3NVCQNYBQ7H31n9MWILiIN4slq-RD-fOxeRc8ckoVG_woPrlUBcQx3dH6Chha_7TLZ-rLl7yfMcZ_qx17EU/s1600/Hotel+Globo+anos+40.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMx9qCTxF_cax2HZdozwf-JalelRsHahh862jcEm5vvZBG4hlJoFrGTH_j3NVCQNYBQ7H31n9MWILiIN4slq-RD-fOxeRc8ckoVG_woPrlUBcQx3dH6Chha_7TLZ-rLl7yfMcZ_qx17EU/s320/Hotel+Globo+anos+40.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Hotel Globo - meados do século XX.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Na contramão disso
tudo, a comunidade do Porto do Capim tem aparecido como a principal novidade na
política urbana da cidade, verdadeiro esteio de uma cidadania para além do
discurso estéril e pouco convincente das autoridades, dos bem-nascidos e da
mídia. Eles estão lutando para participar da ladrilhamento previsto para o
lugar que há tempos semeiam com suas vidas e labutas, dizendo que a comunidade
está lá e é a maior interessada e responsável pela sua preservação e
desenvolvimento. No passado asséptico produzido às margens do poder, querem
dizer que ali era o lugar nobre das caravelas onde os heróis fundadores
empreenderam a civilização do lugar. Cabem alguns reparos: primeiramente, esses
heróis fundadores foram os mesmos que promoveram a escravidão, que iniciaram a
concentração de rendas e terras, que deixaram as fortunas para seus
descendentes e a pobreza e outras mazelas para os seus pósteros não incluídos
nas felizes genealogias nobilitantes. Portanto, não consta que devamos ser tão
sentimentais em relação a essas pessoas de tempos idos, elas já usufruíram seu
gostoso quinhão em vida. Outrossim, se ali havia um porto, não é preciso ser
nenhum gênio da historiografia ocidental para saber que a área foi
historicamente ocupada por populações trabalhadoras, que estão lá “desde
sempre”, considerando que esse sempre começou depois que os potiguara foram
devidamente “afastados” <i>manu militari</i>
do lugar. Se alguém tem direitos legítimos a usufruir primeiramente da área, é
quem já está lá agora, no presente, e que deseja ter voz ativa no que lhe diz
respeito. Ou, se vamos “resgatar o passado”, devolvamos a área aos potiguara e
ainda paguemos pelo seu uso secular.<br />
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB6P9GgBbVqKbRCZbXMAi3UAmwsAjV9iS8uQsHv-8K92Aq96ewv5QJfHvf1oPxCe9hKfxS3pOf8kLCKKbiz41chDT29MJFxp6XhGc1GBJfuY9WEcCvDteo0XLFjybVRi94SJc81dPxPBY/s1600/Hotel+Globo+anos+40+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="147" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB6P9GgBbVqKbRCZbXMAi3UAmwsAjV9iS8uQsHv-8K92Aq96ewv5QJfHvf1oPxCe9hKfxS3pOf8kLCKKbiz41chDT29MJFxp6XhGc1GBJfuY9WEcCvDteo0XLFjybVRi94SJc81dPxPBY/s400/Hotel+Globo+anos+40+2.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">
No detalhe: Abaixo das glórias arquitetônicas da cidade, as moradias que não integram o<br />
cenário celebrativo da História, mas que constroem as glórias alheias pelo seu trabalho.<br />
Eles "sempre" estiveram lá. </div>
</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Há vezes nas quais os
ladrilhadores semeiam problemas e os semeadores ladrilham soluções. Nossos
parlamentares, que pretendem representar a voz do povo, teriam muito a ganhar
se deixassem de se embalar pelo “som do mar e a luz do céu profundo” e
aprendessem com os ribeirinhos que habitam as margens do Sanhauá, verdadeiro
patrimônio do povo da Paraíba. </div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-40073595696214190762013-11-06T06:58:00.001-08:002013-11-07T04:59:39.893-08:00Rio: escavações revelam tesouro arqueológico em lixo da realeza<h2 class="description" itemprop="description" style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-weight: normal; line-height: 25px; margin: 12px 0px 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white; font-size: x-small;"><i>
Arqueólogos acreditam que poderão recuperar até um milhão de peças, no que poderia ser um dos maiores achados arqueológicos do Brasil</i></span></h2>
<div>
<br /></div>
<div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje_dcsAfhw_t9RO2LSz9HCHyB99FePf0ABJg6nv1CTLAzb-MSiP4tLWAtMDNQ57hRCwEOQz6S3P2a8f3Po8BGdLnqfnMiiXzVd9iEfUZanOFFehN1NeG2xt-JeJKp_5Dms9GQChtMtfyQ/s1600/Pasta+de+dentes.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="149" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEje_dcsAfhw_t9RO2LSz9HCHyB99FePf0ABJg6nv1CTLAzb-MSiP4tLWAtMDNQ57hRCwEOQz6S3P2a8f3Po8BGdLnqfnMiiXzVd9iEfUZanOFFehN1NeG2xt-JeJKp_5Dms9GQChtMtfyQ/s200/Pasta+de+dentes.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Pasta para limpeza de dentes.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="text" style="border: 0px; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://noticias.terra.com.br/ciencia/rio-escavacoes-revelam-tesouro-arqueologico-em-lixo-da-realeza,eeb1e9c8bb941410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html"><i>Um despejo do século 19 revelou no Rio de Janeiro um grande tesouro arqueológico</i></a> com centenas de milhares de peças, incluindo uma escova com uma alusão ao imperador Dom Pedro II, que jogam luz sobre os costumes mais mundanos da elite da época da independência do Brasil.</span></div>
<div style="border: 0px; color: #5d5850; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div class="text" style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os arqueólogos catalogaram cerca de 200 mil objetos em bom estado de conservação em seis meses de trabalho e acreditam que poderão recuperar até um milhão de peças, no que poderia ser um dos maiores achados arqueológicos do Brasil, disse à Agência Efe o responsável pelas escavações, Cláudio Prado de Mello.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div class="text" style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">No acervo de peças encontradas estão restos de cosméticos franceses, água mineral importada da Inglaterra e um frasco de colônia com o curioso nome de "Anti-Catinga". Também há pratos e vasilhas de cerâmica, garrafas de licores e água, cachimbos com restos de tabaco, potes de porcelana com ungüentos e frascos com líquido em seu interior, que poderiam ser produtos medicinais, segundo os arqueólogos.</span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN3hVnHerkpTF50Il075I22r1MazxKdqMoxfGNJOcwMkoDIOzag2O4Fc6FVMI4EZMdN4orqW8zmA7FUfmgslyliDFzO8mTgR8SmXzK8EOASxxCbHXNKYlqhENXRx8fLqDYfLH-6cegLTg/s1600/Cachimbo+ind%C3%ADgena.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="149" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhN3hVnHerkpTF50Il075I22r1MazxKdqMoxfGNJOcwMkoDIOzag2O4Fc6FVMI4EZMdN4orqW8zmA7FUfmgslyliDFzO8mTgR8SmXzK8EOASxxCbHXNKYlqhENXRx8fLqDYfLH-6cegLTg/s200/Cachimbo+ind%C3%ADgena.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Manufatura indígena do século XVII.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="text" style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">As escavações mais profundas desencavaram objetos até do século 17, entre eles, alguns de manufatura indígena, como um raspador de sílex e um cachimbo feito com um chifre, que contrasta com outros cachimbos muito diferentes que pertenceram ou aos colonizadores europeus ou aos escravos africanos.</span></div>
<div class="text" style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os europeus vão desde simples cachimbos de caulim até outros mais elaborados com cabeças de personagens talhadas, enquanto os dos escravos estavam decorados com grafismos que se correspondem com as escarificações ou marcas corporais que se tatuavam as tribos africanas.</span></div>
<div class="text" style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os arqueólogos fizeram a descoberta no início deste ano, quando se iniciaram no local obras relacionadas com a expansão do metrô. Devido a essas obras, que se prolongarão até 2016, os arqueólogos tiveram que interromper as escavações e terão que esperar três anos para voltar a abrir as fundações.</span></div>
<div style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
</div>
<div class="text" style="border: 0px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 25px; margin-bottom: 17px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">Então prosseguirão com os trabalhos para recuperar o "lixo" dos herdeiros da Casa de Bragança, a dinastia portuguesa, nos anos que fizeram do Brasil um Império, quando nem imaginavam o valor que teriam seus resíduos. </span></div>
</div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-71051927289613025402013-06-21T17:04:00.005-07:002013-06-21T17:10:19.299-07:00A mentira sobre o suposto povo que dormia - O povo tem estado acordado.<div class="MsoNormal" style="margin-left: 4.0cm;">
<br />
<br />
“<i>O Brasil atravessa uma fase
extraordinariamente delicada... é evidente que, despertada do sono cataléptico
