quarta-feira, 3 de junho de 2009

Guerreiros africanos no Vice-Reino do Peru.










Certos acontecimentos têm o dom de nos surpreender, parecem trazer elementos insuspeitados e conexões de histórias não percebidas devidamente.
Em 1599, na cidade de Quito, o pintor indígena Adrián Sánchez Galque retratou o chefe guerreiro, filho de africanos, Francisco de Arobe e seus dois filhos em trajes de gala espanhóis. Esses guerreiros, junto com o capitão africano Alonso Sebastián Illescas, haviam sido escravos fugitivos que se internaram com alguns grupos de africanos nas densas matas das Esmeraldas, atual Província das Esmeraldas, ao norte do atual Equador.
Esses africanos fugitivos, juntando-se aos índios da região, formaram o que ficou conhecido como país dos zambos, cujas alianças eram necessárias aos espanhóis e corsários ingleses, que disputavam o controle dessa região, estratégica para a passagem de navios provindos do Peru. O apoio dos zambos era essencial para garantir a segurança da navegação na área. Os corsários necessitavam, ainda, do fornecimento de víveres, pelos habitantes da área, para os seus navios.
Um naufrágio de espanhóis na costa das Esmeraldas em 1598 e sua devolução em segurança às autoridades de Quito, foi pretexto para uma aliança com a Espanha, representada pela concessão de honrarias, entre as quais se destaca o quadro, que apresenta os guerreiros em ricos trajes europeus e adereços de ouro combinando estilos africanos e indígenas.
A ocasião, que reuniu pessoas e elementos culturais africanos, indígenas e europeus na costa do Pacífico, é destacada por Carmen Bernand e Serge Gruzinski em sua obra História do Novo Mundo como um exemplo marcante de mestiçagem cultural que envolveu o processo de colonização, considerando as interações conflituosas ou pacíficas dos diferentes agentes envolvidos.

Ângelo Emílio da Silva Pessoa

Um comentário:

Mirza Pellicciotta disse...

Os processos de mestiçagem observados pela obra Guerreiros Africanos no Vice-Reino do Perú nos levam a pensar em diferentes direções. Por um lado, para seus desdobramentos: na atualidade, temos dificuldade de perceber a presença africana no universo cultural peruano; por outro, para a força e vitalidade dos mesmos processos: é através deles que conseguimos perceber a constituição de territórios culturais específicos no interior de Estados como Goiás, Tocantins, entre outros.