Antiga Igreja Matriz de São João Marcos
Flávia Salme, iG Rio de Janeiro | 08/06/2011
Submersa há 70 anos, cidade histórica do Rio volta à tona. Após ser lançado ao ostracismo, distrito de São João Marcos inaugura hoje o primeiro centro arqueológico urbano do Estado do Rio de Janeiro.
Da riqueza e desenvolvimento à miséria. Do posto de “exemplo intacto de arquitetura colonial” a uma área submersa e reduzida a escombros, o pequeno distrito fluminense de São João Marcos jamais esmoreceu.
Depois de ostentar a glória de ter sido o segundo município mais populoso do Estado, com cerca de 20 mil habitantes (no século 19), e de ser o primeiro do País tombado pelo valor arquitetônico de suas construções pelo então Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), São João Marcos – na região do Vale do Paraíba – foi esvaziado para dar lugar a uma barragem (no século 20). Na época, 1940, o presidente Getúlio Vargas queria superar os entraves que impediam o progresso da capital.
Era preciso gerar energia elétrica e melhorar o abastecimento de água do então distrito federal, e coube a São Marcos dar à luz esse sonho. Engenheiros da Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company, a companhia de eletricidade do Estado, concluíram que a melhor opção seria criar uma represa e uma hidrelétrica na região. Mas São João Marcos estava no meio do caminho. Para o projeto ir à frente, seria necessário inundar a maior parte da cidade (pelo menos 90 fazendas).
Para afugentar os moradores que insistiam em ficar na parte que não foi inundada, a arquitetura local – “destombada” pelo próprio Vargas – foi pelos ares. Nem o cemitério ficou imune (este, em vez de implodido foi remanejado). “Depois disso apareceram certas árvores na cidade, conhecidas como mulungus, que dão flores vermelhas. A população local acredita que é o sangue de moradores tristes com o fim do lugar”, conta Luiz Felipe Younes, coordenador do parque.
Ruínas do antigo Teatro
A visitação inclui o ossuário da Igreja Matriz, parte da estrutura do Teatro Tibiriçá, trechos da antiga Estrada Imperial e suas pontes de pedra, além de cerca de duas mil peças descobertas nas escavações como louças, moedas, objetos pessoais, porcelanas e tijolos mais brutos.
O parque, localizado a 128 km da capital fluminense, conta com 930 mil metros quadrados. São 3 quilômetros com sinalização (de posição, ambiental, histórica e arqueológica). Historiadores, museólogos, arqueólogos, arquitetos, paisagistas, passaram quatro anos dedicados à missão.
Conhecer o lugar não custa nada. A entrada é franca. As visitações poderão ser feitas de quarta-feira a domingo, das 10h às 16h. Será preciso percorrer dois quilômetros da Estrada Imperial (que ligava Minas Gerais à cidade litorânea de Mangaratiba, no Rio).
Além de trilhas e das ruínas históricas da ex-cidade – passeio que dura cerca de 40 minutos –, os turistas encontrarão um Centro de Memória que conta de forma lúdica o passado, além dos resultados das pesquisas históricas e arqueológicas. Há ainda um anfiteatro e cafeteira.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
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