que dormira, ao embalo dos cantos de sereia... a Nação vê renascer sua consciência
política...”</i> General Waldomiro de Lima. Interventor no Estado de São Paulo
(1933)<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Essa
octogenária citação, reproduzida na íntegra pelos historiadores Carlos Alberto
Vesentini e Edgar de Decca em artigo de 1976, nos faz pensar numa falácia sobre
o suposto sono do povo brasileiro, pretensamente despertado nos últimos dias.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Senão, vejamos:</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Não
estavam dormindo as faxineiras, diaristas e toda essa pletora de trabalhadoras
e trabalhadores que estão lutando pelos seus direitos, madrugando nos pontos de
ônibus, enquanto boa parte dos filhos de nossas classes médias e altas gozam de
seu <i>dolce far niente</i> apenas para
torrar o dinheiro dos pais. E não dormem aquelas e aqueles que são responsáveis
pela condição de funcionamento de empresas, Universidades, shopppings,
repartições públicas e todo o tipo de estabelecimentos pelo país afora.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Não
estavam dormindo os trabalhadores rurais, que lutam pelo fim da escandalosa
concentração fundiária no nosso país. Gente que herda a luta secular expressa
em Canudos, Contestado, Ligas Camponesas e os mais diversos e bravos movimentos
de trabalhadores que batalharam e batalham pelo acesso à terra na qual
depositam seu pesado labor. </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Não
estavam dormindo os povos indígenas, que lutam secularmente pelos seus direitos
à terra, pelo respeito às suas culturas e que são vítimas diretas do vergonhoso
esbulho que se pratica há cinco séculos contra seus direitos nesse país
tropical. Eles estão despertos e continuam a resistir.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle">
Não
estavam dormindo os trabalhadores urbanos, que reivindicam direitos de moradia
(contra os escandalosos latifundiários urbanos, que especulam e encarecem as
moradias), ou lutam contra a carestia que abate os mais pobres (em movimentos
como o Quebra-quilos, a revolta do vintém, contra o aumento das passagens de
bondes, entre muitas e muitas lutas pelo transporte popular e outros serviços
públicos), que apenas favorece o apetite daqueles que se locupletam com a
exploração do suor do povo.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Não estavam dormindo
aqueles que lutam contra <b>a maior e a mãe
de todas as corrupções, a injustiça social,</b> que é geratriz de todas as
demais. Não dormiam esses que tentam garantir serviços públicos de qualidade e
respeito, serviços esses que são aviltados por interesse de grandes e pequenos esquemas
que sugam as energias de nosso trabalho. Lembremos que a macro e a
micro-corrupção se alimentam nas mesmas tetas.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Não estavam dormindo os
movimentos de negros, de homossexuais, de mulheres, de direitos humanos, enfim,
de todos os grupos vítimas das mais diversas formas de opressão física e moral
que batalham com ardor por respeito, por direitos iguais para as muitas
diferenças. Estes estão avançando, para desespero dos fascistóides de todos os
matizes que querem padronizar vidas e comportamentos. Querem padronizar segundo
seus velhos modelos para excluir. </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Não estavam dormindo
aqueles que sabem que a grande mídia é um oligopólio que manipula as notícias
ao bel prazer dos inconfessáveis interesses de grupos de poderosos e
privilegiados que têm instrumentalizado secularmente o Estado brasileiro para
manter toda uma sociedade jungida ao seu gosto por mandar e explorar.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Estejamos alertas: estavam
e estão muitíssimo acordados os grupos de direita e extrema-direita e os
oportunistas e arrivistas de plantão, que tentam usar agentes provocadores para
desestabilizar a democracia pela qual nossa sociedade tem lutado tão
longamente, com coragem cívica e com o sangue de muitos e muitos massacrados em
nome de uma suposta ordem, que apenas pretende manter boa parte do povo como mera
massa produtiva, enquanto esnobam dinheiro nas colunas sociais e arrotam seu
pseudo-patriotismo de ocasião.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
Não podemos cair nessa
falácia: o povo está acordado há muito tempo, e não podemos nos deixar iludir
pelas artes da manipulação que tão solertemente tentam se infiltrar nos legítimos
reclames da sociedade. Lembremos: alguns de nossos piores inimigos estão
disfarçados nas passeatas.</div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<br />
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
Ângelo
Emílio da Silva Pessoa</div>
<div align="right" class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
Professor de História </div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormalCxSpMiddle" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-33597263706230823662013-03-19T08:06:00.000-07:002013-03-19T08:12:01.400-07:00A inundação de tragédias anunciadas<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAvDQPWT9mAPmx1U1j8OZykZTyvCyF7ntEGqekqKWQzzjM4pessadzISYeIIRciJksEtv0CUOvhPAi-uRAPJl4k4enrOsdoHoZ-EKZdAWSYIxeBRdJynkbqEhZmylP6tmUIvgLMROee8M/s1600/Enchente+01.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="207" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAvDQPWT9mAPmx1U1j8OZykZTyvCyF7ntEGqekqKWQzzjM4pessadzISYeIIRciJksEtv0CUOvhPAi-uRAPJl4k4enrOsdoHoZ-EKZdAWSYIxeBRdJynkbqEhZmylP6tmUIvgLMROee8M/s400/Enchente+01.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<b>LADO B:</b><i> "cena clássica" de enchente, com mortes e destruição material devidas às chuvas "acima do esperado". Imagem que parece se repetir à exaustão. </i></div>
<div>
<i><br /></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i>“A inundação tinha
coberto as margens do rio até onde a vista podia alcançar; as grandes massas de
água, que o temporal durante uma noite inteira vertera sobre as cabeceiras dos
confluentes do Paraíba, desceram das serranias, e, de torrente em torrente,
haviam formado essa tromba gigantesca que se abatera sobre a várzea... A
inundação crescia sempre; o leito do rio elevava-se gradualmente; as árvores
pequenas desapareciam; e a folhagem dos soberbos jacarandás sobrenadava já como
grandes moitas de arbustos”</i>. José de Alencar. <i>O Guarani</i>. (1857).</div>
<div class="MsoNormal">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“...muitos têm tido e têm
a opinião de que as coisas do mundo são governadas pela fortuna e por Deus, de
sorte que a prudência dos homens não pode corrigi-las, e mesmo não lhes traz remédio
algum. Por isso, poder-se-ia julgar que não deve alguém incomodar-se muito com
elas, mas deixar-se governar pela sorte... penso poder ser verdade que a
fortuna seja árbitra de metade de nossas ações, mas que, ainda assim, ela nos
deixe governar quase a outra metade. Comparo-a a um desses rios impetuosos que,
quando se encolerizam, alagam as planícies, destroem as árvores, os edifícios,
arrastam os montes de terra de um lugar para o outro: tudo foge diante dele,
tudo cede ao seu ímpeto, sem poder obstar-lhe e, se bem que as coisas se passem
assim, não é menos verdade que os homens, quando volta a calma, podem fazer
reparos e barragens, de modo que, em outra cheia, aqueles rios correrão por um
canal e o seu ímpeto não será tão livre nem tão danoso”</i>. Nicolau Maquiavel”.
<i>O Príncipe</i>. (1532).</div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Lá pela
7ª série, a Professora de Português do Pio X havia nos indicado a leitura de <i>O Guarani</i>, de José de Alencar. Não posso
negar que, à época, com uns 13 anos, achei a obra chata, impressão que acabou
se desfazendo com uma leitura posterior e mais adulta. Mesmo passado esse tempo
todo desde o final dos anos 70, nunca consegui esquecer a parte final do livro,
porque me parecia simplesmente inverossímil que pudesse acontecer uma enchente
daquele porte, que destruía tudo ao redor de suas margens e chegava à altura da
copa de grandes árvores.</div>
<div class="MsoNormal">
Após
morar duas décadas no Estado de São Paulo, pude constatar a violência de chuvas
pesadas e grandes inundações, que me lembravam que o romance de Alencar, com
toda a licença literária, não havia exagerado nesse ponto. Também lembro que a
música <i>Águas de Março</i>, composta por
Tom Jobim na década de 1970, se referia a esse fenômeno recorrente de chuvas
ostensivas naquela região nesse mesmo período do ano.</div>
<div class="MsoNormal">
A
questão é que já me cansou ouvir repetidamente a tal notícia, como um disco
riscado na velha vitrola com a agulha pulando: “choveu três vezes mais que o
esperado para tal período...” “...dez vezes mais que o esperado...”
“...duzentas vezes mais que o esperado...” e o diabo a quatro!!!. Ora bolas,
desde 1857, pelo menos, parece que quase sempre costuma chover mais que o
esperado e aquela região se torna um verdadeiro mar, com os conseqüentes
fenômenos decorrentes: inundação, desabamentos, destruição, mortes etc. </div>
<div class="MsoNormal">
Resumindo:
a água e os aguaceiros já estavam lá há bastante tempo – pelo menos na época
das grandes chuvas, frequentemente ficam “acima do esperado” e, assim, podemos
constatar que o inesperado já é mais ou menos esperado – as vítimas humanas das
tragédias chegaram depois, sejam os indígenas da região, dizimados com o avanço
colonial, sejam as populações posteriores. E chegaram motivados por várias
situações, entre as quais não se deve descartar as menos idílicas, como a
cupidez imobiliária, a exclusão social, a imprevidência das autoridades que deveriam
estar preparadas para o tal “mais que o esperado”. </div>
<div class="MsoNormal">
Mais
uma vez, em 2013, a cena se repete <i>ad
nauseam</i>. As televisões e jornais mostram cenas dantescas de mortes e
destruição, novas providências são prometidas e, em 2014 ou 2015, provavelmente
“choverá mais que o esperado”. Listagens de prováveis culpados: São Pedro? O
Presidente ou o Governador de plantão? Prefeitos? Políticos em geral? Nessa
barafunda, no outro extremo da Brasilândia, aguarda-se a chuva com promessas
aos céus!!!</div>
<div class="MsoNormal">
Certamente,
aqui acolá encontramos tais (ir)responsabilidades e as mesmas precisam ser
apuradas e punidas com todo o rigor necessário. Mas a questão não começa nem
acaba aí. Mais que isso, há uma determinada formação social que convive de
forma “natural” com a imprevidência, com um certo quê de “distração”, que deixa
a sociedade (ou melhor, a parte mais vulnerável da mesma) entregue à própria
sorte, até que algo acontece – a “fatalidade” – e o choque da tragédia mobiliza
todos, até a próxima tragédia colocar a anterior no rol do esquecimento. Nosso
descaso para com as profundas diferenças sociais, o espaço público, o impacto
ambiental de nossas ações, os direitos alheios e a corrupção do poder público e
os agentes privados são o combustível que alimenta esse cortejo de desgraças.
Quem pode pagar para tentar ficar imune às tragédias, paira ou pensa pairar sobre
os demais, especialmente aqueles que são relegados às fímbrias dos direitos, a
quem cabe torcer para que “Deus seja brasileiro” e rezar para vir sol e chuva
na medida certa. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
A essência desse problema não
está nas “temíveis forças naturais”, mas numa sociedade que convive
“gostosamente” com a exclusão, com os abismos sociais e a extrema concentração
de riqueza. Qualquer política mais ou menos tímida que pretenda alterar “as
coisas como elas são” é duramente atacada e não está realmente no horizonte um
conjunto de políticas que rompa os privilégios e garanta os direitos efetivos
para todos. Por isso há a conhecida diferença entre “escolas para pobres e
ricos”, “saúde para pobres e ricos”, “moradia para pobres e ricos”, entre
outras condições useiras e vezeiras que parecem naturais, porque “choveu mais
que o previsto...”. Nessa verdadeira “cruzada” pela manutenção dos privilégios,
papel não desprezível joga uma mídia quase absolutamente partidária e engajada
nas estruturas de poder, controlada por restritos grupos econômicos e que
desinforma informando, mostrando uma “realidade” que simultaneamente falseia.
Além do mais, o lado instrumental das tragédias (com todo o festival de
roubalheira e irresponsabilidade associado) é, em si, um aspecto diretamente
necessário e indispensável das mesmas. </div>
<div class="MsoNormal">
Como
não encontrar similaridades entre essa e outras tragédias – infelizmente
corriqueiras – cujas maiores vítimas são invariavelmente os mais pobres? Só
para lembrar de passagem, o terrível incêndio da Vila Socó, em Cubatão (SP), no
ano de 1984, quando um vazamento irresponsavelmente não resolvido num duto da
Petrobrás, matou 93 pessoas, de acordo com números oficiais, mas que pode
chegar à cifra de 600 vítimas, num incidente não devidamente investigado em plena
ditadura. A recente tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, não deixa de
atualizar esse quadro do inesperado que é mais ou menos esperado, a depender dos
azares da fortuna, que, segundo Maquiavel, governam metade de nossas vidas, mas
que deixam a outra metade para nosso juízo se prevenir contra o “mais que o
esperado”. Há o dado adicional nessa última de que, quando as tragédias atingem
“gente bonita” (naquela simpática linguagem eugênico-popular) parece que a
coisa até dói mais nos nossos órgãos cordiais. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Aqui mesmo em João Pessoa temos
uma situação afortunada de tal porte na conhecida “partilha” da várzea do
Jaguaribe entre tubarões e piabinhas, feita ao arrepio de qualquer
regulamentação ou fiscalização pública. Mas Deus deve ser pessoense e, até que
aconteça algo “inesperado”, ou seja, até que venham chuvas copiosas “acima do
esperado”, tudo ficará no mesmo diapasão. No mais, em alguma eventual tragédia,
a cidade sairá no noticiário nacional, o que poderá nos deixar muito orgulhosos
pela projeção alcançada!!!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOHSlbuixaMhaKk3UNCttEYx-aqWX6vbeHsGhcWH8764uFFdUEt7TmIZSjRsLVFhuqXc2bh-ObMBnR8gVWLfb5kltIIFSVY7J73Cm0ZpinzQSRWx0YEFMkNQBckoq1h_nn8pQ4YrUfukc/s1600/seca+01.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOHSlbuixaMhaKk3UNCttEYx-aqWX6vbeHsGhcWH8764uFFdUEt7TmIZSjRsLVFhuqXc2bh-ObMBnR8gVWLfb5kltIIFSVY7J73Cm0ZpinzQSRWx0YEFMkNQBckoq1h_nn8pQ4YrUfukc/s320/seca+01.jpeg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i> </i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="text-indent: 35.4pt;"><b>OUTRO LADO B:</b></span><i style="text-indent: 35.4pt;">"cena clássica" da seca, com mortes e destruição material devidas à estiagem prolongada, com chuvas "abaixo do esperado". Imagem que parece se repetir à exaustão. </i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Como reagir, por exemplo, frente
à desfaçatez quase cínica de boa parte de nossas paraibanas elites, que “choram
os males da seca”, enquanto promovem grandes negócios e negociatas, insensíveis
às mazelas vividas pelos mais pobres? Hoje é Dia de São José, que, segundo a
tradição popular, é o dia-limite para se saber se haverá ou não seca. O FATO (e
uso o termo em maiúscula, para ressaltar sua efetividade) é que há muito tempo
se sabe que há anos em que se chove “menos que o esperado” para o período –
numa dessas irônicas inversões da fortuna entre norte e sul da nossa terra <i>Brasilis</i> – e as tragédias humanas
parecem se repetir e acumular como um disco riscado, já devidamente detectado
há tempos pela nossa célebre literatura da seca, também conhecida desde os
bancos escolares. Essas tragédias também trazem seu lado instrumental e não
poucas fortunas foram construídas à base de expedientes que se repetem ao
tédio, como variações de um mesmo tema. Enquanto isso, as velhas e boas
estruturas de poder e concentração de riquezas permanecem altaneiras sobre as
vítimas do bolo que cresce há muitas gerações, mas que parece não querer ser
dividido jamais. Quando chove “o esperado”, é o tempo certo de agir para evitar
novas mazelas e tragédias, mas não parece que esse tipo de “previdência” (o ver
adiante) esteja no horizonte, tais quais as inundações e secas, que virão “além
do esperado” em algum momento que podemos esperar adiante. </div>
Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-36562479882978591902012-10-12T10:04:00.003-07:002014-06-12T19:27:32.619-07:00Um professor de História descobre a América<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhd1huMG63EftALDYcoRMdygSzGa4afzwqqCoplve0CH-oIX7CLdGJUOVdeYcMFnllU6DtqLG2EplZx62Ae7o-KKl97T-ReEyR0A9KyYWe08ZO9RDFg5YFnvjr9JDdAVGmceZUCUIkXCDU/s1600/New+Andradine.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhd1huMG63EftALDYcoRMdygSzGa4afzwqqCoplve0CH-oIX7CLdGJUOVdeYcMFnllU6DtqLG2EplZx62Ae7o-KKl97T-ReEyR0A9KyYWe08ZO9RDFg5YFnvjr9JDdAVGmceZUCUIkXCDU/s400/New+Andradine.jpg" height="228" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"> <i>No centro de New Andradine, um monumento da tradicional fogueira junina local e quatro radiais que convidam a ir para todos os lados do continente. Um "ponto de partida" para descobrir a América. </i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Certas percepções que
desenvolvemos ao longo de tempos, às vezes são resultado mais do acúmulo de
preconceitos ou desinformação que de decisões totalmente conscientes de nossa
parte.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O fato é que concluí a graduação
em História no octogésimo oitavo ano do século passado e tive uma experiência
bastante desagradável com as maçantes aulas de História da América, que criaram
em mim uma aversão mais ou menos inconsciente pela história de nosso
continente. Confesso que tenho certa admiração e solidariedade por Cuba, mas
nunca tive uma percepção romantizada da situação daquele país, predominando um
certo afastamento em relação à forma passional como se discute a situação
cubana. Arrastei essa situação por décadas, muito embora tivesse aqui acolá
alguma evidência de que essas cismas eram infundadas e que precisaria ampliar
meu campo de visão em relação à América.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Em quase vinte anos de
residência em Campinas (SP), comecei a ter um deslocamento da forma de olhar para
o Brasil. Umas poucas vezes que peguei as longas estradas paulistas que se
dirigiam para o oeste, parecia que me defrontava com outro mundo. Trafegar nas
rodovias Castello Branco, Raposo Tavares, Marechal Rondon, Washington Luiz e
Anhanguera me permitiu olhar para uma paisagem física e cultural muito
peculiar, marcada por uma dinâmica muito diferente do que estava acostumado. Em entrevista dada a revista brasileira no início dos anos 1980, o historiador Fernand Braudel comentara que, o passar no oeste paulista e no Mato Grosso, quarenta anos antes, tinha percebido que ali a história era algo vivo, eram cidades que surgiam do dia para a noite, pessoas que lembravam da abertura de estradas, tudo era movimento, ao contrário do interior de sua França natal, onde a história parecia passar em câmera lenta, onde tudo parecia carregar o peso de séculos. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Por volta de 1994 fui de ônibus a Corumbá (MS), para ministrar um
minicurso num Encontro Nacional de Estudantes de História. Durante a madrugada,
fiquei simplesmente pasmo na longa travessia do Rio Paraná, entre Presidente
Epitácio (SP) e Bataguassu (MS), que parecia não acabar, com aquela imensidão
de água em meio à escuridão cerrada da noite. Em tempos futuros, muitas vezes
voltei a passar por ali, e nunca consegui me livrar daquela sensação de sempre
viver a singular e emocionante experiência pela primeira vez. Na sequência da
viagem, passar pela Serra de Maracaju e atravessar o Rio Paraguai por via de
balsa foi uma dessas experiências indescritíveis sobre as quais apenas o viver
pode dar a dimensão exata. Um jantar num restaurante ao som de uma guarânia e
conhecer o mundo semi-líquido do Pantanal foram dessas coisas oníricas. Minha
primeira fronteira internacional foi em direção a Puerto Suarez, na Bolívia, da
qual minha lembrança abarca apenas uma espécie de grande feira de trecos
eletrônicos, que o colega de viagem Manolo Florentino batizou oportunamente de
“Disneylândia do consumo”. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Em 2006 me coube a aventura de
ingressar num Campus de expansão da UFMS, na cidade de Nova Andradina, situada
próxima à fronteira paulista. A posse em Campo Grande e a viagem para a nova
cidade foi a única experiência mais ou menos <i>easy rider</i> que tive até hoje. Tirando o fato de que estava portando
uma nomeação para um cargo público – o que não era nenhuma aventura sem destino
– fiz questão de não ver nenhuma foto da cidade na qual iria morar. O pouco que
sabia é que tinha cerca de 40 mil habitantes e estava marcada no mapa. Só. Ao
chegar no novo território, confesso meu total alívio ao ver uma <i>Lan House</i>, ufa!!! Comemorei ao ver um
cruzamento de trânsito com um semáforo. Intimamente só cantarolava em espírito
a velha música de Bat Masterson: “no velho oeste ele nasceu, e entre bravos se
criou...”.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
No hotel de viajantes no qual
vivi dois meses, conheci algumas figuras inenarráveis, como o proprietário, uma
espécie de Dorival Caymmi que nunca viu o mar. Todos os finais de tarde ele se
sentava em cadeiras na calçada, acompanhado de seu indefectível tereré e ficava
proseando horas embaixo de duas palmeirinhas que garantiam o ar de
tropicalidade necessário. No ir e vir dos viajantes, estavam alguns
trabalhadores das linhas de transmissão das hidrelétricas do Rio Paraná – um
deles piauiense –, que se penduravam em alturas de 60 ou mais metros, bem na
beira daquele monstro de água, num tipo de trabalho que era arriscado até de pensar.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Com o tempo fui podendo fazer
comparações, percebendo algumas similaridades com o até então conhecido e as
novidades e a surpresa da descoberta. Saber que uma tal de sopa paraguaia era
um tipo de bolo salgado não foi das menores. Outras pessoas e coisas foram
passando pelas minhas retinas e ouvidos. Alunos descendentes de todos os tipos
que por ali passavam ou se radicavam, como cearenses, japoneses, gaúchos,
baianos, tchecos, paranaenses, árabes, mineiros, italianos e mais uma
miscelânea de gente que se cruzava ali, nas proximidades do centro da América
do Sul. Na cidade teve até Prefeito paraibano. Na praça central da cidade o
“paraguaizinho” reunia as pessoas de todas as procedências e lá pude comprar um
providencial guarda-chuva, numa tarde muito fria e chuvosa dois dias após minha
chegada. Flanar às altas horas da noite pelas ruas da cidade, sozinho ou
acompanhado e conversando com os amigos Marcelino, Paulo ou Charley, era uma
experiência inesquecível. Numa dessas conversas, Charley me falou sobre a
dinâmica das massas de ar oceânicas e continentais para me explicar os motivos
do calor tão forte e seco que fazia em certas épocas. Marcelino contava sobre as
aventuras de um tio que participou da abertura de cidades no norte do Mato
Grosso na década de 1970. Paulo comentava sobre suas andanças por todos os
rincões de imenso sulmatogrossense. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O cotidiano ditava o ritmo da própria história. Aos domingos, o cheiro de
churrasco tomava conta da cidade. Na região, o Rio Ivinhema, caudaloso e por
onde passaram algumas monções no século XVIII, onde pude mergulhar numa
calorenta tarde de verão. Certo final de tarde, no ônibus, em direção a Casa Verde, vi em linha reta o sol poente e a lua cheia, numa fabulosa oportunidade de realmente perceber a posição do nosso planeta no cosmo. À boca miúda algumas pessoas me contaram uma história
escabrosa sobre o “remoto passado” da fundação da cidade, cerca de cinco
décadas antes, e sobre o “desaparecimento” de trabalhadores de madeireiras numa
tal Lagoa do Sossego, que era o lembrete sobre os terríveis processos de
territorialização que, desde o século XVI, marcam a vida das diversas
fronteiras até os dias que correm. Num Museu bem montado, era possível ver
fotografias de imensas árvores, das quais praticamente nada tinha restado entre
os pastos e plantações de soja, cana e outras atividades agropecuárias. Também
eram notáveis as pequenas casas de madeira (nas quais entrei em muitas), que
lentamente desaparecem do cenário urbano, eram testemunhas bastante marcantes
das populações que ali foram se estabelecendo nos meados do século passado. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O silêncio eloqüente sobre os índios era marca indelével de processos
conflituosos relegados à neblina de uma memória tênue dos primeiros tempos.
Alguns anos depois, já em João Pessoa, ao ler a autobiografia de Darcy Ribeiro,
pude ter alguma pista dos <i>ofaié</i> com
os quais ele se defrontou nos anos 50, em um sítio nas beiras do Ivinhema. Essa
pequena descoberta me sugeriu um cartão de ano novo bastante diferente para os
já ex-alunos no final de 2009. Um verdadeiro “choque cultural” foi a impressão
que fiquei da visita à reserva indígena de Dourados, bem no meio da cidade, com
um monte de mazelas vividas pelos grupos indígenas que habitavam aquela área e
sofriam todas as pressões das suas rivalidades internas e da conflituosa
convivência com a sociedade não-indígena. Muitos alunos me perguntaram, na
ocasião, o que eu tinha achado daquela visita. O máximo que pude responder foi
com um silêncio pasmado que escondia minha inquietação e meus limites para
entender o que via. Confesso, apenas, que me vinha insistentemente à cabeça a leitura
que fizera anos antes, para minha pesquisa de Doutorado, da Relação da missão do
padre capuchinho Martin de Nantes, e que narrava dramaticamente aspectos cruéis
do conflito entre uma frente de expansão pecuarista e as populações indígenas
do Rio São Francisco no já longínquo século XVII. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Não pude circular mais pela
região como desejaria, mas fui várias vezes a Campo Grande, sempre observando a
paisagem, tudo que se oferecia à apreciação do olhar. As avenidas muito largas,
que indicavam uma cidade de implantação mais recente (em comparação com nossas
antigas cidades coloniais) e que sugeriam um movimento de circulação de pessoas
e coisas pelos antigos campos da vacaria. A presença sensível da fronteira
internacional, os destacamentos militares, a espacialidade da cidade, o cerrado
e o campo de visão “infinito”, tudo que convida a aguçar os nossos sentidos e o
nosso intelecto e nos lembra dois versos de Zé Ramalho: "nada digo e tudo faço, viajo nas amplidões". Municípios imensos, nos quais andamos mais de cem quilômetros sem sair de suas fronteiras. Poucas vezes fui a Dourados, cercada por uma verdadeira
potência agrícola e singrada por imensos caminhões de grãos e outros produtos que
se dirigiam a Paranaguá. Pisei uma única vez nas cidades geminadas de Ponta
Porã e Pedro Juan Caballero (Paraguai), onde entrei incrédulo num tal Shopping
China (solene templo dos eletrônicos) e vi o comércio bastante ativo nas ruas
de ambas as cidades. Muamba, bom, muamba, muita muamba. As ruas de ambas as
cidades-países guardavam a lembrança de que ali havia uma fronteira, que não
apenas deixa passar, mas também estabelece limites. De ambos os lados eram
general tal, tenente tal, capitán tal e todos por ali, no nome do chão das
cidades, protagonistas da guerra que sacudiu aquela região mais de um século
antes.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
A experiência mais singular, no
entanto, se deu num final de tarde, na rodoviária de <i>New Andradine</i> (nome atribuído pelo meu amigo Marcelo). Esperava um
ônibus que vinha de Dourados para Campinas, quando chegou o transporte. Ao me
dirigir para o veículo, o motorista informou que haveria uma parada de 15
minutos e que esperasse. Então, se desenrolou uma dessas cenas simplesmente
fora de órbita: desceram do ônibus, trajados a caráter, cinco paquistaneses,
com seus tapetinhos e uma bússola. Localizaram Meca e realizaram suas preces
vespertinas. Uma assustada senhora me perguntou, meio sussurrando, se era o
“Bin Lader”, e eu só pude dizer que eram uns primos daquela celebridade. Ao
entrarmos no ônibus, eles mandaram ver no consumo de Coca-Cola e fizeram mais
algumas preces ao longo do caminho. Poucas horas depois, já em Teodoro Sampaio,
uma cidade praticamente nordestina no oeste de São Paulo, os companheiros de
viagem abriram seus tapetinhos para orar, na calçada próxima a um prostíbulo de
beira de estrada, atraindo a atenção de todos os transeuntes que por ali
passavam e importunando o expediente das moças. Algum tempo depois, meu
enciclopédico amigo Paulo Valadares informou que aqueles paquistaneses eram
açougueiros contratados pelo governo da Arábia Saudita para fiscalizar os
abatedouros de gado no Mato Grosso do Sul. Nossa espécie é mesmo muito
surpreendente.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Se nosso tempo é linear, ele
também comporta circularidades surpreendentes. Depois de duas décadas, voltei a
morar em João Pessoa, no extremo oriental do continente. Recriar novas raízes,
refazer minha identidade pessoense e paraibana parecia um novo desafio. Além do
mais, para meu inicial desgosto, o Departamento de História havia me atribuído
a disciplina de História da América II, justamente América, uma daquelas sobre
a qual dissera, em alguma mesa de bar em algum lugar do mundo, o disparate de
que “nunca daria aula, nem amarrado”. Além de queimar a língua tive de me virar
e queimar a cachola para montar um programa de América colonial. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Um ponto de partida foi pensar:
por que, além de não gostar das aulas de minha antiga professora, eu tinha essa
resistência em relação à América? Havia algo mais? E como eu poderia
transformar a disciplina em algo interessante para os alunos se o desinteresse
inicial era meu?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Ante essa inquietação, num
determinado dia, percebi que uma propaganda turística da cidade dava uma pista
para pensar na questão: sermos o ponto extremo oriental do continente não era
algo gratuito. Percebi que olhávamos para o continente a partir de uma
perspectiva, digamos, atlântica. O restante do continente (onde habitamos um
dos extremos) era uma experiência pouco palpável. Não apenas a nossa massa de
ar é oceânica, mas também nossa massa mental acompanha a circulação atmosférica
e parece que estamos – ou pensamos estar – bem afastados da massa continental.<br />
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNGkR6Nzs5jbYDQRyoySQsKTxvUxyF1RXE1ZzjXiJxPy_EaKRNW0DnXoixLbchLLZUY_GV519K_EoLK-wDloHbS2cpGrVw1x_F51dXJUv-VpjW2brNEFLpnqb_SN6QKpuLxmpO9Ruk04c/s1600/Ponta+dos+Seixas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNGkR6Nzs5jbYDQRyoySQsKTxvUxyF1RXE1ZzjXiJxPy_EaKRNW0DnXoixLbchLLZUY_GV519K_EoLK-wDloHbS2cpGrVw1x_F51dXJUv-VpjW2brNEFLpnqb_SN6QKpuLxmpO9Ruk04c/s400/Ponta+dos+Seixas.jpg" height="288" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>A ponta dos Seixas, no extremo do continente, nos induz o olhar para o leste, para o Atlântico. Às nossas costas, está a América. Aqui poderia ser outro "ponto de partida".</i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
Do patrimônio de minha
experiência existencial, descobri que um professor de História também pode
fazer sua descoberta pessoal da América. Aquele pedaço de continente onde vivi,
aquelas estradas nas quais atravessei centenas de quilômetros de carro ou
ônibus, aquelas pessoas ao mesmo tempo muito parecidas e profundamente
diferentes, tudo aquilo era a América que descobri sem perceber e sobre a qual
só tomei consciência quando a experiência do deslocamento e a inquietação do
desafio de professor me levaram a juntar os pedaços. Estamos numa ponta do
continente e temos pouca percepção dos profundos vínculos que acabam nos
ligando a outras terras e outras gentes. Por essas e outras, penso que esse pode
ser um ponto de partida através do qual podemos estabelecer o nosso porto de
Palos para descobrir a nossa América. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7s_H_aSZzyagkqtIQi0eZqtQ5sXMVXqesGec3W8u3Gcj0VqnCy1NJVKJOIJT-JmfrSCp7sdJp6nckYGti-YAq2TEVJ3MadzmgYfvOfRpqmIxXxbS3pZSKvMWEmILzcgH_2hb_x-mQ_DQ/s1600/FORMATURA+01.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7s_H_aSZzyagkqtIQi0eZqtQ5sXMVXqesGec3W8u3Gcj0VqnCy1NJVKJOIJT-JmfrSCp7sdJp6nckYGti-YAq2TEVJ3MadzmgYfvOfRpqmIxXxbS3pZSKvMWEmILzcgH_2hb_x-mQ_DQ/s400/FORMATURA+01.jpg" height="300" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<i>Com os alunos de New Andradine, em sala de aula, sem desconfiar que estava "descobrindo" a América. </i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b>* Para os meus alunos
e bons amigos, que me levaram e possibilitaram a descobrir a nossa América. Para Ivan Leardini, o Honorável Dan, que hoje apaga mais uma velinha. </b></div>
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Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-77736314545680549142012-07-23T14:12:00.002-07:002012-07-23T14:18:33.124-07:00Neandertais conheciam propriedades medicinais das plantas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9MIVng304lHiav52BSg9Qd4GiJCTqF23nnTYASafE6fp2fS5-aK01qIqC7HR17vhQ5z3eCscMVnXI__LlGfaA-TyMe6I_A5Cv6PQ4N7Bz2qTeC0nzOLQO14BhFBQGI2uy8BtkFdDsE20/s1600/Neanderthal.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="191" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9MIVng304lHiav52BSg9Qd4GiJCTqF23nnTYASafE6fp2fS5-aK01qIqC7HR17vhQ5z3eCscMVnXI__LlGfaA-TyMe6I_A5Cv6PQ4N7Bz2qTeC0nzOLQO14BhFBQGI2uy8BtkFdDsE20/s200/Neanderthal.jpg" width="200" /></a></div>
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 19px;">Um grupo internacional de pesquisadores demonstrou que os neandertais que viviam no sítio arqueológico de El Sídron, na Espanha, conheciam as propriedades medicinais e nutricionais de algumas plantas, como a camomila, e incluíam vegetais em sua dieta</span><span style="line-height: 19px;">.</span></span><br />
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<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">A pesquisa, que contou com a participação de especialistas do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha, da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e da Universidade de York (Reino Unido), chegou a estas conclusões a partir da análise do tártaro presente nos dentes de cinco indivíduos adultos e de um jovem da espécie.</span></div>
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<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">Até pouco tempo atrás, pensava-se que os neandertais, que foram extintos há cerca de 30 mil e 24 mil anos, eram predominantemente carnívoros.</span></div>
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<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">No entanto, cada vez mais estudos, como este publicado na revista alemã "Naturwissenschaften", mostram que a espécie também se alimentava de vegetais, sobretudo em latitudes mais ao sul, disse à Agência Efe Antonio Rosas, diretor do grupo de paleoantropologia do Museu Nacional de Ciências Naturais e um dos autores do trabalho.</span></div>
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<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">"Está se observando que sobretudo em latitudes mais ao sul da Europa, como em El Sidrón, os neardentais tinham um componente vegetal nada desdenhável em sua dieta", explicou.</span></div>
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<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">"A carne era claramente primordial, mas nossa pesquisa evidencia uma alimentação bastante mais complexa do que sabíamos até agora", explicou Karen.</span></div>
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<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">A presença de componentes vegetais na dieta da espécie não é a única descoberta do trabalho. Segundo Rosas, foram encontradas evidências de fumaça no tártaro, provenientes, ao que tudo indica, de alimentos feitos à lenha.</span></div>
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<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">O sítio arqueológico de El Sidrón, descoberto em 1994, possui a maior coleção de neandertais da Península Ibérica.</span></div>
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<a href="http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,neandertais-conheciam-propriedades-medicinais-das-plantas,902007,0.htm">http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,neandertais-conheciam-propriedades-medicinais-das-plantas,902007,0.htm</a></div>
<br />Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-24686895670980340262012-05-01T09:46:00.002-07:002012-05-01T10:58:34.678-07:00Por que Dia do Trabalhador e não Dia do Trabalho?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqmu6AWD05GHDXMMAL7KDs3niUEJaS6leG79TuCC6ddW2bX8Pp6xjGZO21dMyVoYYXAtr3g7vM3ofiYBmjnm-8F9IE-5DFqGAhpqLJ-Q0Bnvc8aufKoT4M2ZBFC1BGc0Xl3M2OkJMOLGg/s1600/1%25C2%25BA+de+Maio+03.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="227" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqmu6AWD05GHDXMMAL7KDs3niUEJaS6leG79TuCC6ddW2bX8Pp6xjGZO21dMyVoYYXAtr3g7vM3ofiYBmjnm-8F9IE-5DFqGAhpqLJ-Q0Bnvc8aufKoT4M2ZBFC1BGc0Xl3M2OkJMOLGg/s320/1%25C2%25BA+de+Maio+03.jpg" width="320" /></a></div>
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<i>Dia do trabalhador ou do trabalho? A batalha sobre os diferentes significados da data</i><br />
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Frequentemente, os professores de História se defrontam com a necessidade de discutirem com seus alunos sobre os significados de determinadas datas selecionadas no calendário como comemorativas de determinado acontecimento, celebrizado pela memória popular ou pelas autoridades.
Uma questão nada fácil é estabelecer um tipo de discussão sobre esses significados, que ultrapasse a mera louvação dos heróis da tradição ou que se esgote numa linguagem estéril e panfletária. Ambas acabam por adotar a mesma postura rasa e linear, que apenas inverte alguns sinais de quem são os mocinhos ou os bandidos, mas que não aprofunda e problematiza as questões que devem estar associadas a um ensino de História efetivamente crítico.
A discussão dos significados de certas datas possibilita a problematização de questões que dizem respeito não apenas aos fatos rememorados em si, mas, principalmente, qual a relação que estabelecemos presentemente com essas questões, a partir dos desafios de nosso próprio tempo.
No que diz respeito a uma dessas datas, há certa dúvida sobre sua denominação: afinal, 1° de Maio deve ser chamado de Dia do Trabalho ou Dia do Trabalhador? Esse questionamento é um bom ponto de partida para um professor de História discutir com seus alunos.
A data de 1° de Maio está associada às lutas operárias do século XIX, que tiveram entre uma de suas grandes causas a jornada de 8 horas diárias de trabalho. Um dos grandes problemas que afligia os operários fabris era o das excessivas jornadas de trabalho sem qualquer proteção aos trabalhadores. Muitas fábricas contratavam mulheres e crianças para atividades estafantes, nas quais os acidentes de trabalho eram constantes e as mortes aconteciam com freqüência. Submetidos a brutais condições de trabalho, péssima moradia e alimentação, os trabalhadores buscavam se organizar para reivindicar direitos. As campanhas pela jornada de trabalho de 8 horas (8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas de lazer) se alastraram por vários países e provocaram importantes mobilizações de trabalhadores, apesar da intensa repressão que patrões e autoridades promoviam.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7o8QHQHTn7GL93FuSje97fiqCADDFRQdl74qGigGr-4FLCNwyRn3g8SiMOjkqMw0Ow9gFfu-wksMS7Jy9LJAXeWpgRUJUXi2ZoID7gFsB2hjJalcB-jhwNuTipQQHh5uwBemw4yJcUzc/s1600/1%25C2%25BA+de+Maio+02.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7o8QHQHTn7GL93FuSje97fiqCADDFRQdl74qGigGr-4FLCNwyRn3g8SiMOjkqMw0Ow9gFfu-wksMS7Jy9LJAXeWpgRUJUXi2ZoID7gFsB2hjJalcB-jhwNuTipQQHh5uwBemw4yJcUzc/s320/1%25C2%25BA+de+Maio+02.jpg" width="242" /></a></div>
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<i>A luta pela jornada das oito horas gerou amplas mobilizações em diversos países em todo o mundo</i><br />
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No dia 1° de Maio de 1886, trabalhadores da cidade de Chicago (EUA) promoviam uma manifestação em favor da jornada de 8 horas, quando sofreram ataque da polícia, com saldo de vários mortos e feridos. Nos dias seguintes os protestos se repetiram, culminando com o massacre de Haymarket Square, no qual os trabalhadores foram acusados de atacar a polícia e sofreram brutal repressão e posterior perseguição.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi57ZcQdR9jU3uYob7x7g4dzdcf0-0VXKSKoB3UplxcO-_ERWdECy7DVTP8VZ2bZDKl3lRY3t5NlzJ_cvGYXk7bblH91B0GyaEFEzjkyU8c-p_kBT29Gw5pp67-MTjfrRPwndbQ-RBhKnQ/s1600/1%25C2%25BA+de+Maio+01+B.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi57ZcQdR9jU3uYob7x7g4dzdcf0-0VXKSKoB3UplxcO-_ERWdECy7DVTP8VZ2bZDKl3lRY3t5NlzJ_cvGYXk7bblH91B0GyaEFEzjkyU8c-p_kBT29Gw5pp67-MTjfrRPwndbQ-RBhKnQ/s320/1%25C2%25BA+de+Maio+01+B.jpg" width="320" /></a></div>
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<i>Massacre em Chicago, que se tornou referência para as lutas de trabalhadores em vários países</i><br />
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A data de 1° de Maio passou a ser adotada pelos movimentos operários como momento de luta contra a exploração do trabalho e o reconhecimento de direitos. Em vários países, a comemoração dessa data marcava um importante momento das lutas dos trabalhadores e de manifestação de suas reivindicações.
Ao longo do século XX e início do XXI, no Brasil e em diversos países tivemos momentos de intensas lutas de trabalhadores pela busca de seus direitos, como a busca da proibição da exploração do trabalho infantil, a garantia da seguridade social, a melhoria salarial, entre diversas outras campanhas que mobilizaram gerações de trabalhadores nas cidades e no campo. As greves do ABC paulista, nos finais dos anos 1970, aparecem como um desses importantes momentos de luta, no qual os operários fabris desafiaram seus patrões e a repressão de uma ditadura militar que proibia essas manifestações. Elas marcaram lugar no conjunto das lutas sociais do Brasil nas últimas décadas.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsWZjNHxfPfA8EBM83LCq6UZXSVmd0qpFczSfsM6PIzjVMPTSsgehX3d4_o6uDbWjiSD3Ne2mhDhpDWe5PF9JygRG9WHAEO1bUK-wubj8pdVipVMFlyzaNSX3P-4tllGs_RJFkvUPjVQk/s1600/1%25C2%25BA+de+Maio+04.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsWZjNHxfPfA8EBM83LCq6UZXSVmd0qpFczSfsM6PIzjVMPTSsgehX3d4_o6uDbWjiSD3Ne2mhDhpDWe5PF9JygRG9WHAEO1bUK-wubj8pdVipVMFlyzaNSX3P-4tllGs_RJFkvUPjVQk/s320/1%25C2%25BA+de+Maio+04.jpg" width="320" /></a></div>
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<i>As greves do final dos anos 1970 no ABC paulista foram momentos significativos de luta dos trabalhadores, que desafiaram os patrões e a ditadura militar</i><br />
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Com o passar dos anos, em vez de simplesmente reprimir as manifestações dos trabalhadores – muito embora a repressão ainda seja prática comum –, as autoridades passaram a buscar o controle da data, tentando “domesticar” essas lutas numa homenagem ao trabalho e não aos trabalhadores. Daí decorre essa disputa em torno dos significados da data: para os movimentos de trabalhadores a data corresponde à manifestação de suas lutas, para as autoridades há a tentativa de restringir a data a uma condição oficial de celebração do trabalho.
Em sociedades como a nossa, na qual a superexploração do trabalho é um traço constante, a disputa em torno desses significados do 1° de Maio ganha em atualidade. Certamente o trabalho, como atividade criadora humana, é uma dimensão importante da vida, mas o trabalhador preexiste ao trabalho, ele é que garante esse esforço de criação e recriação da vida e os resultados de seu esforço devem lhe retornar como usufruto dos bens que ele mesmo constrói.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0sNfpaHSLZaoQRYsJVFW9Aw9y9vbQddeGPK9wCrV7EWGuhrCAbuotEhegJVKpgHZJjFuc3Sm9K1nmHABZ3ndY2zSsWOPrscjHnqI1TReozGuhbIWZgP4Y3pwKswHqbymfl73bnOY4PAo/s1600/1%25C2%25BA+de+Maio+05.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0sNfpaHSLZaoQRYsJVFW9Aw9y9vbQddeGPK9wCrV7EWGuhrCAbuotEhegJVKpgHZJjFuc3Sm9K1nmHABZ3ndY2zSsWOPrscjHnqI1TReozGuhbIWZgP4Y3pwKswHqbymfl73bnOY4PAo/s320/1%25C2%25BA+de+Maio+05.jpg" width="320" /></a></div>
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<i>O avanço das novas tecnologias, apesar das promessas de libertação do trabalho estafante, trouxe novas modalidades de superexploração, que afetam trabalhadores das áreas mais avançadas da economia.</i><br />
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<i><br /></i>Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-54906579381343009692012-01-20T07:06:00.000-08:002012-01-20T08:12:56.877-08:00Engenho: escravidão e religião<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBpZXA030ifuCeIO7dWnmq2Kz7ApRpVBj9ySNT5tXsacpPa5RNKdAHe8_VcVd4ihi6G2A_WXAKwl-IOpn7p2m_JRoAQoAvBlj7UMAbaMyIUIiAUml40WaQG5SlcnlWXgCtrJbn229JZ-w/s1600/La+ultima+cena.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 202px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBpZXA030ifuCeIO7dWnmq2Kz7ApRpVBj9ySNT5tXsacpPa5RNKdAHe8_VcVd4ihi6G2A_WXAKwl-IOpn7p2m_JRoAQoAvBlj7UMAbaMyIUIiAUml40WaQG5SlcnlWXgCtrJbn229JZ-w/s320/La+ultima+cena.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5699733216255580178" /></a> <br /><br /><br /><br /><span style="font-style:italic;">O filme sugere ricas discussões acerca da escravidão e das relações de poder.</span><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /> Escrevo esse breve texto logo após assistir ao clássico filme cubano <span style="font-style:italic;">A Última Ceia</span> (La Ultima Cena, direção de Tomás Gutiérrez Alea , 1976). Já fazia bastante tempo que ouvira falar dele, mas assisti-lo parecia sempre um objetivo inalcançável, dadas as diversas tentativas frustradas em obtê-lo.<br /> A ação do filme se passa em um engenho de açúcar nas cercanias de Havana, em finais do século XVIII, durante a Semana Santa. Nesse momento, o Conde, proprietário do engenho, se vê dividido entre as demandas da produção, representadas pelo maestro Don Manuel (o administrador) e as cobranças do Padre, preocupado com as práticas cristãs e a obediência ao calendário litúrgico.<br /> Tomado por profundas angústias e dúvidas, o Conde resolve realizar uma representação da Santa Ceia, determinando a escolha de 12 escravos para desempenharem o papel dos apóstolos, assumindo ele o papel de Jesus Cristo. Pretendia o Conde instilar, através do exemplo, as virtudes da obediência, da resignação e da submissão ao poder do Senhor e do seu senhor. Ao longo de algumas horas de banquete, os diálogos apresentam de forma bastante sutil e não-maniqueísta as diversas idiossincrasias das relações entre senhores e escravos e dos escravos entre si, com suas distintas tradições africanas, rivalidades e táticas de resistência frente ao sistema escravista. <br /> Acompanhar atentamente os diálogos entre o Cristo-conde e seus apóstolos-escravos é uma rica experiência de perceber as dissonâncias e os ruídos na comunicação entre pessoas separadas pelo abismo da opressão. Os pequenos deslocamentos dos sentidos das palavras deixam entrever um quase diálogo de surdos, no qual cada um diz algo que os demais compreendem como querem compreender. Cada risada, cada choro tem múltiplos significados perpassados por uma tensão inerente à condição dos personagens.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuiD630z449QlY3r2cMI1XESmF9_q90cBPuhjDeF8Y97ekDTowrU0At4C0VVkeZxTuXVKS4LWdb7G_GQ9Y1FyDg5SoF249BIJcx-vWIGCNDuTXuK9IHBPxUOSzJKLu8TqLbJe3C6wd4QE/s1600/La+ultima+cena+02.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 179px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuiD630z449QlY3r2cMI1XESmF9_q90cBPuhjDeF8Y97ekDTowrU0At4C0VVkeZxTuXVKS4LWdb7G_GQ9Y1FyDg5SoF249BIJcx-vWIGCNDuTXuK9IHBPxUOSzJKLu8TqLbJe3C6wd4QE/s320/La+ultima+cena+02.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5699732718192806130" /></a> <br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-style:italic;">O Conde-cristo e seus escravos-apóstolos. Diálogo truncado pelas condições concretas da escravidão.</span><br /><br /><br /> Um ponto fundamental é a compreensão de alguns princípios religiosos como bondade, paraíso, salvação, igualdade, entre diversos outros, que são diferentemente apropriados por escravos e senhores e entre escravos em diferentes situações concretas de vivência do cativeiro. O filme nos leva a pensar no brilhante e mais recente livro <span style="font-style:italic;">Coroas de Glória, Lágrimas de Sangue</span> (1998), de Emília Viotti da Costa, que analisou com grande percuciência uma rebelião de escravos acontecida em Demerara (Guiana Inglesa) no ano de 1823, investigando em especial a relação entre a mensagem religiosa e a escravidão e como as diferentes formas de entendimento da mensagem bíblica entre os escravos poderiam incentivar desde comportamentos compassivos até os mais explosivos. <br /> O filme contou com a assessoria do historiador Manuel Moreno Fraginals, autor do clássico <span style="font-style:italic;">O Engenho</span> (1974), obra na qual o autor analisou em detalhes todo o sistema produtivo açucareiro cubano. Podemos observar, alguns aspectos da produção açucareira e da sociedade que se constituiu em torno do grande complexo produtivo do engenho.<br /> A menção a essas obras acima, nos lembra da importância de percebermos como uma boa investigação não pode desprezar as mais diversas dimensões do fazer histórico, que engloba questões mais amplas da economia política e da cultura, sem incorrer nas práticas reducionistas tão comuns nos dias que correm, através das quais apenas se trocam os sinais dos dogmatismos políticos ou economicistas pelos culturalistas, sem perceber que a história que os humanos fazem em sua vida concreta não separa essas coisas. <br /> A Última Ceia é um filme que suscita muitas outras questões além das que apontamos muito brevemente aqui e que merece ser assistido e debatido nas aulas de História ou em outras ocasiões mais informais, nas quais se queira discutir algo um pouco mais interessante do que as últimas fofocas do <span style="font-style:italic;">Big Brother</span>.Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-6900822597538367872012-01-17T14:26:00.000-08:002012-01-17T14:37:59.987-08:00Manifesto da ANPUH sobre medida desastrada do STF<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsNQ4pY6SWg6Xyl4L4o7yQI1eJ_4FO_noYiZCp1MHgYB8c284teCTygewvMcL2uqG96kFkFtvtoxWA3ondwn2tgd1vBVPJBaJ2SUE8uv5EIhYCqetClg4wQbsjlndWF7SRB4tGZszzBPY/s1600/STF.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 222px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsNQ4pY6SWg6Xyl4L4o7yQI1eJ_4FO_noYiZCp1MHgYB8c284teCTygewvMcL2uqG96kFkFtvtoxWA3ondwn2tgd1vBVPJBaJ2SUE8uv5EIhYCqetClg4wQbsjlndWF7SRB4tGZszzBPY/s320/STF.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5698731512747043970" /></a> <span style="font-style:italic;">A venda vermelha no Judiciário, pela ignorância em relação à História.</span><br /><br /><br /><br /><br /><br /> A Associação Nacional de História (ANPUH), através da divulgação do manifesto <span style="font-weight:bold;"><span style="font-weight:bold;"><a href="http://www.anpuh.org/informativo/view?ID_INFORMATIVO=2494">O STF NÃO SABE O QUE É HISTÓRIA</a></span><span style="font-style:italic;"></span></span>, protestou contra medida da Presidência do STF de estabelecer critérios de relevância de documentos, com evidentes fins de descarte dessas importantes fontes para a pesquisa histórica.<br /><br /> Não é de hoje que os Poderes da República manifestam o maior descaso com a salvaguarda dos acervos documentais e são diversas as denúncias de destruição de documentos em todo o país, fruto da incúria com esse patrimônio público.<br /><br /> No documento da ANPUH (acessível através do link do título dessa postagem) são tecidas severas críticas sobre os conhecidos gastos do Judiciário com instalações luxuosas, ao passo que inexiste uma vontade efetiva de investir na preservação dos acervos documentais, que deveria ser preocupação constante de todas as autoridades constituídas.<br /> <br /> Também são tecidas críticas sobre os critérios para definir o que são documentos relevantes para a preservação, uma vez que isso toca em atribuição de certos valores, que tendem a privilegiar grandes personagens e deixar nas sombras as pessoas comuns. Exemplifica-se esse problema chamando atenção para obras que pesquisaram documentos outrora considerados irrelevantes, reconhecidos hoje como de crucial importância para a pesquisa de diversos temas e períodos.<br /><br /> A comunidade dos historiadores deve se manifestar com veemência contra tal tipo de medida, que apenas desserve a historiografia brasileira.Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-77547477798412550282012-01-17T13:27:00.000-08:002012-01-17T13:33:07.771-08:00Arqueólogos encontram selo com mais de 1,5 mil anos em Israel<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNP5wMt7X-8ha47qOqJ-b456-A3i1q8JcV3sj0r2Dxr6FvJYZJRRT3Ku2cDCS6e4m1_O2657Ahi2l_wTXVPyblkKlNws7lRwxM_RKfvYjcPMkODyVA8BsUe6pCTVUOFPQceuCXrYfvmNc/s1600/SELO+ISRAEL.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 288px; height: 212px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNP5wMt7X-8ha47qOqJ-b456-A3i1q8JcV3sj0r2Dxr6FvJYZJRRT3Ku2cDCS6e4m1_O2657Ahi2l_wTXVPyblkKlNws7lRwxM_RKfvYjcPMkODyVA8BsUe6pCTVUOFPQceuCXrYfvmNc/s320/SELO+ISRAEL.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5698716182376818738" /></a> <span style="font-style:italic;">Objeto em forma de candelabro era usado para marcar o pão a ser consumido pelas comunidades judaicas, que viviam sob o Império Bizantino</span><br /><br /><br />Um grupo de arqueólogos israelenses encontrou em Acre, no norte do país, um selo com forma de candelabro utilizado para marcar o pão há mais de 1.500 anos, informou nesta terça-feira, 10, a Direção de Antiguidades de Israel em comunicado.<br /><br />O selo, de pequeno tamanho e feito de cerâmica, deixava sobre a superfície do pão a figura de um candelabro de sete braços como o utilizado no segundo Templo de Jerusalém. Esta era uma forma de marcar o pão destinado às comunidades judaicas da época que viviam sob o Império Bizantino.<br /><br />"Esta é a primeira vez que um selo deste tipo é achado em uma escavação científica controlada, o que torna possível determinar sua origem e sua data", afirmou Danny Syon, um dos diretores da escavação em um povoado rural aos arredores de Acre, cidade notoriamente cristã naquela época.<br /><br />Segundo os arqueólogos, o achado demonstra que os judeus viviam na região e que o pão era marcado para enviá-lo aos que residiam dentro da cidade, uma espécie do atualmente empregado selo "kosher" para produtos que respondem às estritas normas da cozinha judaica.<br /><br />O costume também se assemelha ao dos cristãos da época, que marcavam seus pães com uma cruz. Em letras gregas, ao redor do selo judeu, está o que parece ser o nome do padeiro, "Launtius", comum entre a comunidade judaica da época.Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4712990172579012336.post-35986732170782782462012-01-16T12:50:00.000-08:002012-01-16T12:55:36.431-08:00Acervo do Museu da Música de Mariana é reconhecido pela Unesco<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYTApPLq8BTd2Fez7Tv_J2mTbIsIXb37orhpEblrvRDbM7dxSknxiN5g32VC7hG-HRegRJP_YJceqgaIOlYY9VbyVW9R1if3AExtnMmRBbZqS9mK4MlzDVctKg6W_eZq1ijm_4ih8ShJg/s1600/Museu+da+M%25C3%25BAsica+03.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 250px; height: 170px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYTApPLq8BTd2Fez7Tv_J2mTbIsIXb37orhpEblrvRDbM7dxSknxiN5g32VC7hG-HRegRJP_YJceqgaIOlYY9VbyVW9R1if3AExtnMmRBbZqS9mK4MlzDVctKg6W_eZq1ijm_4ih8ShJg/s320/Museu+da+M%25C3%25BAsica+03.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5698335955606183186" /></a> <span style="font-style:italic;">Museu da Música de Mariana</span><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />A importância do acervo do Museu da Música de Mariana (MG), que abriga mais de 2 mil partituras originais, foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) por meio do Diploma do Registro Regional para a América Latina e o Caribe.<br /><br />O título foi concedido pelo Programa Memória do Mundo, cujo objetivo é identificar e certificar patrimônios documentais de relevância internacional, regional e nacional, facilitando assim sua preservação e acesso pelo público geral.<br /><br />Segundo a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a coleção de música sacra manuscrita do Museu da Música de Mariana, considerada uma das mais importantes da América Latina, estava em condições precárias de conservação e foi recuperada graças ao projeto “Acervo da Música Brasileira”, coordenado pelo professor Paulo Castagna, do Instituto de Artes da Unesp.<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggTBmQMotC5II399cIxkN0vP4XVADt9EWkL5G7nXZj44cNIFJ_xGAbby5WriFreTWmLqfkRJwlJy_Nk23u7Trbb_KFx5OYiEsVSx6Tk67BCaPgqdWQUtsT22oUdtFnmzNV2fNgnNrmngA/s1600/Museu+da+M%25C3%25BAsica.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 250px; height: 170px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggTBmQMotC5II399cIxkN0vP4XVADt9EWkL5G7nXZj44cNIFJ_xGAbby5WriFreTWmLqfkRJwlJy_Nk23u7Trbb_KFx5OYiEsVSx6Tk67BCaPgqdWQUtsT22oUdtFnmzNV2fNgnNrmngA/s320/Museu+da+M%25C3%25BAsica.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5698335698776439298" /></a> <span style="font-style:italic;">Detalhe do acervo do Museu da Música de Mariana</span><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />O projeto revelou ainda peças inéditas de compositores como Lobo de Mesquita, José Maurício Nunes Garcia e João de Deus de Castro Lobo. Outros menos conhecidos, como Miguel Teodoro Ferreira, Frutuoso de Matos Couto e Manuel Dias de Oliveira, também começaram a ter sua memória resgatada.Ângelo Emílio da Silva Pessoahttp://www.blogger.com/profile/05442115380203730278noreply@blogger.com0